Lane 18/10/2013O Festim dos Corvos Este é o quarto livro das Crônicas de Gelo e Fogo, e antes de comentar sobre o livro devo lembrar que o autor George R. R. Martin, deu no final do livro uma nota dizendo que este e o quinto livro, A dança dos Dragões eram um só livro, e ele precisou dividi-lo em duas partes porque ele estava muito grande, com várias páginas. Entretanto, o autor não dividiu o livro cronologicamente, ele preferiu organizar as ideias de alguns personagens secundários dos demais protagonistas da série.
Se isso foi algo bom, eu tenho minhas dúvidas. Ocorre que o livro ficou extremamente monótono, porque fugiu muito do padrão da série.
Eu simplesmente não consegui imaginar a história progredindo sem Jon, Daenerys e Tyrion, no entanto devo confessar que o livro enfoca uma alta dose de profundidade e expande muito os sentimentos de personagens menores, convocando desta maneira várias linhas no enredo.
Isto tudo me fez refletir sobre esta atitude do autor: Será que não foi prejudicial dividir o livro?
Porém, depois eu me lembrei de que o autor já comentou que o diabo está nos detalhes e de uma forma mais prática consigo analisar que isto pode ser apenas uma estratégia do autor. Ou não.
O mundo que George R. R. Martin inventou é maravilhoso e eu gosto muito da sensação nervosa que os livros dele me fornecem enquanto estou lendo. Entretanto o Festim dos Corvos é confuso e insatisfatório, e todas as coisas que aconteceram no 3° livro e que esperávamos algumas conclusões nele ficaram pendentes, ele pouco entrega sobre os eventos do último livro.
Em Festim dos Corvos temos a narrativa de vários pontos de vista com a maioria se concentrando em Porto Real. Os capítulos mantem a mesma forma que os dos outros livros anteriores, e temos capítulos com Brienne, Samwell, Arya, Sansa, Jaime, Cersei e outros personagens, alguns nem mesmo citados nos livros anteriores.
Em Porto Real, sob a narrativa de Jaime e Cersei temos o inicio da história a partir do funeral do pai deles Tywin Lannister.
Jaime começa apresentar mudanças no seu caráter e aumentar suas desconfianças com a sua irmã Cersei. Ela, por outro lado, agora como rainha regente do seu filho Tommer, se esforça para manter o poder. Jaime rejeita o seu pedido de ser Mão do Rei e ela faz de tudo pra se livrar da influência dele. Ela o manda para o cerco e tomar Correrio, só que ele antes havia prometido a Catelyn Stark que nunca mais levantaria a mão contra alguém do sangue dela. Ele acaba tendo sucesso na sua investida para tomar Correrio, que nos surpreende pela pacificidade com que ele obteve Correrio vindo de um Lannister, porém ele deixa escapar Peixe Negro.
Cersei já havia mostrado nos outros livros que ela é bastante cruel e maldosa, neste ela se destaca por sua paranoia sobre uma profecia feita quando era ainda adolescente antes dela se casar com Robert Baratheon. A capacidade de Cersei de criar intrigas é admirável, e se não fosse por seu excesso de egoísmo e ganância, ela teria o apoio de seu tio Kevan Lannister, que após ela negar o pedido dele ser o regente de Tommem a abandona a sua própria sorte como uma mulher no poder.
Em seu jogo pelo poder, Cersei quer destituir os Tyrell de Porto Real, entretanto para que ela se mantenha no Trono de Ferro, ela precisa da aliança dos Lannister que seu pai fez com eles. Portanto ela então começa uma guerra contra Margaery que após a morte de Joffrey se casa com Tommem.
Margaery tem como seu aliado o seu irmão Loras, o Cavaleiro das Flores, e os dois começam a ter mais influência em Tommem que Cersei. Isso apressa os motivos que Cersei tem de se livrar dos Tyrell. Ela elabora um plano de afastar Loras e aproveita a oportunidade quando ele pede o ajuda ao Trono de Ferro contra os homens da Tropa de Ferro que estão atacando na costa marítima os vassalos de Jardim de Cima. Cersei estrategicamente impõe condições para ajudar Loras, pedindo pra ele antes tomar Pedra do Dragão, ela praticamente o envia para a morte afastando- o de Margaery.
Confiante em sua astúcia como rainha, Cersei ignora o alarme sobre os homens da Tropa de Ferro e por causa da sua obsessão pelo poder, para ter o apoio e se afirmar definitivamente como rainha, sem perceber ela é coagida pelo novo septão do Septão de Baelor, e autoriza o retorno dos Os Espadas e Estrelas, que são homens armados motivados pela Fé, sem notar ainda, que com esta sua atitude ela até consegue derrubar Margaery , só que a faca que ela usa pra este fim tem dois gumes e ela pode estar dando um passo para a sua condenação.
Enquanto isso, na Patrulha da Noite, sabemos que Jon Snow é o Novo Comandante, mas não tem desejo de se associar a Stannis Baratheon nos seus planos de guerra pelo Trono de Ferro. Jon envia Samwell Tarlly, Mestre Aemon, Dareon e Goiva - e seu bebe- para VilaVelha.
Sam vai com o intuito de se tornar um mestre, mestre Aemon segue porque quer terminar os seus últimos dias junto aos arquimestres que o formaram, Dareon é enviado para recrutar mais patrulheiros para a Patrulha da Noite e Goiva leva o filho de Mance Rayder para evitar que a mulher Vermelha, Melisandre o assassine.
Durante o percurso, Mestre Aemon não aguenta as dificuldades da viagem e acaba morrendo durante o caminho, Dareon se deserta da Patrulha e termina assassinado por Arya em Braavos. Sam se desespera e quase acaba morto, ele é salvo por Xhondo que oferece pra leva-lo até VilaVelha em troca de seu trabalho no seu navio.
No navio, Sam fica atormentando pelos votos que fez na Patrulha da Noite e o seu desejo por Goiva. Ele acaba não resistindo a solidão e sua relação com Goiva segue para ouro patamar.
Chegando em VilaVelha, o plano de Sam é deixar Goiva e a criança na casa dos seus pais fazendo o menino passar por seu filho bastardo. Ele encontra o arquimestre Marwyn que após ouvir sobre Daenerys e sobre uma antiga profecia contada pelo mestre Aemon, decide encontra-la para ser seu mestre.
Arya se encontra em Braavos e inicia seu treinamento na Casa de Preto e Branco para o Deus de Muitas Faces, porém antes dela começar ela precisa se desapegar de tudo, e ela não consegue deixar Agulha, a espada que Jon lhe deu. O treinamento inicialmente parece fácil, ela tem que se passar durante um tempo por outra pessoa para aprender a ser quem ela deseja ser. Ela vive sob o pseudônimo de Gata vendendo ostras, amêijoas e conquilhas nos portos vulgares em Braavos. Acontece que ela mata Dareon porque ele se desertou da Patrulha da Noite, onde está seu irmão Jon e também para salvar a vida de Sam , quando ela comenta sobre isso com seu mestre, o homem amável ele não a repreende, porém ele oferece pra ela um copo de leite quente antes dela dormir e no outro dia ela acorda cega.
Sansa esta no Ninho da Águia junto com Mindinho (Lorde Petyr Baelish), fingindo ser sua filha bastarda chamada Alayne. Mindinho consegue o apoio dos protetores do Valle através da uma promessa de casamento com Sansa. Ele pretende com isso no futuro revelar que ela é a herdeira de Winterfill e ter o poderio dos Arryn e dos Tully para ajuda-la. Contudo, ele ainda tem o filho da sua esposa falecida o protetor do Valle, Robert Arryn, um menino doente que a cada dia que passa fica mais enfraquecido.
Nas Ilhas de Ferro, em Pyke, surge uma ameaça após uma assembleia de homens livres convocada por Aeron Cabelo - Molhado sacerdote do Deus Afogado, para eleição de um novo rei que irá ocupar a cadeira de Pedra do Mar. Vários candidatos aparecem no local destinado para tal reunião, até mesmo Asha Greyjoy, filha herdeira de Balon Greyjoy, o antigo rei, só que pelo fato dela ser mulher não pode ocupar o trono das Ilhas de Ferro. Conquanto somente seu tio, Euron Greyjoy, conhecido como Olho de Corvo é o eleito para ser o novo rei das Ilhas de Ferro.
Em Dorne, o príncipe Doran Martell, irmão do Vibora Vermelha, mantem Myrcella sob a sua responsabilidade num acordo de paz realizado antes entre Dorne e Tywin Lannister.
*O Víbora Vermelha foi morto por Gregor Clegane num combate singular em Porto Real no livro anterior.
Acontece que as filhas do Vibora, também conhecidas como Serpentes de Areia exigem dele vingança e o acusam dele pensar demais e demorar em agir. Sua filha, a princesa Arianne, concorda com a opinião de suas primas sobre vingança e decide sequestrar Myrcella a fim de reivindicar o Trono de Ferro.
Arianne decide ajudar suas primas depois que seu pai manda prende-las no topo da Torre da Lança, em Lançollar, para evitar delas irem fazer vingança contra Porto Real e os Lannisters.
Com seu plano em mente, Arianne seduz o cavaleiro branco da Guarda Real, Sor Arys Oakheart que protege Myrcella, no entanto sem que ela espere as suas ações são amputadas pela descoberta de seus planos por seu pai e neste interim Sor Arys acaba morrendo. E devido a isso, Dorne pode ter, mesmo que não querendo provocado um conflito contra Porto Real e os Lannisters.
Por fim, temos Brienne que recebeu de Jaime uma espada batizada com o nome Cumpridora de Promessas para que ela encontre Sansa, a filha de Catelyn Stark. Ela vagueia por estradas a fim de alcançar seu objetivo e cumprir sua missão e no meio do caminho recebe o apoio de Podrick, escudeiro de Tyrion que passa acompanha-la para ver se consegue encontra seu lorde. Ela também encontra com alguns dos antigos Bravos Companheiros e os antigos súditos de Berric Dondarrion que agora seguem a Senhora Coração de Pedra.
Brienne caminha e cavalga em seu cavalo travando uma luta constante consigo mesma sobre o seu valor como cavaleiro e como donzela bem nascida. Seu final ficou incompleto.
O que eu achei da leitura toda deste livro foi que além dele fugir dos padrões dos outros, Cersei, Jaime e Brienne tiveram mais sobre o seu desenvolvimento de caráter que nos outros livros, os seus temas foram voltados mais para o lado pessoal enquanto que com a Arya eu não tenho certeza do que o autor pretende ainda fazer com ela.
Sansa e Sam tiveram poucas participações, no entanto Sansa evoluiu como personagem mostrando mais independência e menos ingenuidade, e o Sam teve um preenchimento mais interessante.
Contudo, há um forte acento na trama sobre um conflito religioso, que me levou a cogitar uma futura guerra com motivação religiosa. Nota-se isso quando a leitura mostra a perda ou morte de Dondarrion Berric, o levante dos cavaleiros da Fé dos Sete Deuses e a motivação implícita dos arquimetres em VilaVelha.
Euron Greyjoy é um grande mistério que desperta o interesse do leitor.
Entretanto mesmo assim este livro foi o que eu mais levei tempo pra ler, embora algumas partes fossem interessantes ele se arrastou em vários capítulos em que nada acontecia.
Comparando aos outros livros da série, este pra mim foi decepcionante, mesmo que o autor tenha pedido desculpa aos fãs no final do livro, defendendo o atraso e fazendo referência a Tolkien, pra mim os livros anteriores foram uma obra prima.
O Festim dos Corvos conta histórias de vários personagens secundários, o que os motivam e porque se comportam, descreve suas politicas e lutas pessoais e até se envereda com algo de filosofia existencial, contudo o final acaba sem desfecho e as histórias todas incompletas.
No término da leitura, fiquei desconfiada me perguntando - como li em algumas resenhas - se isso tudo não foi uma estratégia [$$$$], não do autor, mas das editoras.
Se esta minha linha de raciocínio tiver um fundo de verdade, acredito que o autor deve ter consciência do perigo que é de prolongar uma história, e que com esse tipo de risco só existem dois caminhos para a série: o triunfo ou o fracasso.
George R. R. Martin pode até não querer magoar os seus fãs, porém então fica pra ele o desafio de continuar tornando as Crônicas de Gelo e Fogo interessantes.
Eu ainda não senti vontade de desistir da série, e logo mais começarei a ler o 5° livro, mesmo que decepcionada com o 4°, porém curiosa e um pouco receosa, porque quero descobrir o final e tenho medo do autor não conseguir terminar.
Avaliei com 3 estrelas.