spoiler visualizarFISTofthe MOON 08/03/2024
Reflexão e autoanalise com o homem do subsolo
Estava lendo Memórias do Subsolo há uns dois dias, ainda na primeira parte, e comentei despretensiosamente na minha terapia, dei um breve resumo até onde havia lido e sobre o que se tratava o livro, nisso minha terapeuta falou a seguinte frase, “e tu não se identifica com nada do livro até agora?” E foi com essa frase que após ler o livro atingi um nível de reflexão que nunca havia atingido antes com alguma obra. Busquei identificações e entender o livro de uma maneira completamente diferente, e com isso escrevi uma comparação entre mim e o homem do subsolo. Mostrei para minha terapeuta e conversamos sobre e ela me incentivou a publicar esse texto em algum local, e decidi por fazê-lo aqui:
Eu x Homem do Subsolo
Vejo em mim semelhanças e diferenças com o protagonista, por consumir literatura e tirar boas notas na escola, também já me senti superior, mas pouco depois me desatei destes pensamentos vendo o quão eram imbecis.
Diferente do protagonista que se sentia ofendido por tudo e por todos eu busquei e busco nunca me sentir ofendido. Inclusive eximindo-me de ofensas ou insultos. Para que assim não haja motivos de brigas, desavenças ou rancores.
Algo que me é um pesar e difere-me do protagonista é o rancor passado. Eu não penso em quem me ofendeu, humilhou, xingou, roubou, maltratou, ou tentou fazer estas coisas. Posso desgostar de algumas pessoas, mas não as odeio, não consigo nutrir ódio.
Diferente do protagonista que queria ser notado, pelos motivos anteriores citados. Eu, já não via desta maneira. Eu queria ser invisível. Não ser visto, logo, não dar oportunidade para ser ofendido, para brigar, para o que quer que fosse. Isso me ocorreu após perceber que ter boas notas ou ler não me fazia superior. Isso ocorreu por volta dos meus 11-12 anos, na escola, onde não era bom no futebol e precisava ser bom em algo e nisso achava meu lugar de ser superior. Nesta época já era gordo e inseguro, logo, precisei achar um lugar para me apegar e foi em me sentir superior por notas e literatura. Mas isso acabou por volta dos meus 14 onde o "subsolo" começou. Isso me fez ir para o meu "subsolo" e não querer que soubessem que eu lá estava, mas de maneira diferente do protagonista, que se escondia atrás de uma falsa nobreza, eu buscava às sombras.
Percebo que ajo de maneira semelhante ao protagonista quanto aos pensamentos. Nós dois criamos um método que devemos seguir quando vamos ter uma interação com alguém, mas isso nunca ocorre, por falta de nossa força (ele ainda tem mais que eu), imaginamos atos que faremos, seja em nossa defesa ou em ataque a outros, mas nunca acontece.
Diferimos nos métodos para nos sentirmos parte da sociedade e de saciedade. Diferimos na vontade que querer humilhar e causar dor para nos sentirmos superiores.
Somos semelhantes em não temos amigos, e não conseguirmos nutrir relações, mesmo que por motivos diferentes. Semelhantes também em não se sentirem parte de uma sociedade. Apenas como mais um em uma engrenagem do sistema que é o mundo. Talvez com visões diferentes sobre isso, até pela diferença de momento e século. Mas ambos compartilham esse sentimento de falta de pertencimento.
Mas assim como ele também gostaria de não fazer as coisas por simples preguiça. Gostaria de ser chamado de preguiçoso, e saber que é apenas preguiça que me impede de fazer as coisas. Porém diferente dele não sinto interesse pela necessidade de ter um rótulo.
Compreendo diversas reflexões trazidas pelo protagonista, concordo com algumas, discordo de outras, não tenho conhecimento de vida, mundo ou do assunto para outras, mas entendo-as.
Outra grande semelhança que percebi com o protagonista foi que os dois escrevem suas "memórias" de maneira literária como se estivessem contando, e não apenas escrevendo para si, para manter guardado. Isso percebi enquanto refletia sobre o que estou escrevendo aqui. Não sei o que faz com que eu faça isso, mas faço. Talvez pela necessidade de tentar escrever de maneira mais correta possível. Isso quando percebi me fez rir ao notar mais uma semelhança e talvez existam outras que ainda não tenham sido notadas por mim, ou que eu apenas não queira que existam.