Brayan 20/01/2014
Um Thriller de Opostos
Como definir em palavras o que esse livro me causou? Sinceramente, não sei como. Eu só posso dizer que é um livro chocante e eu não digo isso por apresentar cenas fortes e impactantes, porque em si não tem, mas pelo o que ele me fez pensar no decorrer da história. Pensando bem, chocante seria a palavra ideal.
O livro conta a história de uma adolescente, chamada Shelley, e de sua mãe que após passarem a vida toda sofrendo decidem se mudar para um chalé bem afastado de tudo e de todo o mundo. Tudo começa quando a Shelley passa a ser vítima de bullying na escola, e essa foi uma das melhores partes do livro pelo fato de apresentar e tratar o problema de uma forma bem real e coerente, a grande sacada foi que nós enxergamos essa situação toda pelos olhos da vítima e acabamos por entender melhor a magnitude desse mal que tanto assola as escolas. Além do bullying, a nossa protagonista ainda está passando pelo divórcio de seus pais e pela aparente rejeição que está sofrendo por parte do pai, que abandonou sua mãe para se casar com outra mulher mais nova. Essa situação também foi muito bem trabalhada, é possível sentir a dor dela pelo pai ter ido embora e, sinceramente, fiquei com muita raiva dele. Porque como se já não bastasse abandonar a família, ainda deu um jeito de prejudicar a vida profissional da ex-mulher.
Enfim, depois de tudo isso, as duas se mudam para o chalé madressilva onde finalmente parecem ter encontrado a paz. Shelley passa ter aula em casa e leva uma vida tranqüila com sua mãe cuidando da casa, lendo na janela do quarto e tocando flauta. Depois de alguns meses, o aniversário de dezesseis anos dela está chegando e tudo está muito bem, até que... tudo desmorona bem na cabeça de mãe e filha.
Bom, a narrativa é toda feita em primeira pessoa pela visão da Shelley. Em algumas partes do livro ela me incomodou um pouco devido a sua infantilidade, mas acho que isso foi necessário para que a gente pudesse acompanhar a evolução da personagem. Sua mãe é uma mulher doce, mas, assim como a filha, é muito tímida e prefere se esquivar ao invés de encarar os problemas de frente. E, assim como Shelley, evolui de uma maneira surpreendente no decorrer das páginas. Não se deixe enganar pela timidez das duas, elas tem muito mais força do que se imagina.
O desenrolar da história é de tirar o fôlego e te deixar absurdamente tenso. A escrita é envolvente e bem fluida. Uma outra coisa que me agradou foi que o autor traçou um paralelo entre a situação das personagens com um clássico da literatura, mas você vai ter que ler pra descobrir qual é. O final do livro foi bem satisfatório, mas não me agradou muito. Não sei explicar bem o porquê, mas acho que deveria ser algo mais impactante talvez.
Então é isso, um livro extremamente bom, que merece ser lido. Se você gosta de thrillers psicológicos, essa é uma boa pedida.
Algumas das minhas frases preferidas do livro:
"Saber o que aconteceu depois me faz pensar em como a aparência e o comportamento delas em relação a mim mudaram na mesma época. Sempre me perguntei se existia alguma conexão. Nossa aparência afeta nossa personalidade? Ou é nossa personalidade que afeta a nossa aparência? A pintura corporal para a guerra transforma um índio covarde em um guerreiro corajoso? Ou um guerreiro corajoso se pinta para mostrar sua crueldade? Um gato sempre parece um gato? Um rato sempre parece um rato?" (páginas 20 e 21)
"Penso que quanto maior o trauma, menos adequadas as palavras se tornam, até enfrentarmos o maior de todos os testes, quando apenas o silêncio parece apropriado." (página 27)
“Grande parte do que minha mãe era se baseava no que lia. Era isso o que a cultura de classe média criava? Pessoas formadas mais por aquilo que liam que pelas próprias experiências? (página 148)
"...não importa onde estejamos ou o que façamos, a Morte e o Horror estão sempre por perto. O desafio é seguir com nossas vidas e sermos felizes mesmo que sempre possamos vê-los, de relance e borrados, mas ainda reconhecíveis no fundo de cada cena." (página 236)