Arthur 29/08/2017O Clube do Livro do Fim da Vida: um tratado sobre o poder e a importância da leituraO Clube do Livro do Fim da Vida, publicado no Brasil pela editora Objetiva em 2013, é, conforme um possível subtítulo que consta na capa do livro, “uma história real sobre perda, celebração e o poder da leitura”. O autor, Will Schwalbe, conta como surgiu um despretensioso clube do livro. Em 2007, após retornar de uma viagem ao Afeganistão, para onde havia ido como voluntária em um projeto de uma fundação que pretendia montar bibliotecas no referido país, sua mãe, Mary Anne, começa a apresentar sintomas que, a princípio, são diagnosticados como hepatite. Porém depois descobre-se que ela estava com câncer metastático no pâncreas. Will decide passar a acompanhar a mãe nas sessões de quimioterapia. Na primeira sessão em que faz companhia a ela, enquanto aguardavam na sala de espera, tem-se início o clube do livro de dois participantes (mãe e filho), graças a uma pergunta “quebra-gelo” que ele dirigiu à mãe: “O que você está lendo?”. Conforme ele mesmo afirma no livro, pode parecer “uma pergunta um tanto pitoresca hoje em dia”, pois como vai se saber se alguém está realmente lendo algo? Entretanto, trata-se de uma pergunta que ele e a mãe costumavam fazer um ao outro.
Os livros sempre tiveram forte presença e influência em suas vidas, sendo mais do que natural que os escolhessem como elo de comunicação, visto que sempre havia sido (“Quase todas as conversas mais antigas que lembro de ter tido com meus pais foram sobre livros”). Ele: um editor de uma grande editora de livros, sempre envolto no mundo literário, porém, desde pequeno, já imerso nele pelos pais. Ela, uma ex-professora, voluntária envolvida em diversas causas sociais, alguém que “sempre buscava refúgio nos livros”. A paixão de ambos pela leitura faz com que tornem os livros instrumentos para lidarem com essa difícil fase – na verdade, até mais que isso, que transformem os livros em portais para uma realidade só deles dois (“os livros forneciam um tão necessário lastro – algo pelo qual ambos ansiávamos, em meio ao caos e tumulto da doença dela”).
A lista dos títulos que foram pauta desse insólito clube do livro é extensa e diversificada: abrange obras clássicas, poéticas, religiosas, de autoajuda, biográficas, fantásticas, infantis... Durante os dois em que Mary Anne foi submetida ao tratamento quimioterápico, mãe e filho, norteados pelos caminhos que a leitura lhes abria, mantiveram profundos diálogos sobre diversos assuntos, inclusive sobre eles mesmos e a relação que possuíam (“Pode-se dizer que o clube do livro se tornou nossa vida; mas será mais preciso dizer que nossa vida se tornou um clube do livro. Talvez sempre tivesse sido um – e foi preciso a doença da mamãe para nós percebermos. Não falávamos muito do clube. Falávamos dos livros, e falávamos de nossas vidas”).
O Clube do Livro do Fim da Vida não é apenas uma belíssima homenagem de um filho à memória de sua mãe, mas também um tratado sobre o poder e a importância da leitura. Apresenta uma dura realidade que é amenizada pela magia das letras, assim como uma relação familiar que é aprofundada graças a uma conexão literária. Em um contexto em que se preza cada vez mais a síntese, a fluidez e a dinamicidade, tendo a leitura “concorrentes” cada vez mais atrativas, esse livro traz duas mensagens importantíssimas. A primeira é que dedicar-se à leitura de um livro não é sinônimo de inação, menos ainda de perda de tempo, mas de aquisição de conhecimento, sendo, inclusive, uma forma de manter a mente, a criatividade, o senso crítico vivos (“Todos temos mais para ler do que podemos ler, e muito mais para fazer do que podemos fazer. Mesmo assim, uma das coisas que aprendi com minha mãe é isto: Ler não é o oposto de fazer; é o oposto de morrer.”). A segunda é que a beleza e a magia de um texto e um livro são mais potentes do que se possa imaginar, que os seus efeitos vão além do que pode captar nosso consciente, fixando-se em nós e transformando-nos com suas palavras, por isso, a importância de se dedicar à leitura (“Na verdade, sempre que você lê algo maravilhoso, isso muda sua vida, mesmo se você não estiver ciente”).