O filho eterno

O filho eterno Cristovão Tezza




Resenhas - O Filho Eterno


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Leila de Carvalho e Gonçalves 18/07/2018

Traços Autobiográficos
Publicado em 2007, ""O Filho Eterno", de Cristóvão Tezza, é um livro com traços autobiográficos que exibe o relacionamento de um pai com seu filho, portador da Síndrome de Down, cujas limitações e deficiências são expostas com clareza.

O texto também revela os sentimentos "mesquinhos" do alter ego do autor. Conduzido pelo ressentimento e a vergonha, ele até mesmo tenta se consolar, fantasiando a morte do recém-nascido. Como afirma Tezza: "um pai que nada mais é do que a versão exacerbada de mim mesmo".

Dividido em vinte e cinco capítulos não numerados, em paralelo, o romance apresenta a formação literária e profissional desse homem que não passa de um escritor fracassado e meio hippie que vive, de recusa em recusa, tentando encontrar uma editora que lance seus livros.

Felipe, o filho, é um duro golpe para quem tem a pretensão de ser um outsider. Seu dia a dia com esse menino trissômico, que não entende as abstrações temporais mais simples, é uma espécie de provação e essa difícil convivência é o fio condutor da história.

"O Filho Eterno" também é um romance de amor e gratidão. "O amor como consequência do tempo necessário para estabelecer e estreitar laços e a gratidão como forma de traduzir a lição aprendida." É também o relato da "dor irredimível" de Tezza que, ousado, tem a coragem de inserir sua própria história no contexto de uma criação literária.

É com a epigrafe do livro que concluo meu comentário:

"Queremos dizer a verdade e, no entanto, não dizemos a verdade. Descrevemos algo buscando fidelidade à verdade e, no entanto, o descrito é outra coisa que não a verdade." (Thomas Bernhard)

Até a próxima!
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Davi.Rezende 02/07/2018

REBUSCADO, MAS COM ABORDAGEM SINCERA. OS PRÊMIOS SÃO INJUSTIFICADOS.
O que primeiramente chama a atenção ao ler o livro é sua escrita um tanto rebuscada, principalmente nos primeiros capítulos, o que quase me fez desistir. Claramente o autor quis enfeitar. Felizmente, isso foi diminuindo ao longo dos capítulos, sem, no entanto, cessar. Tenho comigo que não há uma só justificativa razoável para escrever difícil um romance cujo objetivo é narrar uma história que, no caso, seria meia ficção e meia fatos, segundo o autor. Portanto, o rebuscamento é um ponto negativo que, inclusive, dificulta o entendimento de diversas frases.

De ponto positivo, entretanto, temos uma ABORDAGEM (não a escrita, que já disse que é rebuscada) sincera da história de um filho com Síndrome de Down, anteriormente chamada de mongolismo, relatando esse tema que no seu âmbito familiar é um grande tabu ou envolto em mentiras ou falsas impressões. O que o torna até POLITICAMENTE INCORRETO, por mais que o autor já tenha declarado em entrevistas que o livro é considerado em parte ficção justamente porque ele não seria daquele jeito "monstruoso" como muitas vezes aparece, desesperado de ter que carregar aquele peso nas costas (o peso eterno), de um filho "inútil", uma vergonha, ou diversos outro termos depreciativos que ele - ou o personagem - não hesita em dizer ao longo de todo a história, inclusive o desejo que seu filho morresse (e com ele o problema).

A impressão que se tem é que o autor refletiu sim, no personagem, o que ele sentiu ou ainda sente em relação ao filho e seu problema genético. E por isso mesmo, narra em terceira pessoa dentro do gênero romance: para poder ter o distanciamento necessário tanto para abordar um tema delicado pessoal (ele mesmo afirmou), mas também - na minha opinião - para ser sincero ao mesmo tempo que usa um escudo politicamente correto provido pelo manto da ficção. Afinal de contas, de onde o autor tirou aquelas impressões e sentimentos terríveis em relação ao filho, senão da própria consciência? Claro que com alguns exageros poéticos, talvez, mas acredito que foi mais ou menos aqueles os sentimentos que teve.

Dessa forma, a obra é rebuscada e sincera ao mesmo tempo: escrita vaidosa - mas inteligível - com abordagem sincera.

E, politicamente INCORRETO e politicamente CORRETO, também ao mesmo tempo: politicamente incorreto ao confessar os sentimentos em relação ao problema do filho, mas vestindo o manto da ficção para se eximir de qualquer "responsabilidade" ou linchamento público. Curiosamente - como também imaginou o autor - o livro não foi criticado por causa disso, e até ganhou diversos prêmios, o que explico logo adiante.

Para um bom entendedor - ou leitor - creio que não há como tergiversar.

Interessante também notar que dentro dessa sinceridade "disfarçada", outras "verdades" delicadas sobre o autor também vieram à tona, como os furtos que cometia quando morava em Coimbra (Portugal) e a militância esquerdista.

Essa militância - ou talvez mera simpatia ou alinhamento, não sei ao certo - é o que explica os prêmios que recebeu pela obra que, na real, é simples, e que passaria batido escrito por qualquer autor desconhecido sem fazer parte da patota que, tragicamente, há mais de 30 anos dominou o cenário cultural brasileiro - e provavelmente na maior parte do mundo - elegendo sempre seus amigos camaradas como estrelas, seja na literatura, na música, no cinema, nas artes plásticas, etc; criando mitos e concedendo a esses, os "prêmios". Aliás, o livro conta esse caminho árduo e demorado do autor até conseguir publicar alguma obra, o que só veio acontecer depois de fazer parte da turma da esquerda e tornar-se professor de universidade pública, muito provavelmente também em decorrência desses contatos no meio acadêmico dominado pelas ideologias esquerdistas.

Qualquer pessoa com um pouco de senso crítico e informação percebe que o livro não tem robustez e que ele próprio explica, com base nos relatos pseudofictícios, como isso se deu.

Outro defeito é o seu encerramento abrupto, sem maior desenvolvimento. Por outro lado, é um livro curto.

Nota: 5, REGULAR.

Início:17-05-2018
Término: 22-06-2018

Empréstimo da Biblioteca Sesc Ribeirão Preto-SP.
Felipe.DCastro 24/01/2019minha estante
Olá, Davi!

Com todo respeito, mas colocar a ?escrita rebuscada? como defeito em um romance e dizer que a prosa do Tezza é inteligivel é, antes de tudo, um problema de recepção. Isso é literatura, não jornalismo.
Outra coisa, avaliar a qualidade do livro a partir do conceito do politicamente correto é cair num senso comum enorme, porque, repito, isso é literatura, logo o que o autor acha ou deixa de achar, o que ele fez ou deixou de fazer não deve influenciar em nada sobre a qualidade de sua literatura. O leitor julga a obra, e não o autor.

Abraço!




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Carolina 04/09/2017

Expectativa romântica
Ao iniciar a leitura, criei uma enorme expectativa em relação ao desenvolvimento da relação entre as personagens principais do livro: pai e filho. Porém, minha expectativa "romântica" não foi atingida (e tudo bem!): o livro começa e termina tratando "praticamente" da mesma maneira os sentimentos que permeiam essa história. Se a obra começa revelando um "pai de primeira viagem perdido", ela acaba assim também, afinal esse pai não se mostra "perdido" porque tem um filho com síndrome de Down e sim, porque se sente um outsider na sociedade dita "normal", comum. A escrita é fluida, informal e os fluxos de consciência apresentam características históricas importantes dos anos retratados no enredo.
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Ferreirinha 24/05/2017

Senti que faltava algo
O início do livro tem uma dinâmica bem interessante. A narrativa é forte, coloca muito o sentimento do autor diante da situação de ter um filho especial. Depois me senti meio deslocada da história. Os problemas não se aprofundaram, a mãe some da história e ela gira em torno basicamente de pai e filho. Obviamente que por não ser ficção não se pode esperar um "fim impactante" mas não sei também se gostei como ele aconteceu.
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Naty 15/05/2017

Um livro que me chocou, logo de início, primeiramente pelo tema que trata e, depois, mas não menos importante, pela forma como aborda.
Li esse livro para fazer o vestibular UFU e achei ele bem interessante. Ele revela muito do que qualquer pai ou mãe de filhos com síndrome de Down ou qualquer outro tipo de dificuldades especiais pensam. As dificuldades são muitas e a forma como cada pessoa lida com a notícia é sempre diferente. No caso do livro, o pai estava totalmente despreparado para isso e, consequentemente, rejeita o filho torcendo até mesmo para que ele morra.
Na maior parte do livro, ele demonstra uma imensa vontade de que o filho seja normal, desapareça da vida dela e coisas desse tipo. Até tenta um treinamento que forçaria filho a desenvolver capacidades motoras e de linguagem.
E é aí que você que está lendo essa resenha fala: Vixe! E isso é livro que eu queira ler? Um pai que odeia um filho só porque ele é diferente? Um pai que quer mudar o filho e melhorar suas capacidades só porque não as acha compatíveis com o normal? O que é ser normal, afinal?
E é aí, também, que você deve compreender que o autor conseguiu demonstrar. Ele demonstra o que qualquer pessoa, numa cultura como a nossa, pensaria. Ninguém deseja ter uma criança assim. Ninguém está copletamente pronto.
Em resumo, gostei bastante do livro. Não vou dizer que o amei em sua totalidade, mas ele é bem realista e isso é mais do que inovador. Além de que a linguage que ele adota e as divagações que o pai, na voz de um narrador onisciente, faz são bem interessantes. Isso não quer dizer que eu concorde com todas as suas conjecturas, mas que ele tem bagagem para falar, tem. Ele cita quase todos os livros clássicos da istória e, em cada uma de suas argumentações, dá para se perceber a mistura de argumentos com os de outros autores consagrados. Ou seja, não é uma leitura fácil para quem não tem bagagem. É uma leitura complexa e que exige interesse. É um livro, realmente, bem interessante.
Percebi também uma crítica do autor aos modos dos médicos, pois, na época, eles agiam de maneira mecanica e não ajudavam os pacientes em seus embates pscicológicos e dificuldades em encarar problemas como o de ter um filho com Síndrome de Down. Eles apenas diziam características provenientes dessa mutação do cromossomo 21 e só.
Outra coisa muito interessante é o crescimento conjunto entre pai e filho. Ambos não se encaixam perfeitamente à sociedade, ambos rompem padrões sociais e, ao longo do livro, eles parecem se unir em seus embates contra essas barreiras. Relação entre pai e filho que, de início não era nada boa, mas vai amadurecendo e criando laços inseparáveis. O que gera, enfim, o filho eterno.
A seguir, apresentarei alguns trechos que gostei:
"Súbito, a porta se abre e entram os dois médicos, o pediatra e o obstetra, e um deles tem um pacote na mão. Estão surpreendentemente sérios, absurdamente sérios, pesados, para um momento tão feliz — parecem militares. Há umas dez pessoas no quarto, e a mãe está acordada. É uma entrada abrupta, até violenta — passos rápidos, decididos, cada um se dirige a um lado da cama, com o espaldar alto: a mãe vê o filho ser depositado diante dela ao modo de uma oferenda, mas ninguém sorri. Eles chegam como sacerdotes. Em outros tempos, o punhal de um deles desceria num golpe medido para abrir as entranhas do ser e dali arrancar o futuro. Cinco segundos de silêncio. Todos se imobilizam — uma tensão elétrica, súbita, brutal, paralisante, perpassa as almas, enquanto um dos médicos desenrola a criança sobre a cama. São as formas de um ritual que, instantâneo, cria-se e cria seus gestos e suas regras, imediatamente respeitadas. Todos esperam."
" Cada coisa que há no mundo! Crianças cretinas — no sentido técnico do termo —, crianças que jamais chegarão à metade do quociente de inteligência de alguém normal; que não terão praticamente autonomia nenhuma; que serão incapazes de abstração, esse milagre que nos define; e cuja noção do tempo não irá muito além de um ontem imemorial, milenar, e um amanhã nebuloso. Para eles, o tempo não existe. A fala será, para sempre, um balbuciar de palavras avulsas, sentenças curtas truncadas; será incapaz de enunciar uma estrutura na voz passiva (a janela foi quebrada por João estará além de sua compreensão). O equilíbrio do andar será sempre incerto, e lento; se os pais se distraem, eles engordarão como tonéis, debaixo de uma fome não censurada pela sensação de saciedade, que neurologicamente demora a chegar. Tudo neles demora a chegar. Não veem à distância — o mundo é exasperadamente curto; só existe o que está ao alcance da mão. São caturros e teimosos — e controlam com dificuldade os impulsos, que se repetem, circulares. Só conseguirão andar muito tempo depois do tempo normal. E são crianças feias, baixinhas, próximas do nanismo — pequenos ogros de boca aberta, língua muito grande, pescoços achatados, e largos como troncos. Em poucos minutos — ele não pensou nisso, mas era o que estava acontecendo — aquela criança horrível já ocupava todos os poros de sua vida."
"Não há mongoloides na história, relato nenhum — são seres ausentes. Leia os diálogos de Platão, as narrativas medievais, Dom Quixote, avance para a Comédia humana de Balzac, chegue a Dostoiévski, nem este comenta, sempre atento aos humilhados e ofendidos; os mongoloides não existem. Não era exatamente uma perseguição histórica, ou um preconceito, ele se antecipa, acendendo outro cigarro — o dia está muito bonito, a neblina quase fria da manhã já se dissipou, e o céu está maravilhosamente azul, o céu azul de Curitiba, que, quando acontece (ele se distrai), é um dos melhores do mundo — simplesmente acontece o fato de que eles não têm defesas naturais. Eles só surgiram no século XX, tardiamente. Em todo o Ulisses, James Joyce não fez Leopold Bloom esbarrar em nenhuma criança Down, ao longo daquelas 24 horas absolutas. Thomas Mann os ignora rotundamente. O cinema, em seus 80 anos, ele contabiliza, forçando a memória, jamais os colocou em cena. Nem vai colocá-los. Os mongoloides são seres hospitalares, vivem na antessala dos médicos. Poucos vão além dos... quantos anos? Ele pensou em 10 anos, e calculou a própria idade, achando muito; talvez 5, fantasiou, vendo imediatamente uma sequência rápida de anos, os amigos consternados pela sua luta, a mão no seu ombro, mas foi inútil — morreu ontem. Sim, não resistiu. Voltariam do cemitério com o peso da tragédia na alma, mas, enfim, a vida recomeça, não é? Um sopro de renovação — como se ele tivesse existido apenas para lhes dar forças, para uni-los, ao pai e à mãe, sagrados. "
"Havia muita coisa em jogo, é verdade — mas o grande motor era a vergonha. A vergonha regula do catador de lixo ao presidente da República. É uma chave poderosa da vida cotidiana: esses políticos deviam é ter vergonha na cara!, nós dizemos todos os dias, o que é um mantra que nos redime e nos tranquiliza. Como se fosse a mesma coisa, agora ele sentia vergonha, embora a palavra, por algum mistério, não lhe aflorasse, o som da palavra em sua simplicidade, como se alguma coisa tão absurdamente simples, vergonha, não pudesse fazer parte de sua vida (só os medíocres sentem vergonha, ele recitava) — o que chegava à pele, o que queimava, era o sentimento insuportável de alguma coisa errada. E alguma coisa errada não com o filho, mas com ele mesmo. A criança dorme, a mãe agora também dorme, e ele acende outro cigarro, no escuro. A mulher tem razão: ela acabou com a vida dele, ele suspira, concordando, e sente-se misteriosamente mais tranquilo."
"Nada do que não foi poderia ter sido. Não há outro tempo sobre esse tempo.
Amanhã e amanhã é uma escada curva. Ninguém abre a porta ainda em modelo. Hoje ouvimos os ratos roendo o outro lado. Ninguém chegou lá, porque hoje é aqui.
Mas o sonho insiste o sonho transporta o sonho desenha uma escada reta.
Quando cortas o pão o depois-de-amanhã não te interessa. Mesmo que sabes: todas as forças
estão reunidas para que o dia amanheça."
" o jovem, que jamais concluiria o segundo grau, lhe diz enrolando a língua: Você é tão inteligente, e não conseguiu nem fazer um filho direito. Ele ouve uma risada, que ainda faz eco. "
" A médica não sorri. Ela é uma porta-voz impessoal da ciência, e tem a obrigação de dizer as coisas exatamente como elas são, e as coisas não são boas, porque não são normais e fogem de todas as mediçõespadrão em todos os aspectos: uma trissomia do cromossomo 21, que se manifesta, agressiva, em cada célula do bebê. É isso. Levem o seu pacote, ela parece dizer, quando enfim sorri o seu sorriso profissional. Dizer as coisas como elas são: não reclame, ele se vê pensando. Você quer ouvir uma mentira, e isso a médica não tem para dar. Você quer um gesto secreto de piedade, disfarçado pela mão da ciência, e isso também está em falta. Há séculos as funções da vida já se separaram todas, cada uma em sua especialidade. O que ela tem a dizer, além de descrever cientificamente a síndrome, é o que você pode fazer pela criança, mas não espere muito disso; no máximo você vai tornar as coisas suportáveis. Você não é nem o único, nem o último. "
"Ainda não é exatamente um filho. O pai não sabe disso, mas o que ele quer é que aquela criança trissômica conquiste o papel de filho. A natureza é só uma parte da equação. À noite, no bar, o pai se transfigura sob a cerveja e o cigarro, num otimismo romanesco. Decorou a sequência do amadurecimento neurológico, que passa a ter para ele o caráter de uma fórmula matemática — o túnel da linha de produção —, e explica didaticamente, a quem quiser ouvir, como em pouco tempo, talvez dois ou três anos, o seu filho será uma criança normal. Fala com a mesma compulsão obsessiva com que, às vezes, volta a descrever aspectos da perfeição do jogo de xadrez, em que foi viciado num curto período da adolescência, até que dele se livrasse para sempre depois de uma incontrolável crise de choro diante de uma derrota. É claro — ele explica, sentindo a falta de um quadro-negro, naquela zorra do bar, para melhor eficiência da explicação — que você tem de recuperar o atraso neurológico, por meio de sobre-estímulos. Ora, se a criança normal precisa ouvir apenas dois ou três sons agudos para dominar a reação instintiva a esse som, uma criança deficiente precisará ouvi-lo trezentas vezes até que a natureza recupere o que perdeu. Pois até comprei uma flauta doce, ele confessa em tom de quase ameaça, e passo o dia tirando umas notinhas perto do Felipe. Os sons agudos, percebe? — e ele abre outra cerveja. Veja aquele sujeito andando ali — confira a relação de movimentos entre pernas e braços. Parece simples. Pois na criança mongólica você precisa implantar esse padrão de movimentos, para despertá-la da névoa neurológica. É preciso compensar a falta da natureza; consertar o defeito de origem. "
" Teria de achar a palavra certa para explicar, as pessoas não sabem — talvez dizer “você viu meu filho? Ele é um menino com problema”, ou “ele é meio bobo”; ou, ele é “deficiente mental”, e tudo aquilo não corresponde nem ao filho nem ao que ele quer dizer para definir seu filho; ele é uma criança carinhosa mas meio tontinho, talvez assim ficasse melhor; não pode dizer “mongoloide”, que dói, nem “síndrome de Down” — naquela década de 1980, ninguém sabe o que é isso. "
"O choque de sair da escola das crianças normais para a primeira escola especial, quando a diretora devolveu o filho para ele. Não queremos seu filho — para ele, há escolas especiais, que têm treinamento e condições de tratar dele. Nós não temos. Para o pai, levá-lo à escola especial foi reviver aquela sala da clínica do Rio, quando ele percebeu pela primeira vez que seu mundo de referências seria definitivamente outro. A criança
também sentiu a diferença — nos primeiros meses de escola especial, o menino reagiu pelo isolamento e pelo silêncio. Não se reconhecia naqueles outros em torno dele. Durante algum tempo terá ainda uma relativa dificuldade para conviver com os seus iguais, aquele conjunto disparatado de casos a um tempo semelhantes e muito diferentes que partilham a escola com ele. "
"Aqui e agora: voltando para casa sem o filho, o mesmo filho que ele desejou morto assim que nasceu, e que agora, pela ausência, parece matá-lo."
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Débora 01/04/2017

Confesso que é uma leitura difícil, principalmente, porque o livro é narrado de várias formas. Há momentos em que é primeira pessoa, outros momentos em terceira. Nesse paralelo, o narrador passa de personagem para onisciente ao longo do livro. Ele conta sua juventude, sua fase adulta e há comentários do futuro. Apresenta também diversas reflexões do protagonista.
Além disso, a história tem um pano de fundo sociopolítico complicado no Brasil e na Europa, o que indiretamente interfere no seu desenrolar.
Deve ser uma leitura lenta e gradual para se absorver bem a essência do livro.
Davi.Rezende 02/07/2018minha estante
Na verdade, salvo engano, o livro inteiro é narrado em terceira pessoa.




Roberto 14/02/2017

Interessante
Gostei do livro. A Forma como o autor narra a história é bem interessante. Não me lembro de ter lido outra obra com o mesmo estilo. É um livro autobiográfico corajoso e forte.
Davi.Rezende 02/07/2018minha estante
O autor classifica como romance.




albert4 16/01/2017

Não é à toa que recebeu tantos prêmios. Livro maravilhoso.
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Davi.Rezende 02/07/2018minha estante
Recebeu prêmios por causa do autor ser de esquerda, só por isso.




wesley.moreiradeandrade 11/01/2017

A vida imita a arte ou a arte imita a vida. Se pensarmos no panorama atual da literatura brasileira, a segunda afirmação é a mais válida. Para alguns escritores ela dá insumos e serve de mote para a redação de novos romances. Com “O Filho Eterno”, Cristovão Tezza consagrou-se definitivamente entre os grandes autores contemporâneos e vale-se de um fato marcante em sua própria biografia para tecer sua obra mais famosa: a relação entre pai e filho, mais precisamente, um pai em busca de firmar-se como escritor e um filho com Síndrome de Down.
O romance publicado em 2007 tem todos os elementos necessários para cair na pieguice e no melodrama, porém destaca-se por uma narrativa em terceira pessoa sóbria e distanciada e por um texto permeado por uma quase cruel sinceridade. O protagonista sem nome é um escritor iniciante que tenta lidar com o fato de o primogênito ter Síndrome de Down. A narrativa baseia-se em todo o conflito interno desse artista em lidar com a situação, a vergonha de falar publicamente a respeito do assunto, o preconceito que inevitavelmente o contagia até mesmo um desejo pela morte do garoto, quando recém-nascido, rondam os pensamentos do personagem. Paralelamente o narrador relembra outros momentos marcantes da juventude desse escritor, suas andanças, estudos, textos imaturos, participação em grupos de teatro e subempregos na Europa.
O livro mostra um pai, um filho e um artista em formação, amadurecendo ou recusando-se a crescer diante dos problemas que vão surgindo e da presença de um filho que não pode ser ignorado e que de qualquer maneira reclama atenção e assistência. Apesar da frieza e do olhar clínico com o qual se relaciona com o filho, é impossível não identificar-se com esse escritor preocupado em aperfeiçoar-se e que recebe diversos nãos das editoras. Além do enfoque familiar, há principalmente um direcionamento sobre o fazer artístico ou as dificuldades que tal escolha traz consigo e o quanto a experiência pessoal contribui para o amadurecimento profissional e literário.
Adquiri este livro na época em que “O Filho Eterno” estava ganhando todos os prêmios e a primeira leitura não me atraiu ou convenceu completamente, chegava até a questionar tamanha celebração em torno de uma obra apenas “ok”. A releitura serviu então para acabar com qualquer equivocada primeira impressão e evidenciar o brilhantismo da prosa de Cristovão Tezza e também deve ter falado ao coração e à razão de tantos outros escritores neófitos que, assim como o protagonista, estão em busca de estabelecerem-se no concorrido e difícil universo literário nacional, apesar das negativas e dos percalços pessoais.

site: https://escritoswesleymoreira.blogspot.com.br/2015/11/na-estante-47-o-filho-eterno-cristovao.html
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VG 01/01/2017

A primeira criança de um casamento é uma aporrinhação monumental – o intruso exige espaço e atenção, chora demais, não tem horários nem limites, praticamente nenhuma linguagem comum, não controla nada em seu corpo, que vive a borbulhar por contra própria, depende de uma quantidade enorme de objetos (do berço à mamadeira, do funil de plástico às fraldas, milhares delas) até então desconhecidos pelos pais, drena as economias, o tempo, a paciência, a tolerância, sofre males inexplicáveis e intraduzíveis, instaura em torno de si o terror da fragilidade e da ignorância, e afasta, quase que aos pontapés, o pai da mãe.”
Seis anos atrás, isto é, em 2011, eu passava as minhas tardes das quartas feiras em uma salinha aconchegante e com ar condicionado, sentada em uma poltrona. A sala de espera da análise era um momento de leitura tranquila em meio ao caos do Rio de Janeiro, mas, por vezes, esquecia de levar algum livro. Nesses casos, apelava para as poucas leituras disponíveis na própria sala: um livrinho de cartuns do Quino, lido milhões de vezes – pelas minhas mãos e por outras tantas – e as ocasionais revistas.
Foi numa dessas tardes que, adiantada, comecei a ler a seção dedicad41t-6odfdwl-_ux250_a a livros e escritores. Não lembro o nome da revista, mas foi por lá que me deparei com o nome de Cristóvão Tezza e do Filho Eterno. Ih, legal, um autor brasileiro contemporâneo, com livros muito premiados e que eu nunca li. Assim que saí na análise fui na livraria e comprei, ao acaso um dos livros do autor. Um Erro Emocional, que era o mais barato. Fiquei encantada com a escrita de Tezza e, como é um hábito meu, mergulhei na leitura de seus livros. Beatriz, Trapo, e O Espírito da Prosa foram alguns dos livros que li.
imagesPosso dizer que terminei 2016 e comecei 2017 com uma paulada literária, pois só agora li O filho eterno. Este livro, que remete à experiência pessoal de Tezza, retrata com dureza a experiência de descobrir-se pai de uma criança com síndrome de Down. Os sentimentos e pensamentos desse pai são descritos com uma sinceridade quase brutal. No entanto, não se trata simplesmente de um diário. Nas palavras do autor:
“O filho eterno é um livro brutalmente autobiográfico — tudo nele partiu da memória. Mas é uma memória relativizada pela ficção, transformada pela linguagem romanesca. Isso me deu uma grande liberdade narrativa, em que a realidade se tornou não o limite, mas o ponto de partida para a reflexão. E o livro me permitiu pegar mais de 30 anos da minha vida e dar algum sentido a eles”.*
Com uma pegada realista, o protagonista do livro não encontra de súbito um sentido na síndrome que acomete seu primogênito. O pai, um literato, aspirante à escritor luta, ao longo dos 26 anos de vida do filho, com a vergonha, a irritação e, talvez mais ainda com a decepção de ter um filho que é incapaz de compartilhar com ele do mundo das palavras. A trissomia do cromossomo 23 é a fonte dos conflitos do pai, e estes permanecem ao longo do livro, sem uma resolução mágica. No entanto, o tom do livro cambia de um desespero quase total, para algo que se aproxima cada vez mais de uma aceitação pela via do afeto.
Apesar de ser um livro com um forte componente autobiográfico, Tezza narra uma experiência compartilhada por muitas mães e pais (de crianças com ou sem deficiências/especiais): perceber-se repentinamente preso às necessidades de um outro ser; ver-se com suas possibilidades de escolhas subitamente restritas; encontrar-se em um caminho do qual não se pode retornar pelo mero desejo. Mais do que apenas o relato de um caso específico, o livro trata do sentimento compartilhado por muitos de sentir-se incapaz de lidar com a maternidade ou paternidade, que parece pesada demais, permanente demais, irrevogável.

site: https://movimentosliterais.wordpress.com/2017/01/01/o-filho-eterno/
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Elisangela.Galvao 18/12/2016

O encanto da fuga de Tezza
História fantástica que prende a cada página, com a angústia e aprendizado de um pai em busca da aceitação (ou não) da "estranheza" de seu filho. SUPER recomendo.
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Ricardo Rocha 06/09/2016

O livro é bom, mas não há como ignorar os gritos exaltados da contracapa e da orelha. É constrangedor. Vou pegar um outro livro “qualquer” na estante. Vejamos. As ondas, de Virgínia Woolf. Na capa, o nome dela, do tradutor, O título e o autor do prefácio. Na primeira orelha, um trecho (maravilhoso, por sinal, “O sol, alto, não mais encostado no colchão verde...”). Na outra capa, a importância de Virgínia para a literatura, baseada na superação dos limites da ficção naturalista. Breve notícia biográfica. Conhecida por suas posições feministas. Na contracapa, uma singela árvore. Tudo bem, outro. No caminho de Swann. Na capa, o nome da coleção, do autor, o título, o tradutor. A coleção. Na contracapa, uma palavra sobre o duplo e o realismo psicológico, as técnicas que Proust utiliza, a luta do espírito criador para deixar sua marca no tempo (bacana isso). Ah, mas que prêmios eles ganharam? Ok. Proust ganhou o Goncourt de 1919. A referência está na contracapa das |Moças em flor, entre parênteses, como informação final, acessória. O resto é igual ao anterior, difere ao especificar o lirismo desse volume em particular, o que significa na obra, como esboça o tema dos volumes futuros. Um terceiro. Um Nobel. Neruda. Canto geral. O nome dele. O título. Um passarinho. O nome da editora. Contracapa: Uma citação de um livro do autor em que diz que “naquela época escrevi meu livro mais importante”. Abaixo, contextualiza, fala do amor de Neruda pelo Chile e seu povo. Diz que Canto é uma história marginal da América Latina. Outro Nobel: O engate, Nadine Gordimer. Capa título nome dela editora (inclui a coleção “Premio Nobel”. Orelha, sobre o que é o livro, uma história de amor, choque cultural, o estilo do monólogo interior de onde a história nasce quando os personagens se cruzam. Na segunda orelha, uma foto da autora, outros livros dela, e no final, informa que ela ganhou, “além de inúmeras distinções, o Booker Prize” e que em 1991 “foi agraciada com o prêmio Nobel. A contracapa é um resumo das orelhas. Os prêmios estão juntos com a sinopse e a questão estilística. Começa e termina com a história. A capa de “O filho eterno é bonita”, chama a atenção, a sombra do menino. A primeira orelha faz uma meio que sinopse, preparando o coração do leitor para um “livro corajoso” de um dos “maiores escritores brasileiros”. O máximo que fala sobre o estilo do autor é “precisão literária”, quem em termos de precisão é bem vago. A segunda orelha não traz a biografia do autor mas do seu sucesso. De passagem diz onde nasceu para emendar que escreveu dezenas de livros, ganhou um monte de prêmios (especifica cada um). Que ele foi finalista de um premio em lingua inglesa. O site do autor. A contracapa, onde a gente vai procurar informações sobre a obra, tem a fotona do autor, um trecho de três linhas do livro. Um pouco menos da metade do espaço. Na metade abaixo, não apenas cita, mas especifica, não num texto corrido mas em separado, uma linha para cada prêmio, todos os prêmios. Para a maioria não faz diferença, possivelmente. Eu quase deixei de ler por conta de tanta exaltação mas não só, pela falta de informação, nesse primeiro contato que se tem com o objeto livro, sobre o estilo do autor e até mesmo sobre a pessoa, uma biografia decente. Não tivesse sido um presente, eu teria deixado de ler esse bom livro. Mas é bem constrangedor. Cristóvão Tezza e seu romance são maiores do que os prêmios que recebeu.
Ricardo Rocha 06/09/2016minha estante
sobre o livro fiquei sem ter o que dizer depois de tanta exaltação da editora




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