Julia G 01/08/2011O Filho Eterno - Cristovão Tezza Resenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
Muito diferente da maior parte dos livros que já li, O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, publicado em 2007, não é, por isso, menos interessante. Tenho que admitir que não se trata de um livro que nos faz perder o sono de curiosidade, mas o aspecto extremamente sincero dos relatos do autor nos faz querer entender qual o propósito daquilo que escreve.
A história, apesar de classificada como romance e de ser narrada em terceira pessoa, é dita por muitos como um relato auto biográfico de Tezza. A narração em terceira pessoa, em razão disso, serve como um amparo à imagem do autor: é que o livro nos mostra, sem pudores, os pensamentos mais sombrios de um pai em relação às consequências do nascimento de um filho com síndrome de Down.
O início se dá no momento do nascimento - a ideia do pai de que sua vida está começando naquele momento, os planos para um futuro com o filho, a ansiedade na sala de espera. Despido de máscaras, Tezza narra as ações automáticas que o pai espera de todos à sua volta, a vida que leva quase como um espectador, a falta de saber como reagir com a notícia de um filho - como era chamado até então - mongol. Conta também sobre o fato de ser escritor que tem seus escritos diversas vezes recusados pelas editoras, de continuar tentando mesmo assim, e de ser sustentado pela mulher, ao tempo em que lembra seus ideais da juventude e o que esperava para si próprio.
O pai aprende, entretanto, que nada disso é fácil, mas é recompensante. Percebe que ama o filho independente das diferenças, e conta que, mesmo com a mentalidade sempre infantil e a ingenuidade de Felipe, ambos descobrem um gosto em comum: o futebol.
Em razão de ser um livro totalmente introspectivo, há momentos em que temos que voltar para ler um trecho novamente, principalmente considerando algumas figuras de linguagem pouco comuns utilizadas pelo autor. É exatamente por isso, contudo, que o texto se torna tão intenso e único. Uma leitura diferente, mas que vale a pena conferir.