Vitor.Romito 22/07/2023
É...
O medo é um dos sentimentos mais primitivos que temos e que geram outros. Ele decorre de inúmeras situações, das quais, o desconhecido, para mim, é o mais proeminente. Lovecraft sabe disso e uso este elemento muito bem para compor suas histórias. Nelas, o medo do desconhecido leva geralmente ou a morte ou a loucura. O autor usa e abusa de adjetivos abstratos ligados à magnitude do Universo para instigar o leitor a criar a imagem do denominado horror cósmico. Apesar de gostar muito da escrita dele como contador destas histórias, a leitura deste compilado de 01 novela e 03 contos foi um sentimento misto de interesse, exaustão e tédio. Vamos às histórias e o que achei delas:
1) “Nas montanhas da loucura” – Um grupo de cientistas e estudantes partem para uma expedição na Antártica a fim de realizar estudos diversos de geologia e áreas correlatas. No continente, eles deparam com acontecimentos estranhos e que desembocam em um horror ancestral.
A novela é o melhor deste livro. A ambientação inquietante e um tanto claustrofóbica (por causa do continente em si) é muito bem trabalhada por Lovecraft (como sempre). A história é contada em primeira pessoa por uma das personagens, que é um cientista. Um ponto interessante é o quanto procura ser objetivo no relato, principalmente na descrição do cenário encontrado e na narração dos fatos. Há introdução dos Antigos e um mal criado. Ao longo do conto, notei que o John Carpenter bebeu muito desta fonte para compor “O Enigma de Outro Mundo”. Embora seja uma história interessante, teve momentos de tédio grande. E a linguagem muito “científica” cansou.
2) “A casa maldita” – Um rapaz narra a história de uma casa com ares de uma possível maldição, onde aqueles que a habitaram ou pereceram ou enredaram nos caminhos da loucura.
Conto também narrado em primeira pessoa, por um rapaz comum, sobre uma mansão maldita, em que ele e seu tio resolvem dar um fim ao horror da casa. A narração do conto é bem interessante e instigante, com elementos que vem desde a construção do imóvel e passagem das mais diversas pessoas e famílias por lá. Tem uma ambientação bem tensa e sensorial. Não tem diálogos, com uma espécie de relato mesmo. Só que muitos elementos aqui me tiraram do foco da história e o principal foi levar a ideia central para o cósmico, quando tudo que é construído vai para algo mais “mundano” e “comum ao terror”. Essa guinada foi meio agridoce para mim.
3) “Os sonhos na casa da bruxa” – um estudante de graduação, instigado por uma curiosidade do desconhecido e das superstições do local, resolve se hospedar em um quarto maldito de uma certa casa. Neste quarto há uma lenda de que uma bruxa viveu ali nos tempos inquisitoriais.
É, a curiosidade matou o gato. Conto escrito em terceira pessoa, o que não é comum na obra de Lovecraft. Por conta disso, este conto é um pouco acima do segundo, já que, por não ter um narrador presente na história, não demonstra “o viés do observador”. Dá um que de credulidade e peso aos acontecimentos. Assim como o outro, não tem diálogos propriamente ditos. É legal, porém, peca pelo tamanho (poderia e deveria ser menor, mais enxuto) e pelo mesmo problema do segundo conto, a necessidade de meter o Cósmico em uma história mais “mundana”. Apesar de não explicar, me pareceu ter uma conexão com o primeiro conto.
4) “O depoimento de Randolph Carter” – Um homem está aparentemente em uma delegacia onde relata o que aconteceu com ele e com o seu amigo ao fazer uma incursão em um cemitério à noite.
Este é, mas de muito longe, o pior conto deste livro, quiçá da obra do autor. Mal escrito demais. Como o título remete, aqui temos o narrador em primeira pessoa (o clássico do Lovecraft). E há diálogos. Só que pessimamente desenvolvidos e inverossímeis, que não remete aquilo que o autor quer que as personagens passem para o leitor. Destrói a história. A primeira vez que li que o Lovecraft não sabia escrever diálogos foi em “Sobre a Escrita”, do King. Neste conto está a prova disso.
Em resumo, é um livro bem mediano. Tem uma das histórias mais conhecidas, “Nas montanhas da loucura”, que para mim não chega nem no top 5 do autor. Prefiro “O chamado do Cthulhu”, “A cor que veio do espaço”, “O horror em Dunwich” e muitos outros. Ainda tem um péssimo desfecho de contos, com aquele que é um dos piores, se não o pior, conto do autor. Talvez a escolha dos contos para compilar o livro foi ruim. Ou talvez esteja no momento de dar uma boa espaçada (uns bons anos) nas leituras do Lovecraft.