Caio.Souza 31/01/2021
O absurdo, o grotesco e o real em Agá
Nunca havia lido nada de Hermilo Borba Filho. O autor pernambucano embora tenha sido importante figura do teatro brasileiro (tanto que todo recifense conhece o teatro que leva o seu nome) é um autor pouco lido e pouco comentado, até mesmo em Pernambuco. Uma pena.
O livro Agá além de muito bem escrito, é um livro de difícil classificação. A primeira parte do livro é composta por 8 capítulos onde o realismo mágico, a autoficção e a distopia se unem ao grotesco numa narrativa em que o personagem principal assume 8 papéis distintos em universos que se misturam e se entrelaçam. Com fortes críticas direcionadas as ditaduras latinoamericanas, aos EUA e a todas as injustiças do mundo, Agá - o personagem que dá título ao livro (e que seria o próprio Hermilo) - se torna deputado, embaixador, padre, guerrilheiro e até mesmo um hermafrodita que influencia os rumos da história mundial. Na segunda parte do livro, chamada de O Livro dos Mortos são narradas diversas revoltas populares brasileiras. A inventividade de Hermilo é tanta que esse capítulo é uma espécie de HQ ilustrada pelo grande pintor pernambucano Zé Claudio, algo inovador se considerado que o livro foi escrito no início da década de 1970.
O capítulo que se segue, O Livro das Mutações é em formato de peça teatral, gênero que Hermilo dominava magistralmente. Em seguida, em o Livro das Confissões, o livro volta ao ritmo da primeira parte e o personagem Agá retorna em tom onde confessional mistura-se com o mágico e é difícil perceber o que é realidade pessoal e o que é ficção.
Esta edição da Cepe possui ainda o capítulo intitulado "Eu, o-morto-carregando-o-vivo" o qual havia sido suprimido da versão original e que narra (mais uma vez misturando o real e o ficcional) a experiência de Hermilo com uma angina que o fez ir a São Paulo realizar um tratamento.
O livro, pelo seu experimentalismo, coragem e pela qualidade inquestionável da escrita merece muito ser lido.