Luiza 10/01/2023
Se fosse hoje, seria execrado por assédio sexual
Não sou fã de Hitchcock. Nem gosto desse estilo de filme (suspense/terror), com algumas exceções... Podem me jogar pedras, mas os três filmes que vi de Hitchcock não me impressionaram. E podem me crucificar, mas achei Psicose muito fraco, nada assustador e até cômico.
Talvez eu devesse assistir a mais filmes de Hitch, mas gosto é gosto... Como dizia Nelson Rodrigues: "toda unanimidade é burra", então, fico tranquila sendo parte da exceção que não tira o chapéu para o diretor.
Por que decidi ler este livro? Porque simplesmente ADORO todas as atrizes que trabalharam para Hitchcock ? e as que eu não conhecia, depois de ler e conhecê-las, passei a me interessar pela história de cada uma delas.
Na verdade, me interesso particularmente pela História da Mulher, seja em que âmbito cultural estejamos tratando: moda, família, vida íntima, carreira, casamento, feminismo etc. Assim, fiquei particularmente interessada neste livro porque já ouvirá falar do quanto Hitchcock perseguia e aterrorizava suas atrizes. Especialmente Tippi Hedren. E Donald Spoto conta um pouco da história de cada uma delas. Foi muito bacana conhecer a história de sucesso e superação de todas elas (ainda que o livro nos ofereça apenas uma ''pincelada'' de cada trajetória)
Claro que Spoto enaltece o diretor, e li com bastante consideração tudo que ele expôs de elogios. Mas, nesse ponto, Spoto foi bastante justo: mostrou sem máscaras o lado neurótico e pervertido do gênio, cujos defeitos normalmente não são comentados pela horda de fãs.
Hitchcock em si mesmo não me cativa. Mas para os fãs do diretor, fãs do cinema clássico ou de filmes de suspense, considero este livro leitura obrigatória. Spoto escreveu outros livros bastante completos sobre Hitchcock, portanto, para conhecer com mais profundidade a vida e os filmes do diretor, busquem outros titulos (deste ou de outros estudiosos de sua obra). Esse livro fala singularmente das atrizes com quem ele trabalhou... mas é um livro curto, não chega 300 páginas, é uma ''pincelada'', como eu já escrevi.
Se fosse hoje, talvez Hitchcock não chegasse tão longe como diretor. Já teria sofrido processos de assédio sexual há muito tempo. Daí meu interesse neste livro: ele mostra uma realidade muito lamentável ainda presente na década de 60 (e existente ainda hoje!) que era o fato das mulheres não terem voz... O assédio sexual estava absolutamente presente em todas as nuances da vida e, no caso de Hitch, tudo era mantido por debaixo dos panos porque o diretor era extremamente influente e idolatrado.
Alguns episódios na vida de Alfred Hitchcock não podem ser ignorados, pois são típicos de assédio sexual extremo. Não podem ser desprezados ou minimizados. E, sobre essa lamentável realidade, transcrevo um dos melhores trechos do livro abaixo:
"Há um consenso de que se pode escrever qualquer coisa sobre Alfred Hitchcock ? exceto a verdade sobre sua fragilidade, seus defeitos, seu sofrimento ou o sofrimento que ele causou aos outros. Seu status de ícone cegou muitas pessoas, incluindo colegas sobreviventes. Consequentemente, a dor pela qual foi responsável e a infelicidade profunda que causou a si mesmo foram ignoradas ou minimizadas; em troca, algumas pessoas efetivamente aprovam ou pelo menos desprezam o assédio sexual.
Será que a longa e desonrosa história de homens poderosos em Hollywood e os chamados testes do sofá convenceram Hitchcock de que suas ações eram aceitáveis? Será que os admiradores mais zelosos de Hitchcock minimizam ou até desprezam esse triste episódio por considerarem que essa forma de tratar as atrizes constituía apenas brincadeira juvenil? Será que Hitchcock era tão respeitado que seus associados ? e depois alguns de seus fãs ? achavam que o modo como ele tratou Tippi Hedren e Diane Baker não tinha consequência?
É possível que Hitchcock achasse que poderia fazer de tudo livremente. Infelizmente, nesse caso ele estava certo.''
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