Moonlight Books 10/03/2013
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Ao ler ler este livro, eu tive a sensação de estar lendo o diário de uma adolescente. A maneira como a história é apresentada é muito semelhante ao que coloca-se em um diário. São os acontecimentos de um dia, as tristezas, expectativas, frustrações, e tudo que muitas vezes não é muito fácil ser dito em voz alta, mas escrito fica mais fácil. Tudo sem ser precisamente ligado, mas seguindo o fluxo de uma vida.
O livro é narrado em primeira pessoa por Marisa, uma adolescente que acabou de voltar de uma viagem de férias e está cheia de expectativas em relação ao novo ano letivo que terá início. Ela chega e logo corre para visitar a melhor amiga, as duas querem mudar a vida, dar uma agitada em tudo ao seu redor, em especial na vida social e na vida amorosa. É até engraçado a maneira como elas falam, reclamando que estão cansadas do marasmo e da mesmice, parece até que são duas mulheres maduras que não realizaram nada até hoje, não duas adolescentes que estão começando a vida agora.
A partir daí vamos acompanhar Marisa em seu dia a dia, neste novo ano. Ela que no ano anterior, por sofrer de um distúrbio emocional, isolou-se de todos, busca este ano fazer muitos amigos, quer ser bem vista e ter um namorado legal, se possível o popular Derek. Também busca reatar uma antiga amizade com Nash, um garoto que cresceu com ela, mas em um determinado dia afastou-se. E é nessa busca por um namorado e por reatar esta amizade, que a vida de Marisa muda. Os dois garotos passam a significar muito para ela, mas fica claro que ela não os enxerga no papel correto que deveriam ocupar em sua vida. Derek é lindo, o namorado que todas queriam, mas é com Nash que Marisa é ela mesma, sem máscaras de ser popular, apenas Marisa, jovem e cheia de sonhos e insegurança.
"Derek está agindo de modo estranho. Estar com ele, no final das contas, é estimulante, mas também muito cansativo. Às vezes, tenho a sensação de que estou representando, tipo, como se agisse de um modo que acho que talvez ele queira que eu seja, ou de um modo como eu gostaria de ser."
E não é só a vida amorosa de Marisa que vamos conhecer, vamos dividir com a protagonista a conquista pelo primeiro emprego, as brigas com a irmã, a separação dos pais e o maior de todos os desafios, não se deixar dominar pela ansiedade, que é o principal sintoma do distúrbio emocional que sofre.
A história é bem leve, não é um livro com um enredo cheio de elementos que precisam ser amarrados e nos levem à um grande desfecho, como eu disse é como ler um diário, um dia aqui, outro acolá. Vamos conhecendo Marisa e vendo os acontecimentos que marcaram um ano de sua vida. O espaço de tempo é bem este, temos até o livro dividido em períodos de meses, conforme o ano escolar. Falando nisso, mesmo a história sendo ambientada nos Estados Unidos, desta vez a escola está bem próxima dos moldes brasileiros, com muitos elementos que nos soam familiares.
O ponto alto da narrativa é um webcast, com um locutor misterioso que sabe da vida de todo mundo da escola, e adora espalhar uns segredinhos na rede, mas só daquelas pessoas não muito legais. Todos os dias às 23:00 horas o programa vai ao ar, sendo uma válvula de escape para muitos jovens e um grande consolo para Marisa. O locutor Dick é um verdadeiro ídolo para todos. Para o pessoal que precisa de um apoio, ele dá um abraço virtual, usando palavras animadoras e mostrando que está bem próximos dos ouvintes. Sua identidade só lendo para descobrir.
"É verdade. The Cure é assim. Mas sempre melhora meu humor astral. A tristeza gosta de companhia."
O começo não me prendeu muito, até mesmo pela maneira como Marisa se vê, sei que por conta de seus problemas ela não tem muita auto-estima, mas as vezes ela se colocou tão para baixo, tão sem amor-próprio, que soava exagerado. Mas por outro lado sei que os sentimentos nesta fase da vida são elevados à proporções desmedidas e tudo é uma grande crise, mas me irritou muito. Acho que Marisa muitas vezes errou em não ser mais espontânea e também em ficar sendo espectadora da própria vida, pensando demais, supondo demais e só assistindo a vida passar. Marisa é cansativa em sua obsessão por Derek, ela queria que tudo fosse em seu favor, com bastante egocentrismo.
O livro todo é muito jovem, o ambiente criado por Susane Colasanti foi bem crível, percebe-se bem a familiaridade dela como cenário. As situações são bem reais e várias vezes revivi minha época de escola, foi bem nostálgico.
"... uma nostalgia agridoce dos tempos que nunca mais vamos viver novamente."
No desfecho do livro temos uma Marisa que aprendeu muita coisa durante este ano. Aprendeu algo que serve para todos, saber como se adaptar as diversidades, afinal as rédeas da vida não estão em nossas mãos. Coisas boas e ruins acontecem, e temos que saber viver as mudanças, se você já leu Quem mexeu no meu queijo, sabe bem como funciona. Nossa protagonista soube como tirar proveito das situações, ela superou dificuldades, lutou e passou a dar valor ao que tinha e a quem tinha ao seu lado. Por ser um enredo bem adolescente, não me prendeu muito, mas não tiro o mérito a autora em conseguir passar uma mensagem positiva em sua obra.
"Então, deste modo simples, deixo a vida que estava vivendo. E entro na vida que eu estava buscando."