PorEssasPáginas 03/06/2013
Resenha Contos de Meigan - Por Essas Páginas
Resenha original no blog Por Essas Páginas: http://poressaspaginas.com/a-cuca-recomenda-contos-de-meigan-a-furia-dos-cartagos
Fala aí, pessoal! Faz um tempinho que eu não apareço por aqui com a minha fantasia de Cuca, não é? Bem, acontece que a Cuca foi pega (na verdade, completamente abduzida) por essa obra fantástica brasuca da Roberta Spindler e da Oriana Comesanha. Já falei um pouquinho de Contos de Meigan aqui nesse post de expectativas. Conheci a querida da Roberta através dos meus contatos literários como autora e ela resolveu me mandar o livro quando descobriu que eu postava aqui no Por Essas Páginas. Que sorte a minha, porque esse livro é um achado. Em uma única palavra: épico! ‘Bora lá saber se A Cuca Recomenda?
Meigan é um mundo completamente novo e original criado pelas autoras. E quando você lê esse livro realmente tem a sensação de que Meigan existe. Aplaudo de pé escritores que conseguem criar todo um mundo, um universo em suas histórias, de maneira tão verossímil e detalhista. A leitura traz a impressão de que cada cantinho desse enorme mundo foi cuidadosamente planejado; Meigan tem sua história, suas regras, seus costumes, seus habitantes e seus lugares muito bem descritos. Você percebe todo o cuidado das autoras com o mundo delas e, para quem lê, Meigan é muito real. Temos claramente a sensação de que vamos transpor uma barreira e chegar lá de alguma maneira. E isso é incrível! Não deve em nada a grandes mundos criados pela fantasia como o mundo da magia de Rowling, a Terra Média de Tolkien, o Mundo Médio de King ou Westeros do Martin. Todo esse cuidado e esse universo criado pelas autoras é um ponto incrivelmente forte do livro. Meigan também tem sua própria e complexa política e é disso que se trata em grande parte Contos de Meigan, em minha opinião: política.
Por esse motivo, por ser um livro extremamente político e cheio de intrigas e conspirações, Contos de Meigan é também um livro muito denso. Ele é gostoso de ler, mas é daqueles livros que você algumas vezes tem que parar e arejar a cabeça para não saturar a mente. Ainda não li Guerra dos Tronos, mas quando comentei com meu marido que já leu que tive essa sensação ele disse que é a mesma que ele tem ao ler a série de Martin. Então o fato de ele ser denso e de eu ter demorado um pouco para lê-lo não foi um problema, pelo contrário, é outro ponto forte. Apenas foi uma leitura diferente do que estou acostumada (eu costumo devorar os livros loucamente que nem chocolate, confesso!).
A história começa com Maya, uma jovem impulsiva e corajosa, muitas vezes imprudente, que teve uma infância e uma convivência perturbada com a mãe e, por esse motivo, refugiou-se por anos na Terra dos humanos. Sua mãe é a Shyrat de Meigan (uma espécie de líder maior daquele mundo) e, por isso, Maya sempre se viu à sombra das responsabilidades da mãe. Sentindo-se sozinha e relegada a segundo plano, ela decide se exilar na Terra. Porém, um dia resolve voltar e tentar se acertar finalmente com a mãe, só que o seu timing foi meio ruim: quando Maya retorna Meigan está sendo atacada pelos cártagos, que são os magis (leiam a sinopse que lá explica um pouco sobre os magis) que foram exilados da sociedade de Meigan (em uma explicação bastante resumida) e se tornaram seus inimigos.
Então vocês já perceberam que o livro começa frenético, não? O começo realmente é bastante agitado, para depois desacelerar e, como eu disse, se tornar bem mais denso e político. O início do livro conta com essa batalha entre os magis, os guardiões (já vou falar um pouco deles) e os cártagos. Somos apresentados ao mundo de Meigan e a alguns personagens no meio dessa guerra, o que é um método bastante interessante e até mesmo ousado de começar um livro.
Durante essa batalha, Maya conhece um guardião que salva sua vida e ele ainda vai ser muito importante na história. Guardiões são criaturas, de aspecto humano à primeira vista, mas que utilizam sempre uma máscara que cobre seu rosto (agora entenderam a capa do livro?). Ninguém sabe se por trás daquela máscara há um rosto ou algo horrível. Os guardiões protegem os sete portões que guardam a capital de Meigan. Eles têm poderes incríveis e são praticamente uma lenda nesse mundo.
Após esse conflito inicial, Maya se vê em uma encruzilhada, uma situação terrível na qual precisa tomar uma decisão: assumir suas responsabilidades como Shyrat ou continuar fugindo? Inicialmente, ela escolhe fugir e é devido a esse ato pouco responsável, impulsivo e até negligente que Maya começa a crescer como personagem, conhece melhor o sétimo guardião, Seth, e também um dos personagens mais carismáticos e importantes da trama, o Sábio Keyth. Aliás, uma das coisas mais incríveis é como Maya evolui; confesso que não tinha muita paciência com ela no começo, porém, aos poucos, ela vai se tornando uma pessoa melhor e mais madura, e o leitor acompanha essa mudança e vai se envolvendo com a personagem mais e mais.
Seth também é um personagem interessantíssimo; aos poucos vamos conhecendo-o melhor também e ele passa por sua própria mudança durante o livro. Porém não vou falar muito sobre ele, caso contrário posso soltar spoilers. Só digo que ele é o tipo de personagem que as pessoas costumam se apaixonar. Misterioso, interessante, corajoso, teimoso, duro e ao mesmo tempo com um bom coração: esses são alguns adjetivos que consigo usar para descrevê-lo.
Mas, ah, o Keyth! Vou abrir meu coração aqui e confessar: ele é o meu queridinho! Se ele não fosse tão velhote, eu casava com ele. Aliás, se tivesse um sidestory ou algo assim sobre ele, principalmente se fosse com ele jovem, juro que eu pegava! As autoras conseguiram construir um carisma incrível para com esse personagem. Keyth é leve, engraçado e delicioso de ler, porém, mesmo com essa aparência suave, ele também é uma figura importantíssima para a trama, com seus segredos obscuros, sua carga emocional altíssima e seus momentos de seriedade. Grande parte do livro se passa com a dinâmica entre ele, Maya e Seth e, posso afirmar que essa dinâmica é muito bacana, mas ela é ainda mais fantástica devido ao personagem de Keyth.
Só falando sobre esses três personagens principais já temos uma ideia de que as autoras são extremamente habilidosas ao criar personagens, não? E realmente elas são. Todos os personagens são bem construídos, reais e com um background que nos faz acreditar e torcer/vibrar/odiar/nos surpreender com eles. É de admirar quando um autor consegue, mesmo em um livro e um mundo tão grandes como Meigan, criar personagens memoráveis, daqueles que você não consegue esquecer. Apesar de seres vários os personagens do livro, quando eles aparecem é uma experiência única e você sabe muito bem de quem se trata. Eu detesto quando há confusão de personagens em um livro, sabem? Quando você lê o nome de uma pessoa e fica pensando meia hora para descobrir quem raios é aquele cidadão. Isso acontece bastante em livros com muitos personagens, porém em Contos de Meigan isso definitivamente não ocorre. É uma habilidade genial de um autor gerir tantos personagens e ainda assim dar uma identidade única a todos eles; uma qualidade que encontrei em poucos, como J.K. Rowling, para citar um exemplo.
Ah, se eu fosse falar de todos os personagens interessantes desse livro… Allan, Isabel, Joen, os mestres de Anahat, Sebastian… (se abana aqui porque esse é quente). Mesmo os personagens que foram adicionados no final do livro são intensos e atraentes, e logo você se completamente envolvidos por eles. É de tirar o chapéu mesmo.
Em certo momento também conhecemos e vivemos um pouco junto a Maya do aprendizado em Meigan. Maya frequenta uma academia onde aprende a melhorar suas habilidades de combate e habilidades com os mantares. Essa foi uma parte muito interessante do livro, é quando a gente tem vontade de se mudar para Meigan e aprender tudo aquilo, participar dos treinamentos… É também aqui que conhecemos outros personagens que vão se integrar à trama e onde muitas das conspirações do livro são reveladas. Como eu disse, Contos de Meigan é um livro extremamente político.
E é essa política e todas as conspirações que nos conduzem por toda uma história complexa, na escrita cuidadosa dessas autoras brilhantes. Por causa disso sim, o livro é denso e algumas vezes lento, porém as partes das aventuras compensam e o leitor passa de momentos pesados para situações alucinantes de tirar o fôlego. Só acho que em alguns momentos havia muitas descrições e algumas cenas que não eram assim tão necessárias, o que contribuiu para o livro ser enorme como é. Mas isso tá mais para uma cisma minha com fantasia do que para outra coisa, porque eu também teimo em reclamar disso em vários outros livros de fantasia, principalmente em Senhor dos Anéis, como já falei em alguns posts por aqui no blog.
Agora, vocês reparam como eu citei sagas fantásticas super conhecidas e aclamadas nessa resenha? Bem, eu fiz isso porque Contos de Meigan não deve em nada a nenhuma delas. Dá um enorme orgulho ler uma saga tão complexa, bem escrita e épica como essa e, de brinde, saber que ela é produto nosso, nacional. Um livro como esse só demonstra como os nossos autores estão crescendo e se destacando, e como existem várias obras de qualidade despontando aí no mercado. Portanto, se você aí tem algo contra livros nacionais, pode ir se despindo desse preconceito sem fundamento: leia esse livro e descubra como existe gente muito boa escrevendo aqui na nossa terra. Contos de Meigan é uma das leituras nacionais mais ricas e é altamente indicado para todos, mas principalmente para aqueles que curtem fantasia e histórias épicas.
O livro também conta com algumas referências nerds deliciosas – e referências feitas do jeito certo, sem aquele negócio de jogar uma citação entre aspas a todo momento, mas sim inseridas no contexto da história, do jeito que tem que ser. Abri um sorrisão quando vi que a moeda de Meigan se chamava rupi, uma clara referência ao game The Legend of Zelda, no qual as moedas se chamam rupees. Comentei com a Roberta e ela confirmou e disse que eu fui a primeira a encontrar essa referência! Ela também disse que há referência ao game Final Fantasy, mas essa eu deixo para o meu marido achar, que ele gosta mais desse jogo. Será que vocês conseguem encontrar todas as referências?
Minha única e exclusiva ressalva para o com o livro é essa: é uma série e eu não tinha a mínima ideia disso quando comecei a ler o livro. Quando vi esse livro enorme pensei: “para ter esse tamanho só pode ser um livro único”. E nas vezes que esbarrei com comentários sobre o livro não encontrei nada falando sobre ser uma série. Só que eu fui lendo e percebendo que alguns conflitos não se resolviam, apesar de estar muito próxima do final. Eis então que vi a Roberta falando no twitter dela que estava revisando Contos de Meigan 2. Fiquei em choque, falei com ela e ela me confirmou. Aí eu abri os dados catalográficos do livro, virei e revirei capa, contracapa e orelhas e não encontrei nada que indicasse que esse é o livro 1 de uma série. Não fiquei decepcionada com o livro: quando o terminei tive uma vontade absurda de botar as minhas mãos na continuação. E também acho extremamente corajoso e louvável construir uma saga – uma trilogia, como a autora me disse – aqui no Brasil. Quer dizer, mesmo que você tenha um texto incrível nas mãos, sabemos muito bem que publicar no Brasil ainda é um fato heroico, quanto mais publicar uma série?! É de se admirar. De fato, eu fiquei foi bastante decepcionada com a Editora Dracaena, que deveria ter deixado um pouco mais claro no livro e nos dados dele que se tratava de uma série. Um livro fantástico desses a editora tem a obrigação de assumir o compromisso de apoiar a publicação dos demais livros da série, não ficar com receio de publicar o restante, mas a gente também sabe que o mercado funciona desse jeito: só importa se o negócio vende. Posso até estar errada, mas foi isso que senti. Apesar de que essa atitude não é novidade: também me senti assim lendo A Pousada Rose Harbor, só para citar outro livro que descobri só no final que se tratava de uma série. Sério, gente, isso deveria ser avisado logo de cara. Então fica aqui uma sugestão para as editoras: avisem seus leitores, sejam honestos com eles. Se o livro for bom, nós vamos ler o livro 1, 2, 3, 10, 15, 20… Se não, não adianta que não rola, gente. Mas fiquem tranquilos, o livro em questão aqui vale muito a pena ser lido, bem como suas sequências que espero de coração que as autoras já tenham se acertado para publicar, porque quero muito ler!
E então, A Cuca Recomenda? A resposta é com certeza! Contos de Meigan é um livro recomendadíssimo. Roberta Spindler e Oriana Comesanha: fiquem de olho nessas duas autoras, pessoal. Elas são talentosíssimas. E Contos de Meigan – A Fúria dos Cártagos é um livro grandioso e brilhante que deve ser lido e apreciado. Uma grande obra caprichosa e muitíssimo bem escrita que vale a pena ser lida.