Ana 18/02/2024
Tudo o que eu achei sobre o livro
Por adorar defender o trabalho alheio, sempre que eu me deparo com uma leitura que acaba se mostrando muito arrastada, eu tenho o hábito de me perguntar: é o livro ou sou eu? e nesse caso, apesar de achar que tenho andado muito distraído durante meus momentos de leitura, preciso admitir que a autora definitivamente não estava com pressa em fazer algo de substancial acontecer na história para fisgar o leitor. o livro começa dividindo informações importantes, que fazem as expectativas subirem rapidamente, então nas páginas seguintes as coisas esfriam e permanecem mornas até aproximadamente 75% do texto.
a história começa com blue, uma adolescente com uma vida comum, a não ser por ser uma não-médium vivendo em uma casa cheia de médiuns e a tãããão falada profecia envolvendo a sua vida, que diz que quando ela enfim beijar o grande amor da sua vida, ele morrerá. ainda do ponto de vista dela, conhecemos outra espécie de profecia envolvendo o caminho dos mortos, um local que se torna uma peça muito importante. e essas questões vêm a se tornar o grande chamariz do livro.
Com o passar das páginas, também somos apresentados aos garotos corvos, gansey, adam, ronan e noah, que buscam por algo sobrenatural: uma linha de ley que, supostamente, atravessa henrietta, cidade onde se passa a história, e promete guardar um antigo e poderoso rei adormecido.como o esperado, os núcleos pedem para se chocar. blue precisa se tornar parte do grupo dos garotos corvos para que as engrenagens da história comecem a girar, mas o que mais me incomodou foi a demora para essa dinâmica enfim acontecer e o quão lentas as coisas continuaram mesmo após. acaba sendo como ler sobre amenidades envolvendo as vidas de adolescentes excêntricos: blue e o seu drama particular envolvendo um lar incomum e cheio de segredos, profecias e incertezas que não se desenvolvem.
Gansey e os amigos, que parecem formar uma família disfuncional da qual este faz extrema questão de ser a figura patriarca e protetora. tudo isso é interessante, mas o excesso acabou tornando algumas passagens e descrições muito repetitivas, monótonas e caricatas e eu gostaria que todo o trabalho envolvendo apresentar as personagens fosse mais permeado de momentos que contribuíssem de fato para o andamento da história, você não come uma garfada de arroz e depois uma de feijão separadamente, você mistura os dois e forma algo melhor em todos os sentidos.agora falando um pouco sobre o texto em si, achei a escrita um pouco rebuscada e específica demais, e eu raramente vejo isso como um ponto ruim, porém, somada ao enredo extremamente morno e monótono, imagino que talvez não tenha sido a melhor escolha para prender o leitor. além disso, preciso ressaltar os cortes abruptos entre os acontecimentos, a autora saía de uma cena para outra sem a menor explicação sobre o desfecho, o que me causou certa estranheza em diversos momentos ? uma hora uma personagem está aqui e puf? agora já tá lá, olha só, tutu pom?! imagino que o livro seria muito mais extenso sem esse pequeno ? artifício?, mas talvez ela pudesse ter deixado para economizar páginas em outros trechos
menos proveitosos.também preciso falar da mitologia bastante específica e nada intuitiva que acaba sendo a base desse universo especulativo. muito do que foi mostrado não passou de mera teoria, o que dificultou muito a minha compreensão lógica do que estava acontecendo e especulação sobre o que estava para acontecer, diferentemente de outras fantasias como os instrumentos mortais e percy jackson, que mostram na prática como tudo funciona, além de já terem elementos que permeiam a nosso imaginário e cultura. falando um pouco sobre ?vilões?, sem nem ao menos me extender citando a falta de carisma, as figuras que se levantaram como possíveis antagonistas também não revelaram tanta presença e o seu propósito quanto eu gostaria de ter visto, mas acredito que esse ponto em especial deve ser melhor desenvolvido nos próximos volumes.apesar de alguns esteriótipos e dos momentos caricatos, a autora conseguiu construir personagens que cativam, só gostaria de vê-los um pouco mais em ação por si próprios e não empurrados pelas circunstâncias como ocorreu em todo o livro. mesmo blue, com todas as nuances extraordinárias em sua vida não pareceu se mover sozinha tanto quanto poderia, todas as suas ações tinham um propósito maior, o que limitava que ela demonstrasse quem ela era e o que ela queria para si mesma. sinto que talvez fosse interessante ver os personagens em situações que não fossem ideia do gansey ou consequência delas.
agora mirando no que o livro promete, é engraçado pensar como todo o hype por trás dele se baseia na profecia sobre a blue e sobre o que ela vê no caminho dos mortos e perceber que isso acaba não sendo tão relevante no final das contas. essas questões acabam ficando enterradas sob camadas e camadas de acontecimentos e sentimentos conflitantes durante todo o livro, aliás, o romance em si mal é uma questão nesse primeiro volume, o que me incomodou bastante, já que nada pareceu engatar o suficiente a ponto de cativar e instigar para o que vem a seguir. todas as resoluções nesse sentido foram simplesmente empurradas para os próximos volumes sem uma prévia definida.