Nihonjin

Nihonjin Oscar Nakasato




Resenhas - Nihonjin


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Flauzino 27/06/2011

A neve que não se vê cair pela janela
“Nihonjin”, que significa “japonês”, é o título do romance de Oscar Nakasato, que ganhou o Prêmio Benvirá de Literatura deste ano, disputando com 1.932 concorrentes. Trata-se de um livro que prima pela simplicidade expressional marcada na voz de um narrador, neto de imigrantes japoneses, que se dedica a recontar a vida de seus parentes que vieram do Japão para ganhar a vida no Brasil.

Essa simplicidade é uma qualidade que se associa à emoção e a intensifica quando os dramas mais agudos são expostos, como as dificuldades de comunicação entre japoneses e brasileiros de diversas origens, os problemas de adaptação e os de imposição comportamental pela cultura de origem, que obrigam à obediência.

Os sentimentos de submissão e de insubmissão transparecem como eixos mais fortes e unificadores das narrativas desse romance. E se expõem já no início, quando se fica sabendo que os japoneses vieram para o Brasil atendendo ao pedido do Imperador aos seus súditos, de que emigrassem para obter com seu trabalho recursos para o Japão.

A fidelidade ao Imperador é, num primeiro momento, um véu que encobre o desafio de adaptação à nova terra e, nos anos seguintes, uma prisão mental que não pode ser questionada de modo algum. Os que tentam se adaptar à vida no Brasil integrando-se à sociedade e ao tempo histórico são perseguidos e mortos por uma associação de japoneses que não acreditam que o Japão perdeu a Segunda Guerra e impõem terror.

Em meio a esses dramas que acometem os homens, condenados ao trabalho bruto de sol a sol, quase escravos explorados por fazendeiros gananciosos, as mulheres aparecem duplamente submissas. Devendo obediência ao Imperador, são também submissas aos pais, aos irmãos e aos maridos que lhes são impingidos por escolha do pai de acordo com seus critérios, que não passam pela consulta à interessada. As mulheres desse romance são as que mais cativam. Kimie, da primeira geração, é uma sonhadora que, no inverno, vai à janela do Brasil para flagrar a neve caindo.

A brutalidade masculina logo se coloca em seu caminho através dos risos do marido, que dissipam sua mais terna ilusão: não há neve no Brasil. Essa verdade é terrível porque, se os homens podem sonhar com riqueza, com a volta ao Japão, com o Imperador, as mulheres estão condenadas ao lar, à proibição até mesmo de se relacionar com outras brasileiras e sequer de sonhar. A descoberta disso, para ela, é a constatação de que, mais que não voltar ao Japão, nunca verá de novo a neve, numa impossibilidade total de sonhar e de viver pois foi tirada dela sua última fantasia. Não à toa, ela morre.

A outra mulher emblemática do romance é Sumie, que se apaixona por um gaijin, um brasileiro, e não pode se casar com ele. Casa-se com um japonês escolhido negociadamente pelo pai, o que lhe garante a infelicidade. Tal como Haruo, que enfrentou os fanáticos japoneses escrevendo num jornal da colônia que o Japão perdera a Guerra, morrendo por isso, ela, anos depois de casada, corajosamente abandona os filhos e o marido e foge com o gaijin pelo qual se apaixonara e é repudiada e rejeitada por isso.

Ao recuperar para si essas estórias, o narrador está prestes a continuar a linha que fantasiosamente fechará o círculo, pois irá emigrar para o Japão em busca de ganhar dinheiro. Talvez ele consiga fechá-lo, mas apenas quando voltar ao Brasil, como muitos que o fazem agora, fugindo da hecatombe nuclear. Ou seja: a neve é uma fantasia que cai pela janela, facilmente dissipável.

Texto de Ademir Demarchi publicada no Jornal "O Diário" de Maringá em 23/06/2010 (http://odiario.com/blogs/babel/2011/06/23/a-neve-que-nao-se-ve-cair-pela-janela/)
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Danielle 25/06/2011

Nihonjin.
Nihonjin (Benvirá, 2011) é um romance de Oscar Nakasato. A história conta a saga da imigração japonesa na figura de Haruo, um nihonjin que vem tentar a vida nas lavouras de café do Brasil, no início do século XX.

O sonho de Haruo foi o sonho de muitos imigrantes (não só japoneses) que vieram para o Brasil, esperando que suas vidas fossem transformadas. Verdadeiras sagas são as histórias dessas pessoas que saíram de sua terra natal agarradas pela esperança de uma vida melhor.

Oscar é neto de imigrantes japoneses então que, parte da história que conta, é sua história também. E acho que aí é que está o ponto alto do romance (além, é claro, de lindas passagens): você lê a luta da família de Haruo e pensa até onde é ficção, até onde o Oscar viu ou ouviu aqueles acontecimentos.

Nihonjin foi o vencedor do concurso feito pela Benvirá no início do ano que, além da publicação pelo selo, tinha uma quantia de dinheiro destinada ao vencedor. O romance venceu de mais de 1.900 inscrições com histórias inéditas (apesar de saber que, alguns foram contratados nessa leva pelo selo, sem terem levado o prêmio) e, por isso mesmo, esperava mais do romance. Não que a história que o autor conta, e como ele conta, seja ruim. Não. Mas, minha opinião diz que, pouco acrescenta.

É evidente a falta de literatura sobre essa passagem do Brasil (as imigrações) (e foi essa a posição da Benvirá em escolher o romance), mas tive a impressão que a opção por um romance mais tradicional foi mal calculada (soou como uma coisa já lida). Não sei. Talvez eu, como leitora, é que seja o problema. Não estou procurando na literatura o que o Oscar ofereceu.

Estou procurando uma montanha russa nas letras. Nihonjin, mesmo sendo uma história forte, parece a água parada de um rio.
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