@ALeituradeHoje 28/01/2019
Um Pai...
Senti subir pela minha espinha materna dores, sonhos, medos, dúvidas e claro, alegrias (“dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias”)... uma mescla de sentimentos que O Filho Eterno deixou marcado na minha memória e no meu coração.
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Cristóvão Tezza tem um filho com síndrome de Down e escreve uma história (não uma biografia, me atrevo a confabular) sobre um escritor que tem um filho com síndrome de Down. Digo isso, pois como ele é escrito em terceira pessoa, poderia se passar por visão (muito bem escrita) externa da situação, mas o próprio Tezza nos conta que assim como o personagem pai, “também ele” é pai de um filho com síndrome de Down. O sentimento da história é genuíno.
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Quando li a primeira vez, eu não era mãe ainda, e o tocante do coração de Tezza me alcançou de uma forma confusa e sem reciprocidade. Ao relê-lo anos depois (e daí as vezes me pego pensando em reler outros livros, porque sempre se percebe novas nuances... mas existem tantos livros nessa vida ainda não lidos...), me conectei de uma forma, que mesmo não podendo ainda entende-lo amiúde, pois não sou escritora e não tenho um filho com Síndrome de Down, ainda assim, meu coração maduro de mãe se identificou e apesar das nuances duras que em vários momentos eram passadas, entendi o coração do pai. Apesar de ser um romance que fala da percepção paterna, que muitas vezes pode ser bem diferente da materna, ainda assim é o amor (neste caso sendo descoberto) pelo filho. Daí vem a identificação.
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Foi o único livro que li de Tezza (e quero ler outros, sim, mas é #muitolivroparapoucavida), e, aos menos neste, o que me apaixonou em sua escrita foi o toque sentimental sem ser piegas, sem usar de clichês (como eu uso quando escrevo minhas impressões, porque não tenho o dom da palavra). Ele é racional falando de medo, faz suas digressões e ainda assim não se distancia do sentimento principal.
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Ele me lembrou Saramago, quando não dá nomes aos personagens, com exceção do filho Felipe. A história de desenrola entre “o pai”, “a mãe”, “a irmã” e as vezes, “o filho”. O pai, um escritor em busca do reconhecimento profissional se vê com um filho doente, e tem que lidar com sentimentos as vezes cruéis como quando, com muita coragem em expor (e covardia em sentir, será?), questiona se não seria melhor que o filho morresse. A coragem com que Tezza expõe o coração dele (porque é um romance, sobre Tezza), é intenso. Ele não esconde o que sentiu e depois se dá conta que ser pai, é amar de qualquer forma. Talvez a parte racional do escritor, tenha dado as ideias mais difíceis, os sentimentos mais duvidosos, mas a parte emocional do pai tratou de mostrar, que existe algo muito mais forte e importante que o desenvolvimento intelectual, dito “normal”. A parte pai suplantou o lado da sua frieza intelectual.