nenos 27/08/2023
A ilusão do sistema integrado
Inteligência é definida, em uma definição abrangente, como: Uma capacidade muito geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rapidamente e por meio da experiência. Longe de ser apenas uma habilidade acadêmica, uma aprendizagem livresca ou esperteza para testes, o conceito de inteligência sofre mutações, com várias maneiras de ser inteligente e reflete uma capacidade ampla e profunda para compreensão do ambiente.
Aprendizagem não é algo óbvio que pode ser atribuído somente ao resultado do foco e da concentração. E para explicar, ajudar na compreensão, suscitar discussões e correlacionar os estudos da aprendizagem na Neurociência, Dr. Ramon Cosenza, médico, doutor em Ciências, professor aposentado da UFMG e autor. A obra em si propõe que o papel do educador pode ser mais significativo e eficiente quando ele conhece o funcionamento cerebral, o que pode contribuir em uma maior compreensão dos fenômenos observados e para o sucesso da conduta proposta, qualquer que seja ela.
Os temas avaliados incluem o funcionamento dos neurônios, regiões do cérebro relevantes ao tema, nossos sentidos, processamentos inconscientes, controle motor e vias sensoriais, funcionamento do córtex cerebral, formação e capacidades do cérebro, os processos da atenção, distinções da memória, o importante papel das emoções, o sistema nervoso e as funções executivas, o córtex pré-frontal, o papel do educador, os processos neurobiológicos da leitura e da fala, um entendimento completo sobre lesões e o diagnóstico de síndromes e transtornos, as múltiplas inteligências, e por fim, mas não menos importante, a influência dos fatores ambientais e o viés cultural do aprendizado.
Importante salientar que a maior parte dos processos que ocorrem no cérebro é inconsciente, como a regulação do meio interno, e que não existe correspondência direta entre determinados neurotransmissores, estruturas ou circuitos especializados que regem emoções específicas e a consciência integrada. O estudo das neurociências é relativamente novo com interações muito complexas, e nas palavras do autor, só agora estamos começando a entender como funcionam esses processos, bem como interligar ativações cerebrais com comportamentos.
Através da abordagem interdisciplinar, Dr. Ramon demonstra como a autorregulação emocional, ou seja, a capacidade de modular o comportamento de acordo com as demandas cognitivas, tem um papel importante no aprendizado. A título de exemplo: Um dos mecanismos interligados com a autorregulação é a atenção, e a atenção seleciona a informação importante a ser processada, deixando de lado o que for dispensável para economizar energia e por falta de capacidade de examinar tudo ao mesmo tempo.
Ultrapassando o filtro da atenção, a informação que se torna consciente leva à memória e suas classificações. Planejar estratégias comportamentais, supervisionar nossa agenda e traçar novos planos respeita uma capacidade limitada dos sistemas fragmentados de repetição: a memória. Contudo, entendemos e subvertemos as conhecidas memórias de curto e longo prazo em conhecimentos adquiridos, lembrados e utilizados conscientemente, ou seja, conhecimentos em que a memória se manifesta sem esforço ou intenção consciente.
Ademais, o registro permanente consolidado é constantemente posto à prova em um ambiente hostil com ameaças psicológicas e regido por um dispositivo aperfeiçoado para guardar, de forma majoritária, aquilo que se repete com frequência e dados relevantes para a sobrevivência. Correlacionar toda essa parafernália a seres humanos traz um sentimento de não pertencimento e, como diz o neurocirurgião Dr. Henry Marsh: É estranho conceber que meus instrumentos passam através do próprio pensamento, através da emoção e razão, que memórias, sonhos e reflexões fazem parte dessa estrutura gelatinosa.
Link dos meus highlights: https://drive.google.com/file/d/100APE4xwWsjuFYbRBrAjsQbJF-ANIP0b/view?usp=sharing