Márcia 10/11/2023
O homem do Castelo Alto - Philip K. Dick
Em um mundo onde os nazistas venceram a Segunda Guerra Mundial vamos acompanhar a jornada de homens como o sr. Tagomi, Robert Childan e Frank Frink: suas ambições, suas tristezas e seus arrependimentos. Tudo isso em um mundo marcado pelo medo e pelo controle.
Nesta realidade, alemães e japoneses venceram a guerra. Mudanças sutis na história contribuem para isso: a Luftwaffe nunca foi derrotada pela Inglaterra, Rommel saiu da África e juntou o restante de suas tropas com uma coalizão italiana para destruir a Rússia e Pearl Harbor foi uma derrota terrível para os norte-americanos que tiveram todas as suas bases do Pacífico tomadas pelo governo japonês. Os EUA foram divididos em três regiões: os Estados Aliados do Pacífico (EAP) controlado por uma Missão Comercial Japonesa e parte do Kempeitei estacionado em San Francisco; os Territórios das Montanhas Rochosas onde existe uma certa neutralidade, mas alemães e japoneses agem livremente, além de contar com a presença de muitos imigrantes italianos buscando uma nova vida; e os Estados Unidos propriamente ditos foram reconstruídos e agora governados como um protetorado alemão sediado na cidade de Nova York. Na Europa, a Alemanha controla boa parte dos territórios sem opositores enquanto que a URSS desapareceu completamente do mapa.
Os personagens são interessantes: o sr. Tagomi, um homem importante ligado à Missão Comercial em San Francisco que se vê envolvido em uma conspiração para colocar um dos lados em disputa em Berlim no poder; Robert Childan é um vendedor de arte (na verdade ele é dono de um empório) que tenta a todo custo sobreviver entre a exigente sociedade japonesa repleta de costumes estranhos e mesuras; Frank Frink lida com metais e é capaz de trabalhar com fenomenais obras de arte, mas esconde o fato de ser judeu e poder ir parar em um campo de concentração a qualquer momento; Juliana Frink é a ex-mulher de Frank que tenta a vida como instrutora de judô nas Rochosas quando se depara com Joe Cinadella que lê um estranho romance O Gafanhoto Torna-se Pesado onde o autor, Hawthorne Abendsen, descreve um mundo onde os ingleses e norte-americanos teriam vencido a guerra; e o sr. Baynes, um empresário sueco que parece ser muito mais do que ele diz. Cada uma das histórias mostra os personagens em busca de algum objetivo que dê sentido a suas vidas.
Juliana Frink representa uma faceta de Philip K. Dick. Questionador, insatisfeito consigo mesmo, mas ao mesmo tempo sem saber o que fazer diante de um mundo que lhe é estranho. Todos os outros personagens possuem plots que de uma forma ou outra fazem com que eles se encaixem dentro daquela existência mundana. Aliás, não existe uma evolução extraordinária nos personagens: eles certamente são colocados no limite, principalmente Juliana, mas eles não desejam sair deste mundo. Mesmo o sr. Tagomi quando diante da tentativa de assassinato, ele não deseja que aquilo tudo fosse diferente, apenas que ele não tivesse sido obrigado a cometer uma ação que ia contra as suas crenças. Mas, Juliana é um caso diferente: de todos os personagens da história, ela é a única que não se enquadra no status quo. Ela busca Abendsen para que ele diga a ela como a realidade poderia ser diferente. Ela queria o mundo presente em Gafanhotos. Quando Abendesen descreve a ela a forma como ele escreveu o livro, todas as suas esperanças caem por terra. Ela se perde e não sabe mais o que fazer.
Os personagens não salvam o mundo (nem mesmo Baynes quando retorna à Alemanha) e muitos plots são deixados no ar.
Minha impressão é justamente essa, os personagens podiam ser mais bem construídos e ter uma história mais profunda para contar.
Mesmo o mundo que seria após a vitória da Alemanha e Japão não é bem desenvolvido.