Julia G 09/10/2015Filho da TerraEm Marcada a Fogo, primeiro volume da série Os Qu4tro Elementos, eu havia mergulhado no mundo criado por Josy Stoque cegamente, pois que pouco sabia sobre o enredo antes de ter o livro em mãos. Comentei na resenha do livro que, apesar de ter gostado bastante daquela primeira impressão, alguns aspectos da história haviam me deixado confusa, já que nem tudo teve a devida explicação. Com Filho da Terra, segundo livro da série, apesar de algumas impressões em comum, a leitura foi diferente. - e melhor.
A fantasia continua como gênero principal da história, e seus elementos caracterizadores foram mais aprofundados nesse volume. Grande parte daquilo que não havia ficado claro no primeiro livro foi melhor explicado aqui, como o mundo mágico dos Protetores, a natureza de seus poderes e mesmo os acontecimentos que congelou o coração da natureza. Com isso, foi mais fácil se envolver com o contexto narrado. Os segredos e mistérios ainda fazem parte do enredo, mas eles tomam seu devido lugar, sem ocupar espaço demais e, desta vez, são incapazes de deixar o leitor perdido.
"O medo teria cor? Para mim, sim. Era verde e todas as suas nuances. Foi assim que me senti aqui no coraçã do Pantanal, quando era apenas uma criança. Mas não temia mais. Eu era o verde, enraizava-me naquela terra marrom como uma árvore através do passo que estava disposto a dar."
Se no primeiro livro gostei de a ambientação em Foz do Iguaçu, fiquei surpresa com a descrição detalhada que Josy fez de Corumbá, no Mato Grosso. Não conheço o local, mas pelo que pesquisei na internet, Josy foi fiel às suas locações, inclusive no que se refere ao sítio arqueológico e ao parque existentes por lá, detalhes que aproximam a ficção do livro à nossa realidade.
A narração do livro, assim como no primeiro, é intercalada; em primeira pessoa, pelo protagonista, que em Filho da Terra é Lucca, e em terceira pessoa quando o enfoque se dá com os demais personagens, inclusive com Tamires, que era a protagonista do livro anterior. É uma estratégia ousada, mas interessante, e que deu certo nessa série, já que é possível se aproximar do protagonistas, sem deixar de acompanhar os demais personagens. Destaque para o trecho do livro que demonstra o passado, no coração da natureza, e que começa a deixar mais nítido como tudo começou.
"Agora que não estava mais prestando atenção a nenhuma conversa em particular, achei estranho que ainda pudesse ouvir. As vozes eram uma mistura de frases nítidas. Podia entender cada palavra, sem esforço algum. Ninguém estava falando alto, talvez até estivessem sussurrando. Por que podia ouvi-los com tanta clareza?"
Lucca, o protagonista, é o tipo de personagem que agrada, nem de mais, nem de menos. É seguro, sem ser arrogante; é doce, sem deixar de ser másculo; é sério, mas tem bom humor. Apesar de volúvel no começo, seu romance com Mainá convenceu e foi doce, puro, como poucos conseguem ser. Gostei mais da dinâmica desse segundo livro, que deixou de lado suspeitas e reflexões prolongadas de Tamires para narrar o que de fato acontecia, com Lucca.
"As sensações que revolviam dentro de mim me pareciam como uma energia, uma força viva e pulsante. Percebia que seus tentáculos corriam em meu sangue. Sentia a diferença nos meus músculos, interligados sobre os ossos, sua força se multiplicando a cada segundo. Minhas pernas podiam correr tanto quanto um guepardo. Meus braços tinham a força da mandíbula de um leão. Havia corrido ontem à noite da caverna de Mainá, cheguei ao meu carro em dois segundos contados.
A índia havia me chamado de deus. Seria mesmo possível que eu fosse?"
Quanto aos irmãos, Gustavo e Alexandre, sobre os quais eu afirmei na resenha anterior que precisava saber mais, tenho uma intuição sobre eles, mesmo que não haja nada expresso nesse segundo volume. Gustavo, que foi citado apenas algumas vezes, não apareceu. Alexandre, que teve destaque ainda mais agora, me trouxe enormes desconfianças.
Tenho gostado bastante do desenvolvimento dado à série, e acredito que os próximos volumes tenham ainda mais coisas boas para mostrar. A leitura é agradável, a linguagem é fácil, e muitos elementos podem ter sido trabalhados de forma surpreendentes, o que eu espero, de coração, que realmente aconteça.
site:
http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/10/filho-da-terra-josy-stoque.html