Pandora 15/05/20241958. Cora e Mimi são duas irmãs que, por ordem do pai, são enviadas a Bryers Guerdon, um vilarejo onde mora sua tia-avó Ida. Algo aconteceu com a mãe delas e a família que costumava ficar com elas não pode - ou não quer - mais abrigá-las. Acontece que tia Ida vive isolada num casarão decrépito na companhia de seu cão pouco amigável e não quer as meninas lá. Mas tem um motivo: um que envolve os antepassados dos Guerdon desde o século XVI e que agora coloca a vida de Mimi em perigo.
A ideia para o livro veio de uma canção. Long Lankin é uma antiga e assustadora balada para crianças que conta a história de um malfeitor que entra na casa de um rico senhor quando ele está ausente e, com a anuência da babá, mata o filho e a mulher desse senhor. Segundo alguns estudos, o malfeitor poderia ser um pedreiro que após ter construído um castelo para o lorde, não é pago e se vinga; também poderia ser um homem que sofre de lepra e cuja “cura” medieval para a doença seria obtida com a coleta de sangue de uma criança inocente em uma tijela de prata.
A canção tem várias versões com nomes que começam com Bold, Young ou False e pode ser grafada como Lamkin, Lambkin ou Lankin. É popular no Reino Unido e mais ainda na América do Norte e já foi gravada várias vezes. Fonte: Mainly Norfolk.
A escrita da autora é muito agradável, é possível se sentir parte da história, porque a forma como ela interliga diálogos, emoções, cenários, é muito eficiente; a escolha de usar múltiplos narradores torna a leitura mais dinâmica e eu, em geral, gosto bastante de narradores crianças. Alem disso, não me incomodou o fato de ser um terror adolescente.
O que pegou pra mim foi que Cora, a irmã maior e personagem principal desta história vai ficando a cada página mais irritante e bisbilhoteira e eu fiquei me perguntando se ela era alguma bruxa mirim que fazia com que os adultos contassem a ela aquelas histórias terríveis de povoados que morador nenhum nunca quer lembrar. Além disso, ela tinha uma fixação por medidas um tanto improvável para uma criança, ainda que nos anos 50.
Isto, particularmente, me irritou tanto, que anotei alguns trechos que ela narra:
Pág. 26 - “Mimi, imóvel, observa um arco acima do pórtico. Não tenho certeza se eu o teria notado - um velho pedaço de madeira, preso de forma assimétrica acima do ângulo do arco, de uns setenta centímetros de comprimento, torto, gasto, escurecido nas bordas como se houvesse sido queimado.”
Pág 56 - “Arranhões irregulares marcam o reboco inferior, mas alguém cobriu isso também. Uma mancha musgosa de mais ou menos sessenta centímetros de altura sobe pelas paredes desde o chão de pedra, estendendo-se numa faixa verde em toda a volta da construção.”
Pág. 123 - “Na poeira sobre a cômoda, uma caixa preta enferrujada, de cerca de um metro…”
Pág. 213 - “O homem está a apenas três metros de distância. O rosto parece em carne viva.”
Pág. 253 - “No fundo da caixa, um caderno de anotações de capa de couro vinho, de cerca de dez por sete centímetros.”
Pág. 305 - “Alguns porta retratos, dourados, já desbotados, de jovens uniformizados, eram vistos nos peitoris das janelas, que deviam ter no total uns quarenta e cinco centímetros de largura.”
E por fim, a narrativa é muito extensa! Vários trechos sobre o cotidiano na cidadezinha poderiam ter sido suprimidos sem fazer falta alguma. É um livro gostoso se você tem tempo de sobra para todos os dias ir lendo algumas páginas, mesmo que não acrescentem tanto, mas a maioria das pessoas não têm, não é mesmo? Não é como um calhamaço que justifica ser longo pelo teor da história.
E o confronto final foi bem coisa de livro adolescente, estilo aventura (que eu detesto!), mas o parágrafo final é fofo.
A capa desta edição eu acho bárbara, no início eu via as meninas bem apagadas e só depois de uns dias reparei que uma delas olhava pra frente. Infelizmente as páginas não são costuradas, caíram algumas folhas.
A letra da canção é sinistra, pode render umas histórias muito assustadoras.