RôPeyres 23/10/2012
Palidez, caninos afiados, proibidos de pisar em solo sagrado. E o pior de tudo, ávidos por sangue humano. Tá, alguns até brilham sob a luz do sol. Mas quem são eles? Vampiros.
Muito antes de Drácula de Bram Stoker, os seres da noite já existiam no imaginário das pessoas e estavam presentes na mitologia mundial sob as mais diversas formas. Atualmente, a versão que mais agrada o público é a geração dos vampiros “vegetarianos”. Politicamente corretos, eles não matam suas vítimas e até evitam se alimentar de sangue humano. Porém, até o casal vampiro mais famoso do mundo está crise. Será que os vampiros continuam sendo uma tendência?
A popularidade dos nossos queridos chupadores de sangue já foi muito maior, principalmente após o lançamento da saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Entretanto, tendência ou não, eles estão em todos os lugares. Livros, filmes e séries de televisão sobre o tema foram lançados a todo vapor.
Com uma versão mais clássica dos vampiros, Meg Cabot aproveitou esse período de recessão vampírica para mergulhar mais uma vez no universo sobrenatural. Mais do que isso, a autora fez uma sátira de arrancar gargalhadas, principalmente se, como eu, você também teve uma fase na qual foi fissurada por tais criaturas.
Em Insaciável, publicado pela Galera Record em 2011, Meg nos apresenta Meena Harper, roteirista de uma novela de sucesso que não aguenta mais ouvir falar em vampiros. Até que os produtores decidem acrescentar uma pitada de sangue e mordidas na trama, obrigando-a a escrever sobre eles. Mas até para Meena, que está acostumada com o sobrenatural – afinal, não é comum possuir a habilidade de prever o modo como as pessoas vão morrer – era difícil imaginar era que um dia conheceria um vampiro de carne e osso. E que se apaixonaria por ele.
Lucien Antonesco representa tudo o que é esperado de um príncipe: educado, sedutor, inteligente, rico… Porém, seus súditos não seriam considerados nada comuns. Ele é o soberano das criaturas da noite. E, como em toda história de vampiro que se preze, há um triângulo amoroso, e dessa vez o antagonista de Lucien não é um lobisomem ou qualquer criatura sombria, mas um caçador de vampiros, Alaric Wulf.
Um dos melhores funcionários da Palatina, divisão do Vaticano que combate criaturas das trevas, Alaric, apesar de matar com a maior eficiência os monstros mais horripilantes, não é habilidoso ao lidar com humanos. Porém, há muito mais por trás do seu jeito arrogante e antissocial.
Uma das coisas que mais admiro no trabalho da Meg é sua capacidade de construir personagens verossímeis. Conforme as páginas vão sendo viradas, vamos conhecendo-os mais detalhadamente e nos afeiçoando às suas imperfeições, produtos de experiências passadas, que aos poucos são reveladas. Apesar de se alimentarem de sangue humano, os vampiros súditos de Lucien não podem matar seus “doadores voluntários”. Entretanto, alguns corpos são encontrados com marcas de mordidas, e a partir daí a vida dos três protagonistas se cruza, e a trama começa a ser tecida de um modo que só Meg Cabot consegue fazer.
A febre vampírica é posta em xeque o tempo todo. Através da sátira a autora nos faz refletir sobre o porquê de nos dias de hoje apenas os vampiros que lutam contra a sua própria natureza fazem sucesso. Afinal, eles são criaturas da noite, e é justamente esse lado obscuro que provoca um fascínio tão grande que suas histórias perduraram por séculos.
O enredo flui com maestria, provocando surpresas, principalmente com o desfecho inesperado. Meg nos deixa insaciável por mais. Porém, infelizmente, o próximo volume, Mordida, não correspondeu à expectativa.
Caso você ainda não tenha lido Insaciável, a partir de agora é inevitável não contar alguns spoilers, você foi avisado! Resistirá à tentação?
Lançado pouco antes da Bienal de Livro deste ano, Mordida inicia-se algum tempo após o desfecho de Insaciável. Agora Meena Harper trabalha para a Palatina, utilizando suas habilidades sobrenaturais para ajudar os funcionários da divisão do Vaticano. Contudo, namorar o soberano das criaturas da noite, combatidas pelo seu empregador há séculos, certamente não é compatível com a sua função. Além do mais, não está nos planos dela se transformar em uma vampira.
A trama se desenrola com o surgimento de um personagem misterioso que é brasileiro, o padre Henrique Maurício e talvez tenha a resposta que ao longo de todo livro atormenta Meena: será que há algo de bom em Lucius?! Muitos segredos são revelados e algumas pontas deixadas soltas no volume anterior são atadas. Porém, tudo foi solucionado de uma forma repentina, e a sagacidade e sátira presentes em Insaciável se perdeu notavelmente.
O romance que já se insinua em Insaciável entre Meena e Alaric deveria ser sido trabalhado com mais cuidado e poderia ter sido muito mais explorado. Embora o desfecho não tenha sido o ideal, a versão de Meg Cabot é muito distinta de tudo que eu já havia lido. O que por si só já é um ótimo motivo para entrar no universo sobrenatural criado por ela e se divertir com as críticas, principalmente se a Saga de Meyer não está na sua lista de livros preferidos.
Definitivamente há algo de humano em vampiros, afinal, lidar com nossos instintos é sempre um desafio. Insaciável e Mordida são ótimo exemplos de que ainda há muitas histórias a serem contadas sobre tais criaturas mortalmente sedutoras.
E você, está pronto para ser mordido?! Com certeza há uma versão que seja o seu tipo.
Beijinhos, até a próxima.
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