spoiler visualizarRute31 16/05/2024
Por que eu demorei tanto pra conhecer Macondo? Essa foi a pergunta que me fiz assim que comecei a ler o clássico de Gabriel Garcia Marquez, a terrível história do destino solitário de uma estirpe, que é, vista com cuidado numa lente delicada, a história do destino solitário que define a existência humana. Terminei Cem Anos de Solidão extremamente comovida, apaixonada, com um deslumbramento que senti poucas vezes mas com Gabo toda vez.
Cem Anos de Solidão conta a história dos Buendía, uma das família fundadores de Macondo, o povoado mágico que, como um personagem, também se desenvolve, cresce, respira e finalmente expira, acompanhando a impressionante saga familiar. José Arcádio e Ursula Iguarán são primos, se casam e um dia, por decisão de José Arcádio, desbravam um lugar. É muito curioso notar como José Arcádio é impetuoso, mas mal orientado, ao passo que Ursula domina caminhos e tramas. Aliás, Ursula é a alma deste romance. Ao longo de quase todos os cem anos de solidão dos Buendía, é ela quem mantém tudo funcionando, e é o destronamento de Ursula desse lugar que marca o começo do fim.
Depois da fundação de Macondo, o tempo passa, crianças nascem e há ciganos que chegam, entre eles Melquíades, um dos personagens mais interessantes que eu já vi na ficção, e cuja presença é determinante pro destino dos Buendía. E por falar em destino, esse é amarrado a partir de relações incestuosas, conflituosas, disfuncionais. Há mais desejo que amor, mais coragem que honra, e entre tudo isso, há a solidão de cada Aureliano, Arcádio e Ursula, cujos nomes vão se repetindo e emaranhando como se fosse uma grande teia e tudo desemboca num dos finais mais belos e trágicos que já li.
Todos os personagens de Cem Anos de Solidão são magnéticos, seja por sua doçura, beleza, violência, coragem, rancor. Esse é um livro pra onde voltar.