Leitora Viciada 27/02/2012Desde que vi o nome de James Patterson encabeçando a lista do autor mais bem pago de 2011 pela Forbes, senti imensa vontade de ler algo do autor. Ao receber este convite para resenhar o livro 4 de Julho pela Editora Arqueiro fiquei muito empolgada.
Pesquisei sobre o livro, já que é uma série (Clube das Mulheres contra o Crime) descobri que a maioria dos blogs literários erra em apresentar a série, dizendo que a primeira publicação no Brasil começou pelo volume quatro. Sim, 4 de Julho é o quarto livro dessa série de Patterson e sua colaboradora Maxine Paetro. Porém, o que pouco se divulga é que a Editora Rocco já havia publicado no Brasil os três primeiros volumes desta série. Além desses quatro volumes, existe ainda o 5º Cavaleiro, também publicado pela Arqueiro.
Ou seja, a série está sendo publicada no Brasil na ordem correta, porém trocou de editora, da Rocco para a Arqueiro.
No entanto, o mais bacana é que o leitor pode ler os livros aleatoriamente. Não existe a necessidade de seguir a ordem. Mas sempre acho melhor, por via das dúvidas, ler qualquer série na ordem cronológica, para sentir as personagens de forma mais intensa. Como eu queria apenas experimentar, escolhi o tão elogiado 4 de Julho. Gostei e pretendo, assim que for possível, ler todos os outros livros. Gosto dos títulos porque como cada um possui um número, referente à sua colocação na cronologia, o leitor não se confunde nem erra a ordem.
A série também já originou um seriado transmitido no Brasil pela Fox, e teve uma única temporada de treze episódios.
As capas da Arqueiro estão bem mais bonitas que as da Rocco pelo simples fato de destacarem esses números, da mesma forma que as capas originais fazem nos Estados Unidos. Só faltou o alto relevo no título para ficar igual.
Pelo título representar uma data muito especial dos Estados Unidos, pensei que seria uma história ligada à Independência deles, que seria talvez um livro patriótico, ligado à política de lá... Mas foi um engano meu. O título foi escolhido por causa do número quatro (claro) e porque nesse dia, a protagonista se livra de um grande problema que pesava em seus ombros, passando por um tipo de independência pessoal e íntima. Gostei do trocadilho inteligente.
O livro é um thriller corrido e frenético. Os capítulos são bem curtos, alguns não chegam a completar uma única página. É um livro policial dividido em cinco partes e possui no total cento e quarenta e cinco capítulos mais um epílogo, distribuídos em duzentas e sete páginas. A partir dessas informações técnicas comprovo a vocês o quanto a leitura é rápida e dinâmica, pulando de capítulo a capítulo, de cena a cena. Nem todos gostam desse tipo de leitura fragmentada, onde às vezes os fatos passam rapidamente demais. Já outras pessoas adoram essa dinâmica que atiça ainda mais a curiosidade em ler só mais um capítulo, afinal é tão curto...
Quando iniciei a leitura, que é cheia de personagens femininas fortes, representadas por mulheres independentes e unidas contra o crime, pensei que era um livro feminista. Lembrei de Sidney Sheldon e suas mulheres marcantes. Ele era um homem que sabia dar vida ás mulheres. Patterson talvez precise da ajuda de uma mulher para isso (Paetro) e não acerta tanto quanto Sheldon, mas o livro é uma homenagem às mulheres corajosas que direta ou indiretamente combatem os crimes. Ambos trabalham de forma distinta.
Mesmo assim, Patterson sabe construir suas personagens, elas são modernas e corajosas. Falta um pouco mais demonstrar o lado sentimental e mais introspectivo delas.
Por exemplo, a tenente Lindsay possui um namorado, percebemos claramente que eles se amam, embora o relacionamento não seja aprofundado pelo autor, não temos acesso a sentimentos íntimos dos dois, apenas presenciamos sua relação através dos atos. Ou seja, ele mostra como funciona o namoro, como são seus encontros, o casal na cama, seus programas juntos, mas não detalha sobre o que sentem cada um.
Isso para mim, não é problema algum, afinal é um livro policial e não romântico.
Dei o exemplo do romance da protagonista, mas isso vale para outras situações, como a grande culpa que ela sente por ter sido obrigada a se defender matando uma adolescente e deixando tetraplégico o irmão dessa mesma moça, também menor de idade. O autor não soube explorar, em minha opinião, essa imensa culpa que corrompe a consciência da tenente, em alguns momentos ela parece estar apenas preocupada com seu julgamento e não com a ética humana. Mesmo ela repetindo que "atirou em duas crianças", seus pensamentos quanto a isso não são convincentes na sua dor.
Patterson nos força a imaginar, fantasiar como as personagens sentem em relação a determinada situação. Acho que por isso ele demonstra os sentimentos das personagens de forma superficial. Ele deixa o leitor livre para deduzir e imaginar certos pontos pessoais de Lindsay e outras personagens, até porque muitos desses detalhes não são essenciais á trama. Ele deixa o espaço aberto para cada uma ter as suas interpretações. Patterson dá total liberdade ao leitor quanto a isso.
O autor alterna em dois tipos de narrativa, método que de início pode confundir os leitores mais distraídos. A maior parte dos capítulos é narrada em primeira pessoa por Lindsay, desde a noite em que ela sai para tomar uns drinques com as companheiras do Clube das Mulheres contra o Crime e passa por todas as cenas em que ela está presente, indo até o grande final.
Porém existem capítulos sob um diferente ponto de vista, o de um narrador de fora da história. Em terceira pessoa, Patterson mostra os crimes que ocorrem no local onde Lindsay está passando férias forçadas, enquanto aguarda seu julgamento pelo imprevisto trágico ocorrido com os adolescentes. O narrador chama os envolvidos nesta cena como Verdade, Investigador e Guardião. Em certos momentos, eles interagem com Lindsay ou outras personagens, mas nunca recebemos uma pista de quem eles são.
Quando retornamos aos capítulos narrados por Lindsay, nos perguntamos frequentemente quem são eles três, se eles já cruzaram o caminho dela em outras situações, narradas por ela.
Confesso que trocava de opinião toda hora quanto a quem eram os assassinos. Cheguei a acertar dois deles, mas mudei de ideia. No final, nem sabia mais quem poderiam ser. E o terceiro assassino realmente me surpreendeu, o autor ganhou muitos pontos comigo nesse requisito: mistério e adrenalina. O título de melhor autor de suspense da atualidade é justificado pela excelente forma de mostrar e ao mesmo tempo, esconder os fatos.
Temos muitos homicídios no enredo. Lindsay começa o livro tentando desvendar um caso, depois se envolve diretamente em outro e por último vai relaxar na casa da irmã e começa a investigar os casos do local, que em muito se assemelham a um caso que ela não conseguiu solucionar a dez anos atrás.
Resumindo, são muitas pessoas envolvidas, uma grande variedade de personagens surgem, vários moradores do local, o que dificulta o leitor de imaginar quem são essas três personagens que aparecem cometendo os crimes nos capítulos narrados em terceira pessoa.
O autor consegue transmitir a violência dos assassinatos com uma naturalidade técnica. Não nos causa susto ou medo, mas nos transmite apreensão e curiosidade na resolução e explicação de tudo.
O julgamento de Lindsay é bem construído (apesar do veredicto ser previsível), porém sem apelar para diálogos jurídicos chatos; as personagens secundárias se alternam ao aparecerem e sumirem; a cachorra de Lindsay (Martha), a porca de Cat (Penélope) e a filha da vizinha de Cat (Allison) trazem um ar mais leve a trama; as amigas de Lindsay que compõesm o Clube das Mulheres contra o Crime trazem diálogos descontraídos e a amizade respeitosa que existe entre elas é admirável.
A motivação dos crimes são todos explicados no final, tanto do crime de dez anos atrás, quanto do crime que Lindsay tenta solucionar nas primeiras páginas e os crimes ocorridos durante suas férias. Todos são resolvidos e da mesma forma que Patterson não entrega de mão beijada os sentimentos privados de suas personagens, talvez algumas pessoas tenham dificuldade em compreender cem por cento o porquê de cada assassino ter realizado tais atos vis.
Gostei do livro, que é realmente bom, mas esperava um pouco mais do enredo por causa da fama de Patterson.
Recomendo o livro para quem gosta de capítulos rápidos e curtos, thrillers policiais, cenas de crimes violentos e indecifráveis e livros com personagens femininas corajosas.
Ótimo também para quem está cansado de ler apenas romance jovem adulto sobrenatural e quer ler um livro cheio de pessoas reais, com heroínas verdadeiras, sem muito sentimentalismo doce. Você percebe que as personagens sofrem com determinada situação, mas o autor pula para a próxima cena sem ficar remoendo o coração de ninguém. É isso que eu encontrei em 4 de Julho e espero nos outros livros da série, que pretendo ler.