Ana Luiza 13/02/2014
É hora de tirar as máscaras
Callie Woodland conseguiu o que queria. A Prime Destinations foi fechada e nenhum Starters terá seu corpo alugado para Enders ricos novamente. Helena, a última inquilina de Callie e mais uma vítima da Prime, deixou metade de sua fortuna para a garota e seu irmão Tyler, que juntamente com Michael, vivem uma vida mais que confortável na mansão da falecida Ender. Mas ter dinheiro e pessoas que se importam com seu bem estar não quer dizer que a batalha de Callie acabou. Ela pode ter saído das ruas, mas muitos jovens como ela ainda vivem na miséria. E apesar da Prime Destinations não existir mais, o Velho ainda está a solta e todos os Starters que alugaram seus corpos ainda estão com chips na sua cabeça, o que lhes confere o apelido de Metais. E a maioria deles não está em boa situação.
“- Você não gostaria de estar em meu lugar, Callie. Consegue imaginar alguém que detesta o próprio corpo? Sou prisioneiro dentro dele. (...)
- Todos os Metais são prisioneiros. Até conseguirmos derrotar seu pai.” Pág. 88
Grande parte dos Metais perdeu o dinheiro que ganhou na Prime, sendo que outra grande maioria nem chegou a receber. E a situação desses jovens se revela ainda pior quando o Velho prova para Callie, de maneira dramática e sanguinária, que ainda pode controlar os Metais e, inclusive, transformar os chips em suas cabeças em bombas. Com a voz do inimigo novamente em sua cabeça, Callie sabe que precisa agir. Entretanto, não será uma tarefa fácil. A garota descobre que não pode tirar o chip da sua cabeça sem se matar no processo, mas quando escuta a voz do pai na sua cabeça novamente, ela sabe que tem que ir até o fim.
A caminho de um encontro face a face com o Velho, Callie é abordada por um misterioso garoto, que já salvara sua vida antes e que afirma que está fazendo o mesmo novamente. Hyden, como é chamado o Starter, revela que é filho do Velho e que ajudou a criar parte da tecnologia relacionada aos chips. Entretanto, assim como Callie, ele está em guerra com o pai, que sempre fora um homem horrível para o filho. Hyden não sabia das pretensões do pai quando o ajudou a criar os chips e, depois de ver o que ele fez, ficou decidido a acabar com tudo. Entretanto, o garoto sabe que o fim da Prime não é o fim do pai. O Velho pretende vender a tecnologia dos chips, assim como os Metais, para grupos terroristas estrangeiros.
“- É tudo por causa do dinheiro, então? Você não está fazendo isso porque acredita em alguma coisa?
- As pessoas fazem qualquer coisa por dinheiro. – Ele examinou suas unhas. – Ainda não percebeu?” Pág. 254
Determinados a impedir o Velho, Callie aceita se juntar a Hyden nessa batalha, que por sua vez tem ao seu lado Ernie, seu guarda-costas Middle, e Redmond, o cientista que ajudara Callie e Helena no passado. Enquanto decidem exatamente o que fazer, Callie e Hyden começam a juntar os Metais e levá-los para seu esconderijo, onde estão fora do alcance do Velho. Logo Michael se junta a eles, apesar de Hyden ter levado o garoto e Tyler para outro lugar seguro, longe de Callie. Quando as coisas parecem começar a melhorar, tropas do Velho invadem o esconderijo e todos os Metais são sequestrados, assim como Redmond, e Ernie é ferido. Agora sozinhos, Callie, Hyden e Michael tem que se virar para encontrar o Velho e todos os Metais. Ao visitar a antiga casa, Callie encontra provas de que seu pai pode estar vivo, mas nas mãos de seu inimigo. Disposta a descobrir toda a verdade, Callie precisa ver além das mentiras e máscaras não só do Velho, mas também daqueles que ama e que a cercam. Ninguém é realmente quem parece ser e até onde a garota conseguirá ir? Em que ela deverá confiar? Nessa batalha pela verdade e pela liberdade, falhar não é uma opção.
“- Ela é a neta de Helena. Prometi que a encontraria.
- Entendo – disse ele, com as mãos nos bolsos. – Mas você tem que entender uma coisa: nem todo mundo quer ser encontrado.” Pág. 62
Li “Starters” (resenha aqui) há mais de um ano e amei o livro, que se tornou favorito. O final foi simplesmente perfeito, com apenas uma ponta solta, e me deixou sem palavras e louca pelo próximo livro. Entretanto, Lissa Price deveria ter ficado apenas em “Starters”. “Enders”, o segundo e último volume da duologia “Starters”, foi uma boa leitura, mas como continuação e final da duologia, foi péssimo. Enquanto o primeiro volume traz uma história irresistível, personagens cativantes e um pouco de crítica social, o segundo livro peca nesses e em outros aspectos. A trama foi extremamente óbvia, as “surpresas” não são nada que não se podia prever e não há nenhuma inovação ou algo que faça o livro se destacar. Não gostei do seguimento da trama, que não tem um desenvolvimento natural, e os acontecimentos parecem forçados. O final foi previsivelmente feliz e sem sal, consigo pensar em outros inúmeros desfechos satisfatórios, nenhum parecido com o real.
Os personagens perderem seu brilho, principalmente a protagonista. Callie se tornou uma sentimentalista chata e tive vontade de enforcá-la diversas vezes. Os outros personagens também foram óbvios, nenhum deles ultrapassando as impressões iniciais, a maioria tendo o mesmo comportamento do primeiro livro. Não sei o que aconteceu em “Enders”, mas todos os personagens pareciam meio mortos e tontos, sempre sendo pegos de surpresa, como se eles tivessem perdido aquela chama que os tornava tão convincentes e cativantes no primeiro livro. Algo que me irritou bastante nessa falta de profundidade dos personagens foi como os bonzinhos eram sempre bonzinhos e os maus sempre maus. Ninguém é 100% de alguma maneira, então odeio quando autores colocam heróis e vilões perfeitos que só demonstram parte de sua natureza, como se bondade e maldade fossem distintos como água e óleo. Nesse ponto, a autora chegou a ser contraditória. Callie dizia o tempo todo que estava disposta a fazer tudo para proteger as pessoas e se livrar do Velho, mas ela sempre parecia pegar o caminho mais fácil, que sempre acabava não levando-a onde ela queria. Diferente da protagonista do primeiro livro, a Callie de “Enders” chega a ser um pouco covarde, que só fica reclamando das situações em que se mete e que não faz nada se ninguém der um empurrãozinho.
A narrativa em primeira pessoa da autora estava novamente perfeita, mas a protagonista e muitos outros aspectos do livro me irritaram tanto que a narrativa foi irrelevante para minha opinião final. A sensação é de que Price se perdeu completamente nesse livro. Ela é mais uma boa autora com a “síndrome da continuação”. Estou cansada de ler bons livros que acabam sendo ofuscados por continuações medíocres. Lissa, assim como outros, ficou tão preocupada em escrever mais um volume que acabou pecando muito na história em si. “Enders”, como um livro único, seria uma boa obra. Mas como é a continuação e último volume de uma duologia, ele é decepcionante e frustrante.
Sobre a edição, pelo menos, não há reclamações. A tradução estava perfeita e a diagramação excelente, não encontrei nenhum erro. O tamanho e tipo da fonte também estavam bons. A capa é lindíssima e combina perfeitamente com a história. Fico feliz que escolheram essa a original (ao lado), que é horrível. Apesar de não ser tão grosso assim, o livro me surpreendeu com seu peso, que é bem mais leve do que eu esperaria para suas 285 páginas.
“- Quer dizer que... você sentiu pena de mim?
- Não. – Os olhos dele encontraram os meus. – Eu me apaixonei por você.” Pág. 257
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