Ricardo 12/10/2012
GEN - Pés Descalços
A principal qualidade de um autor, ao meu ver, é poder nos transportar calçados em suas palavras à lugares, situações e tempos que desafiam nosso olhar, como turistas de realidades distintas, boas ou ruins. O ser humano moderno, tem como característica cultural, o voyeurismo da dor e do prazer. Trago como lembrança as páginas "A Peste" de Albert Camus e sua neblina quase palpável da angústia em face ao horror da morte que pacientemente rondava com sua presença perene, quase hipnótica. GEN é um exemplo dessa face magnética e sombria que nos impõe seus cenários com dois aportes únicos: o primeiro é o uso da linguagem dos quadrinhos, que traz velocidade a leitura sem desprezar o peso da mensagem na força quase infantil do traço de Keiji Nakazawa, tornando fluido o texto de chumbo; o segundo, senhores, reside no fato do autor ter testemunhado todo aquele horror que foi o Japão, mais precisamente na cidade de Hiroshima, nos dias que antecedem e no fatídico dia 06 de agosto de 1945,em que o Enola Gay abandonou a morte encapsulada em forma de arma, tatuando as almas dos sobreviventes, como Keiji, com o terror. A arte, bendita arte, tem o poder de transformar tanta dor e revolta em uma mensagem de paz, nossa necessidade primeira. Sempre achei que obras como esta deveriam ser obrigatórias para afastar de vez o fantasma da guerra das novas gerações. Fica a mensagem de quão monstruoso e assombrosamente forte e generoso poder ser o seu humano. Boa leitura!