Todos os belos cavalos

Todos os belos cavalos Cormac McCarthy




Resenhas - Todos os belos cavalos


36 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3


Javalis de Chernobyl 01/02/2024

"Pensou que na beleza do mundo havia um segredo oculto. Pensou que o coração do mundo batia a um custo terrível e que a dor do mundo e sua beleza moviam-se numa relação de equidade divergente e que nesse déficit invertido o sangue das multidões podia em última análise ser cobrado pela visão de uma única flor."(pág.263)

Releitura após 5 anos. Li este livro pela primeira vez em 2019. Agora tenho mais bagagem literária, historiográfica, de escrita, de vida, e da própria obra de McCarthy, tendo já lido alguns livros mais conceituados dele antes de revisitar Todos Os Belos Cavalos.

A narrativa do livro conta a história de dois amigos desiludidos com a vida transitória entre os "bons e velhos dias" do Oeste e a veloz modernização da sociedade americana. Ambos resolvem fugir de suas casas e atravessar a fronteira do Texas com o México e ver o que os espera da vida ao sul do Rio Bravo.
As dificuldades da vida são recorrentes nas entrelinhas do livro, ao passo que elas é o que moldam os garotos à aos poucos se tornarem homens maduros. A violência e a pobreza, consequências do embate entre civilização e barbárie na fronteira mexicano-americana, é parte essencial do cenário.
A história se passa entre os anos 40 e 50, não mais sendo o cenário do "velho oeste" mas ainda assim vemos um cenário completamente estagnado na sua localização espaço-temporal. O próprio fato desse livro ser o primeiro da chamada "Trilogia da Fronteira" mostra como esse cenário é importante pra gente compreender a trama e tudo que orbita em torno das ideias do livro.
A escrita de McCarthy como sempre é muito dura e direto ao ponto, sendo uma narrativa rápida e as vezes até corrida. Porém, a beleza poética por trás de seu texto é o que da vida pro cenário desolador que ele descreve. Como em toda obra de McCarthy, chega determinado ponto onde a violência cobre todo o cenário e paira sobre a cabeça dos personagens como uma entidade quase que com vida própria. A história do menino assassino Blevins, fugido de casa pra escapar de um padrasto violento, que acaba por atravessar a fronteira, é um exemplo disso. A ingenuidade dos garotos também é representada como um mal, num mundo onde a violência é a lei que prevalece.
Os cavalos, ao meu ver, representam muitas coisas no livro. Pros garotos, os cavalos são sua conexão com o passado, com a vida que almejam ter, com as convenções que aquela sociedade atribui à "masculinidade" dos antigos colonos que conquistaram a terra na base da força. Também é a relação de poder entre homem e natureza e também o status (Hector Rocha y Villareal demonstra sua riqueza com a variedade e quantidade de seu gado). A vida das pessoas no campo não seria nada sem seus cavalos.
Ao meu ver, o protagonista John Grady Cole é a representação do excepcionalismo americano. O americano ingênuo que vai pra um país estrangeiro e se enxerga acima da violência, que quer os prêmios (a filha do fazendeiro, os cavalos) e cuja teimosia o impede de enxergar a razão, colocando a sua vida e dos outros em risco.
comentários(0)comente



Ale 03/10/2022

Um romance ao estilo faroeste, mas muito belo e profundo.
Uma busca por sentido.

Gostei muito. Muito, muito bom!!!
comentários(0)comente



Leila 06/05/2023

Todos os belos cavalos de Cormac McCarthy impressiona pela escrita singular e cativante. Embora seja um livro que pode ser rotulado como "western", o autor consegue transcender o gênero e trazer uma história emocionante, que cativa o leitor do começo ao fim.

A trama do livro acompanha a jornada de dois jovens cowboys, John Grady Cole e Lacey Rawlins, que partem do Texas em busca de novas aventuras no México, após alguns percalços e sonhos frustrados em casa. Ao longo do caminho, eles encontram diversos obstáculos e perigos, incluindo bandoleiros, guerrilheiros e traições, mas também descobrem amizades, amor e um senso de propósito.

O que mais chama a atenção na obra de McCarthy é a sua escrita intensa e poética. O autor tem um domínio absoluto da linguagem e utiliza-a de forma magistral para criar imagens poderosas e emocionantes. Cada palavra parece ter sido escolhida cuidadosamente para transmitir as emoções e sentimentos dos personagens, e a atmosfera do livro é intensa e envolvente.

Além disso, McCarthy aborda temas profundos e universais, como a busca por significado e identidade, a amizade, a lealdade e o amor. Ele cria personagens complexos e reais, que parecem saltar das páginas e ganhar vida própria. John Grady Cole, em especial, é um protagonista memorável, cuja jornada é cheia de altos e baixos, mas que acaba por encontrar a redenção e a esperança no final.

Enfim, Todos os belos cavalos é uma obra literária excepciona e embora possa não ser o tipo de livro que eu normalmente "gostaria", eu amei cada página.
comentários(0)comente



Fabio 13/07/2010

Às vezes sou meio atrasado. Quando conheci Cormac McCarthy pensei estar descobrindo a roda, mas uma rápida pesquisa na internet me mostra que ele já não é nenhuma novidade. Me faltava até a informação de que ele era o autor do livro que gerou o Oscar de "Onde os fracos não tem vez". Mas falemos de "Todos os belos cavalos".

Ao terminar este livro me alegrou o fato de não ter gostado apenas por ser um romance ao estilo faroeste, impressão que tive quando o peguei. Sim, estão lá todos os elementos do western: a violência crua, o senso de justiça individual (um pouco diferente da justiça coletiva), tão afeita aos "cowboys" do velho-oeste.
Comecemos pelos contras para chegar aos prós: John Grady Cole é um protagonista clássico. Daqueles que logo de cara nos identificamos e defendemos. A história também possui uma narrativa clássica, numa terceira pessoa que tudo sabe e tudo vê. O panorama que se desenha para um livro "normal", no entanto, é quebrado por dois fatores que relativizam isso: a história em si e a narrativa. A riqueza de detalhes geográficos, a naturalidade de construir ambientes inóspitos e fascinantes torna o livro, do ponto de vista panorâmico, ótimo. Quanto ao estilo da escrita, o autor mostra uma segurança invejável. Não há absolutamente nada que falte e quase nada que sobre (para não ser só elogios, o começo é meio arrastado e a parte da vingança é longa demais). O clima é seco, o personagem é seco, a escrita é seca. Violenta, visceral.

"Todos os belos cavalos" é sim um livro para se ler mastigando cada diálogo, cada paisagem, ou decisão tomada. Aliás, talvez em alguns pontos seja difícil conceber a idade do protagonista. Acredito que o autor colocou-o com dezesseis anos para justificar certo tipo de rebeldia, mas em certos momentos tais atitudes não condizem senão com um adulto. Acho que a intenção é justamente essa, o amadurecimento precoce no lombo de um cavalo. A descoberta da responsabilidade, da amizade, da vocação, da responsabilidade, do amor, da vingança, do sangue, das armas. Talvez seja justamente essa a característica do livro que mais me chamou a atenção: um homem duro, amargo pela vida, mas que acima de tudo age sempre em nome da amizade, sincera e crua, e de uma paixão, igualmente honesta. Todos os atos de vingança, violência, ou truculência de sua parte são, como na física, uma reação apenas. Uma forma de resistência e sobrevivência.
Esse livro me fez querer ler todas as outras obras do autor. Como de costume, colo aqui um trecho. Um diálogo entre John Grady e seu melhor amigo, Rawlins. Ele não usa travessões:

"Rawlins balançou a cabeça., Eu podia fugir de onde me botaram. Era só uma enfermaria de hospital.
Por que não fugiu?
Por que você não?
Não sei. Você me acha burro por não ter fugido?
Não sei. É. Talvez.
Que teria feito você?
Não ia deixar você.
Isso não quer dizer que não seja burrice.
Rawlins quase sorriu, depois desviou o olhar.
Tinha outro cara lá, disse Rawlins. Todo retalhado. Na certa não era um cara mau. Saiu sábado à noite com uns dólares no bolso. Pesos. Patético pra caralho.
Que aconteceu com ele?
Morreu. Quando levaram ele de lá eu pensei como teria parecido estranho a ele se pudesse ver. A mim me pareceu e nem era eu. Morrer não está nos planos das pessoas, está?
Não.
Ele balançou a cabeça. Botaram sangue mexicano em mim, disse.
Ergueu o olhar. John Grady acendia um cigarro. Sacudiu o fósforo e o pôs no cinzeiro e olhou para Rawlins.
E daí?
Daí que quer dizer isso? Perguntou Rawlins.
Dizer o quê?
Bem, quer dizer que sou mexicano?
John Grady tragou o cigarro e recostou-se e soprou a fumaça no ar. Meio mexicano? perguntou.
É.
Quanto eles botaram?
Disseram que mais de um litro.
Quanto mais?
Não sei.
Bem, um litro já torna você quase um mestiço.
Rawlins o olhou. Não torna, torna? Perguntou. Não. Diabos, não quer dizer nada. Sangue é sangue. Não sabe de onde veio.
O garçom trouxe os bifes. Eles comeram. Ele observava Rawlins. Rawlins ergueu o olhar.
Quê? Perguntou.
Nada.
Você devia estar mais feliz por se ver fora daquele lugar.
Eu estava pensando a mesma coisa sobre você.
Rawlins balançou a cabeça. É, disse.
Que vai fazer?
Ir pra casa.
Tudo bem.
Comeram.
Você vai voltar lá, não vai? Perguntou Rawlins.
Vou. Acho que vou.
Por causa da moça?
É.
E os cavalos?
A moça e os cavalos."

p. 191-193.
Giliade 13/07/2010minha estante
Não é nenhuma novidade o fato de você ter gostado tanto da obra, afinal, a nota por si só já justificava isso. No entanto, eu percebo que no decorrer da narrativa você foi se envolvendo a tal ponto, que cada descrição passou a significar a sua própria vida. Melhor que essa, só as outras que virão. Parabéns pela resenha!
Em todo caso, antes tarde do que nunca!*

*Em relação à descoberta tardia do senhor oestino Cormac Mccarthy.




Fabio 13/07/2010minha estante
Valeu cara. Por sinal devo a você, que me emprestou o livro, a descoberta dele, hehe.


jota 12/04/2011minha estante
Pois é, Fábio. Comecei com Todos os Belos Cavalos, depois Meridiano Sangrento, em seguida A Travessia (fabuloso) e agora espero ler A Estrada (vi o filme, muito bom, e sei que vou gostar do livro). Até.


Ricardo Rocha 13/03/2016minha estante
a gente tá inventando a roda, essa é a verdade =)


Bueno 07/02/2017minha estante
undefined




Túlio 28/07/2022

Obrigado
Obrigado C.M. por escrever um livro tão belo e profundo ??! Te amo muito livrinho!! Diálogos curtos, afiados. Prosa belíssima. Incrível.

Obrigado C.M.
comentários(0)comente



Marcus.Vinicius 28/05/2021

Reverência aos EUA selvagem
Narra a história do jovem John Grady Cole, integrante de uma família de rancheiros texanos que, após a morte de seu avô e a venda do rancho da família parte sem destino, acompanhado do primo Lacey Rawlins, em busca de seu destino e identidade. No decorrer do livro, acompanhamos os jovens em diversas aventuras, onde ao mesmo tempo vamos notando o amadurecimento e formação dos mesmos, especialmente do protagonista. Por fim, entendo que o autor tinha em mente fazer uma homenagem ao homem americano do oeste, o cowboy, bem como a toda a beleza selvagem dos EUA, principalmente vista na figura dos cavalos selvagens. Os parágrafos são longos e McCarthy não usa muito as vírgulas, o que torna as frases bem compridas, além de descrever todos os cenários de forma minuciosa, o que requer atenção do leitor.
comentários(0)comente



Tiago.Guedes 10/05/2024

Uma jornada incrivel
Em "Todos os Belos Cavalos", Cormac McCarthy me leva a uma jornada épica pelo México selvagem do início do século XX, acompanhando os jovens John Grady Cole e Lacey Rawlins em sua busca por liberdade e aventura. A narrativa, crua e poética, me prendeu do início ao fim, me transportando para um mundo de cowboys, cavalos selvagens e perigos à espreita.

McCarthy me cativa com sua prosa lírica e descrições vívidas, que me fazem sentir o vento em meus cabelos, o cheiro da terra úmida e a força bruta dos cavalos selvagens. A história é narrada em primeira pessoa por John Grady, o que me permite experimentar o mundo através de seus olhos e sentir suas emoções, desde a inocência da juventude até a dureza da experiência.

O autor explora temas como amizade, lealdade, amor e perda com maestria. A relação entre John Grady e Lacey é complexa e comovente, marcada por momentos de cumplicidade e também por conflitos. O amor de John Grady por Alma, a bela mexicana, é intenso e trágico, e me leva a questionar as definições de destino e liberdade.

"Todos os Belos Cavalos" é um romance épico e inesquecível que me marcou profundamente. A história me acompanha muito tempo depois de ter virado a última página, me convidando a refletir sobre a natureza humana, a beleza do mundo natural e a busca incessante por liberdade.
comentários(0)comente



Bruno 02/04/2023

?Na escola estudei biologia. Aprendi que ao fazerem as experiências os cientistas pegam um grupo - bactérias, camundongos, pessoas - e o submetem a certas condições. Comparam os resultados com um segundo grupo que não foi incomodado. O segundo grupo é chamado de grupo de controle. E o grupo de controle que possibilita ao cientista avaliar o efeito da experiência. Julgar o significado do que ocorreu. Na história não há grupos de controle. Não há ninguém para nos dizer o que poderia ter sido. Choramos pelo que poderia ter sido, mas não existe o poderia. Nunca houve. Supõe-se que seja verdade que os que não conhecem a história estão condenados a repeti-la. Não creio que o conhecimento nos salve. O que é constante na história é a ambição e a tolice e o amor ao sangue e isso é uma coisa que ate mesmo Deus - que sabe tudo que se pode saber - parece impotente para mudar.?
comentários(0)comente



Lucas Lira 14/02/2020

Amadurecimento, pureza, crueldade e beleza. Segundo livro que leio do autor e que fico extasiado com a sua escrita. Parece difícil no meio dos livros um escritor conseguir casar dois estilos tão distintos, que são a crueza da narrativa e a beleza do texto (principalmente em forma de diálogos), mas com certeza não é difícil para o Cormac McCarthy. Com personagens principais que normalmente preservam o ar de “bom cowboy”, aquele homem ligado à natureza, honrado, e com uma inteligência profunda de como as coisas estão ligadas fora do mundo urbano. As descrições iniciais são detalhadas e secas, assim como o próprio ambiente descrito, as conversas entre os personagens se destacam como uma ferramenta importante e essencial no desenvolvimento dos mesmos (e que diálogos!). Esse livro conta a história de um jovem chamado John Grady Cole que sai da sua terra natal no Texas, onde já não pode nem mesmo chamar de lar, em busca de encontrar o seu lugar no mundo atravessando a fronteira para o México. O livro se desenvolve rapidamente e logo fiquei preso à trama e apegado aos personagens que são interessantíssimos, com camadas tão bem exploradas nos diálogos, que ao contrário da narrativa seca e crua, são poéticos e cheios de uma simplicidade tocante. Em minha opinião Cormac McCarthy é um dos melhores escritores que já tive a oportunidade de ler, dono de uma literatura tão bela que aos meus olhos parece um mar de rosas vivas e brilhantes em meio ao deserto seco e árido.
comentários(0)comente



Hannah Monise 13/04/2024

Faroeste, travessia de fronteira, cavalos, romance e prisão
Na minha primeira vez lendo Cormac McCarthy, já não posso dizer que foi uma leitura fácil, pois realmente não foi. O livro é uma mistura de faroeste, com travessia de fronteiras, trabalho com cavalos, romance, prisão...

Dois amigos, John e Lacey, decidem fugir de casa e atravessar a fronteira do Texas, E.U.A. para o México. E aí então eles passam por muitas coisas durante essa travessia feita a cavalo, como risco de vida, amadurecimento e, mais para frente, um romance entre John e Alejandra.

Ao mesmo tempo que foi uma leitura bem ok, que dava para avançar rapidamente, também me dava um pouco de preguiça de continuar por ser uma história que não me despertava tanto o interesse. Em alguns momentos, o livro é um pouco enfadonho também, mais lento. Porém, foi de 8 a 80 muito rápido! A prisão deles deu um gás e deixou mais interessante, e aí amei as partes política, histórica e romântica.

Então temos desde cenas fáceis de ler a outras extremamente descritivas, que fazem com que a leitura fique cansativa em certos momentos. Apesar disso, ainda bem que persisti e finalizei! É um livro muito interessante e bem escrito. Vale a pena a tentativa da leitura pra quem gosta de livros mais "cults" e calmos, mais puxados para clássico.

"Muito antes do amanhecer eu sabia que o que tentava descobrir era uma coisa que sempre soubera. Que toda coragem era uma forma de constância. Que era sempre a si mesmo que o covarde abandonava primeiro. Depois dessa todas as outras traições eram fáceis." (76%)
comentários(0)comente



Mathias Vinícius 30/08/2023

Um comentário sobre: Todos os Belos Cavalos
Antes de falar sobre o livro, gostaria de compartilhar como cheguei até ele. Durante minha infância, nunca tive interesse para a temática do velho oeste. Sempre achava chato e meio que sem sentido um bando de gente andando a cavalo no deserto, com o sol sob suas cabeças, tiros de revólveres para todos os lados, animais de carga indo e vindo, além de outras características comuns, como chapéus de cowboy, selas e laços, e pessoas vivendo suas vidas pacatamente, ora correndo atrás de bandidos, ora sendo os mesmos.

Existe um elemento particular que me faz esquecer que um dia eu já desgostei dessas coisas: a memória afetiva. Ela vem e me faz lembrar do meu avô Luiz.

Que melhor pessoa para personificar um pacato cidadão de um lugarejo que seu Luiz? Meu avô era esse homem. Nascido na roça, na Usina Santa Maria, com uma família grande de 7 irmãos e indo trabalhar em casa de família desde os 7 anos. Como eu poderia não gostar de algo que meu avô viveu? Talvez por conta de minha tenra idade, eu não poderia compreender aquilo. Mas hoje, com meus 26 anos e tendo sido privilegiado por ter passado dias incríveis ao lado dele, eu posso dizer que eu consigo entender porque toda a ideia de velho oeste agradava o meu avô.

Mas a história aqui não é sobre o meu avô, embora ele mereça todos os créditos por ter ao menos insistido em me fazer assistir aos filmes de bang-bang com Clint Eastwood, Marlon Brando, Viva Zapata, Por um Punhado de Dólares, ou quando, da vez em que eu estava tocando violão na varanda de casa, ele chegou e ficou todo empolgado ao me ver tentar tirar a música House of the Rising Sun, mas que eu ainda acho que ele estava confundido com alguma música do Andorinha Barbosa ou do Francisco Alves.

Ah, meu avô, como você faz falta em horas assim, para que eu pudesse curtir esses filmes, músicas e livros com você! Infelizmente, minha imaturidade não me deixava entender sobre essas coisas, mas agora corro atrás desses momentos perdidos. Quando escuto as músicas do seu tempo, meus olhos ficam marejados e recordo das boas lembranças que vivi com você.

Dito essas palavras, vamos ao livro.

No mês julho eu estava jogando Red Dead Redemption 2 (SOBRE JOGO: seguimos na pele do fora-da-lei Arthur Morgan e do bando de Van der Linde, liderado por Dutch Van der Linde. O enredo gira em torno das tentativas do bando de sobreviver em um mundo em rápida transformação, à medida que a era do banditismo dá lugar à modernização e à lei. Lealdade, família, honra e moralidade são alguns dos temas abordados em meio a um cenário de terra e assaltos, fugas e conflitos internos.) e concluindo o jogo, eu estava mais que imerso dentro daquele universo e não queria abandona-lo.

Comecei a ir em busca de livros que tivessem semelhança com a história do jogo e depois de pesquisar cheguei no autor Cormac McCarthy, um dos autores norte-americanos mais famosos do século XXI. Conhecido pelos livros Meridiano de Sangue (1985), Onde os Velhos Não Têm Vez (2005), A Estrada (2006) e a trilogia da planície, com os livros: Todos os Belos Cavalos (1992), A Travessia (1994) e Cidades da Planície (1998). Tendo muitas opções para poder conhecer esse autor, acabei decidindo ir pelo que eu achei ter o enredo mais próximo do que eu esperava, Todos os Belos Cavalos.

A narrativa acontece no ano de 1949 com John Grady Cole, um jovem de 16 anos que acabou de perder o avô e vê a eminente venda da fazenda família onde vive. Revoltado com essa situação, Lacey Rawlins, seu amigo de infância e braço direito, ambos decidem em fugir daquele local e para uma jornada a cavalo pelas planícies áridas do sul dos Estados Unidos até o México, uma forma de autodescoberta por parte dos garotos. Além de ir ao encontro com o mais perigoso e forte dos sentimentos que o ser humano pode ter, o amor, com uma jovem mexicana, Alejandra, que também não consegue compreender porque precisa seguir com rigor os dizeres da mulher daquela época. McCarthy conseguiu me fazer mergulhar naquela paisagem desértica alaranjada que imaginamos quando se trata daquela região de fronteira do Texas com o Mexico. Não sei dizer se eu me fiz um quarto cavaleiro acompanhado os garotos, vê-los fazendo as descobertas de como o mundo não é morango, me fez lembrar quando eu comecei a trabalhar aos 19 anos. Não foi fácil e eu acredito que nem era para ter sido, mas das muitas situações que passei, assim como John, Rawlins e Blevins(não quero falar muito sobre ele, mas ele é importante para trama) elas foram importantes para o amadurecimento de cada um. “As cicatrizes têm o estranho poder de nos lembrar de que nosso passado é real. Os acontecimentos que as causam jamais podem ser esquecidos, podem?”

Mas o que me chamou mais atenção no livro é como o elemento que está sempre presente em cada uma das empreitadas narradas ao longo romance tem importância, o Cavalo e a Morte. O que seria das daquelas pessoas se não tivesse esse animal? O que seria do ser humano se o cavalo nunca tivesse se tornado um animal domesticado? De nada seriamos, eles são parte vital para toda transição ao longo das grandes porções de terra, nas guerras eles foram essenciais para as vitórias, além de servirem de companheiro para o cavaleiro ao longo de uma vida. A sua ligação é única, “as almas dos cavalos refletem as almas dos homens muito mais do que supõem os homens e que os cavalos também adoram a guerra. Os homens dizem que só eles aprendem isso mas ele disse que nenhuma criatura pode aprender o que seu coração não tem capacidade de conter[...] Disse que se a pessoa entendesse a alma do cavalo entenderia todos os cavalos que já existiram.”

Ainda sobre a morte, tema que somos apresentados no primeiro paragrafo do romance e vai nos acompanhar até o final do livro é importante para ser como um combustível que move o protagonista para uma nova direção em relação a sua vida. O psicanalista Jung considerava que a vida e a morte eram como rivais, mas sim como aspectos complementares da travessia humana que se configuram na jornada, perdas e ganhos diários, nos ritos de passagem, entre outros símbolos que metaforizam a morte como símbolo de finitude e renascimento.

Uma comparação que gostaria de abordar é a semelhança entre a trajetória de John Grady e a de outro jovem da literatura, Holden Caulfield, do romance "O Apanhador no Campo de Centeio" de J. D. Salinger. Embora à primeira vista eles possam parecer opostos em relação às suas personalidades, com John sendo idealista, romântico e de ação, enquanto Holden Caulfield é sarcástico, cínico e tenta ser um homem de lábia, suas semelhanças surgem quando ambos se sentem deslocados e solitários, buscando encontrar sentido para suas vidas por meio de jornadas de autodescoberta. John Grady parte em uma jornada física pelo México, que se transforma em uma busca interior por sua identidade e propósito. Holden, por sua vez, embarca em uma jornada emocional enquanto explora suas próprias angústias e tenta compreender o mundo ao seu redor. O profundo amor de John pelos cavalos e pela vida no campo é de certa forma similar ao valor que Holden atribui à autenticidade nas relações humanas, rejeitando a falsidade e a hipocrisia que percebe na sociedade.


site: https://www.instagram.com/um_comentario_sobre/
comentários(0)comente



Samuel920 06/01/2023

Vai lá na alma
Comarc macarthy é um escritor que usa o mínimo de pontuação possível em seus textos. Macarthy usa pouquíssimas vírgulas, dispensa ponto e vírgula e não usa travessões pra marcar as falas dos personagens. O resultado é uma escrita primorosa, repleta de polissíndetos, com frases e diálogos diretos e certeiros.

John Grady cole é o último descendente de uma família que possui uma fazenda no texas,em San Angelo. Seu maior sonho era poder ficar na fazenda e tocar sua vida nela ao lado dos cavalos e da natureza. Quando vê seu seu sonho tirado de si,resolve partir para a fronteira em busca de trabalho e aventuras.

A relação que nosso protagonista tem com os cavalos é de uma beleza, de uma força, de uma magnitude que faz qualquer um se sentir naquele mundo, onde as imensas pradarias domimam as paisagens, trazendo um amálgama entre o homem, cavalos e natureza.

O livro é belo e brutal ao mesmo tempo.Tudo é Belo, mas o destino é brutal.É incrível como o autor consegue transmitir todos os sentimentos dos personagens,apenas com diálogos simples e,muitas vezes,com silêncios.
comentários(0)comente



Jão 09/12/2023

Fenomenal
A primeira experiência lendo Cormac foi com ?Onde os velhos não tem vez? por causa da adaptação maravilhosa para o cinema. De cara tive a estranheza com a escrita dele, mas com a leitura fui me adaptando e entendendo.

?Todos os belos cavalos? é meu segundo contato com o autor e agora, mais familiarizado com sua escrita a experiência foi muito mais impactante. É um deleite apreciar as descrições que ele faz, você se sente presente ali na cena. Esse livro em especial me lembrou muito as histórias contadas pelo meu avô quando mais jovem viajando pelo interior do Brasil, mais ou menos na mesma época em que o livro se passa.

Com um enredo simples e ao mesmo tempo profundo, você acompanha dois jovens frustrados com suas vidas e que decidem partir para o desconhecido montados em seus cavalos, e a descoberta deles de um mundo muito maior é muito mais cruel do que conheciam até então.
comentários(0)comente



Adriano 06/02/2020

Que livro! Que prosa!
Vontade de ler "Onde os velhos não tem vez" e "Meridiano de sangue" .
Não é tão que ele é considerado um dos principais escritores norte americanos do romance pós moderno.
comentários(0)comente



Emanuel.Silva 07/07/2020

Yeah, I'm gonna take my horse to the old town road
Dizem, que o homem que não conhece o lugar de onde veio, está eternamento fadado a não saber para aonde ir.

Neste belíssimo romance de McCarthy, temos John Grandy, jovem rancheiro, partindo de sua cidade natal do Texas, rumo ao México. O motivo é que a fazenda onde passou toda a sua infância e adolescência será vendida, pois, com a morte do avô (proprietário), sua mãe (filha que ficou com o direito ao terreno) pretende vender tudo.

Esta decisão vai contra todas as vontades de John, que sempre sonhou em manter-se na sua terra, vivendo a vida que seu avô contou ter tido, se deparando com esta impossibilidade, parte à cavalo acompanhado de seu amigo Rowlins. Os dois iniciam a aventura e vão para o México, trabalham em uma fazenda de um ricaço, correm perigo, domam cavalos, bebem, conhecem outras pessoas e mundos completamente diferentes, não vou me alongar.

Todos os belos cavalos é um livro sobre a transformação, sobre a passagem para a vida adulta, vemos John Grandy saindo como um jovem até que rebelde, impossibilitado de viver o sonho que tanto quer, acompanhamos seu primeiro amor, seus primeiros conflitos, suas falhas e suas angustias. Tudo em busca da vida que ele sempre pensou que deveria ter, como um rancheiro, tomando conta de uma fazenda e por ai vai.

Acontece que a vida é cheia de muralhas, são tantas as pedras no caminho e John Grandy vai lidando com todas essas impossibilidades, para regressar ao Texas, não melhor, nem pior, mas diferente, mudado, em movimento.

Nosso impossível herói pensava conhecer o lugar de onde veio, e consequentemente para aonde queria ir, entretanto o mundo a vir é sempre diferente e o mundo do agora é sempre, impossibilitado, inconstante, e por isso nos restam os cavalos, "que tinham coração ardente e sempre seria assim e nunca de outro jeito."pg. 8
comentários(0)comente



36 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3