spoiler visualizarRute31 16/05/2024
Desonra começa até bem, de modo banal eu diria. David Lurie é um professor de comunicação, tem 52 anos e às quintas-feiras procura Soraya, uma prostituta. Esse início me lembrou muito Um Amor, do Dino Buzzati, que eu li uns dias antes e já fiquei meio desconfiada achando que tinha caído numa espiral de homem 50+ procura. Mas a semelhança acaba aí. Assim que Soraya e ele rompem, ele se envolve com uma aluna, o que é a primeira desgraça de fato do livro — disgrace é o título original em inglês e faz muito mais sentido que desonra.
Acontece que esse envolvimento com a Melanie, a aluna, acaba desencadeando uma série de eventos que uma hora levam nosso complexo Lurie ao campo (me identifiquei aqui, coitado) e a um reencontro com a filha, Lucy. E aqui acontece a maior desgraça do romance e penso que é uma desgraça muito simbólica da situação de um país no pós-apartheid.
Duas coisas merecem destaque: primeiro, a narrativa, toda no presente, é seca. Linguagem poética aqui não, apesar de que nem por isso a desgraça é menos bonita (!!!). Segundo, David Lurie é um personagem inacreditavelmente vívido. Suas questões são tão bem colocadas, que não dá pra defender nem condenar. Isso não é o melhor da ficção?