Guilherme 17/02/2014
Loucuras de uma mente insana
A obra, organizada e traduzida por Guilherme da Silva Braga nos faz viajar no tempo, até 1936, para presenciarmos o processo criativo de H.P Lovecraft. Através de cartas escritas pelo próprio autor, Guilherme nos mostra os anseios e dúvidas que permeavam a cabeça de Lovecraft. Além disso, é possível presenciarmos uma das mentes mais fantasiosas da literatura em funcionamento. Fiquei muito entusiasmado com essa introdução, me deixando com mais vontade de ler este, que é sem dúvida o conto mais importante de Lovecraft.
Um dos grandes problemas que tenho com Lovecraft são as longas cenas descritivas e, ás vezes, maçante em algumas passagens. Eu já li livros inteiros em dois ou três dias, porém, o "Nas Montanhas da Loucura" me faz mastigar melhor cada palavra e torna a leitura cansativa. Os parágrafos narrados em primeira pessoa do livro me lembram dos roteiros extremamente detalhados no mago Alan Moore.
Somente com as palavras de Lovecraft, conseguimos imaginar as cenas e sentimos as angustias do personagem. O medo se torna mais denso, no momento que nossas mentes mergulham no mundo dos Antigos. Seres em forma de bulbo cilíndrico, com tentáculos e cabeça em forma de estrela de cinco pontas, que após chegaram no espaço, há bilhões de anos, deram início à criação de todos os seres terrestres. A narração em primeira pessoa, tão bem trabalhada, nos leva aos acontecimentos e nos sentimos perdidos atrás das montanhas da loucura.
Perdidos em meio à cidade de pedra, há muito desabitada e tão grotescamente construída. Por coisas, na palavra do autor, malignas. O texto descritivo me faz pensar que vou demorar mais tempo para terminar de ler o livro, mas sinto que estou num ritmo bom. Embora cansativo, a vontade de saber os rumos dos acontecimentos nos faz querer continuar a leitura.
Infelizmente, a obra nos traz tão somente um pedaço da mitologia lovecraftiana, e ficamos com aquela vontade de descobrir um pouco mais, de tentar desvendar os segredos dos Anciões e dos Shoggoths. O texto descritivo se perpetua por toda a obra, o que torna a leitura deveras cansativa. E a última parte, por nos trazer um pouco mais de ação, se desenvolve com um pouco mais de ritmo, deixando num último respiro lermos suas últimas vinte páginas num sprint final.
A edição da Hedra traz ainda uma carta escrita por Lovecraft e a tradução do soneto Antarktos (o XV soneto do ciclo "Fungi from Yuggoth"). A obra em si está muito bem editada. A capa é muito bonita e o texto, por fim, tem o primor clássico de H.P. Lovecraft. Adianto não ser uma leitura fácil, mas recomendo o livro a quem se interessar.