Memória de minhas putas tristes

Memória de minhas putas tristes Gabriel García Márquez




Resenhas - Memória de minhas putas tristes


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Ana Clara 04/05/2021

entendo que as artes - visuais, literárias ou de qualquer outra ordem - não devem nos poupar. seja por um prazer contraditório ou pela novidade de um incômodo que revela algo sobre nós, a arte não existe para ser confortável. o incômodo pelo incômodo, por sua vez, não é o tipo de abordagem que me apeteça

começo as impressões sobre “memória de minhas putas tristes” dessa maneira apenas para dizer que não acredito que o breve e último romance de gabo se encontre na segunda perspectiva. ainda que um mal-estar tenha me acompanhado durante a leitura por conta do envolvimento de um ancião de 90 anos e uma jovem pobre de 14, vejo que esse livro trata, acima de tudo, da solidão

tema recorrente na obra de garcía márquez, encontramos a solidão no título de seu livro mais aclamado. em “memória de minhas putas tristes”, entramos em contato com um senhor cuja decisão é passar o aniversário de 90 anos com uma virgem. sem jamais conhecer o amor, o infeliz vê a passagem dos anos na cama de mulheres em casas de prostituição da cidade. esses elementos, por si só, são suficientes para que nos perguntemos o quão deplorável é, no final das contas, completar nove décadas e se ver sozinho, sem jamais ter recebido afetos ou gemidos sinceros

não o coloco numa posição de vítima, visto que acho extremamente problemático sua relação com a garota, nem discordo das falas que apontam a romantização da pedofilia, corroborada pela edição do livro, que enxerga uma “surpreendente história de amor entre um ancião e uma ninfeta”. para além disso, penso que há uma ironia por parte do gabo em estruturar a narração a partir da visão de um homem desgostoso, abandonado, que decide reconstituir as memórias de envolvimentos com putas que, para ele, eram os verdadeiros seres tristes de suas histórias

dessa maneira, esse livro é também uma espécie de satirização do homem bronco latino-americano, que despreza corpos femininos encontrados depois do seio materno e, quando finalmente se vê ardendo em paixões por uma menina, não pode garantir sequer que ela esteja acordada: a bela está adormecida em todos os encontros

por fim, as memórias desse velho se misturam ao delírio de uma paixão platônica e, portanto, unilateral, que não nos permite entender se a jovem existe ou não passa de uma fantasia tardia: reside, aí, o realismo fantástico dessa obra

site: https://www.instagram.com/historiaguardada/
Alê | @alexandrejjr 06/05/2021minha estante
O que foi essa resenha? Excelente ponto de vista! ??????




@mirmcastro 10/09/2020

Prazer Gabriel Garcia Marquez, quero te conhecer mais!
Eu estou apaixonada pelo narrativa do autor! A forma com que ele te mergulha dentro da personagem sem você perceber é muito diferente de tudo o que já li.
O livro em si é bem interessante, melancólico e reflexivo. Fiquei incomodada em algumas partes por conta da temática, mas acho q a intenção do Gabo não era causar simpatia com a personagem principal e sim chocar, causar reflexão.
A leitura valeu a pena, foi o primeiro que li do autor e me fez querer conhecer mais!
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Fernanda Sleiman 08/10/2020

Gabo
Vi muitas resenhas com criticas de que esse seria um romace de pedofilia. Eu preferia dizer que fala da solidão. Não é meu preferido do Gabo, mas é Gabo
Lutty 10/10/2020minha estante
Fernanda é um dos livros mais doces que já li. Namorei esse livro na vitrine de um livraria por meses, lá pelo idoa dos anos 2000. Até ué criei coragem e o comprei. Geralmente não guardo meus livros que não pretendo ler novamente. Está comigo até hoje. Não vendo, não empresto, não dou. Na verdade empresto com raríssimas excessões


Fernanda Sleiman 11/10/2020minha estante
Eu havia visto muitas resenhas criticando por se tratar uma romance de pedófilia. O que encontrei foi uma linda história sobre solidão. Gabo tem a sensibilidade de nos tocar profundamente. Só não dei as 5 Estrelas por comparação mesmo. O amor em tempos de cólera e Cem anos de Solidão me tocou mais avassaladoramente


Lutty 11/10/2020minha estante
Concordo, são fantásticos, masa são estilos diferentes... E gosto é gosto!




Kieffer 09/01/2021

Uma história de amor? NÃO! De solidão.
Este foi o primeiro contato que tive com Gabriel García Márquez e não pude deixar de notar o quão imerso acabei ficando na mente do narrador. É uma escrita fluída que parece ter sido, de fato, escrita por um velhinho... Então, pesquisando sobre a vida do autor, descobri que realmente foi escrita por um velhinho. Ora.

Sobre a história, não consigo romantizá-la tanto quanto as demais resenhas que li por aqui. É uma relação entre uma menina de 14 anos e um homem de 90. Ok, pode até ser muito bonitinho o conceito de "encontrar o amor na terceira idade", mas me questiono se os fatos narrados realmente falam sobre amor.

Delgadina é uma menina em situação de extrema pobreza que, além de trabalhar numa fábrica (lugares que até hoje exploram funcionários, disso sabemos bem) e precisar cuidar de seus irmãos, acaba optando também pela prostituição infantil. Uma presa fácil e vulnerável, como uma criança de 14 anos teria maturidade suficiente para consentir num relacionamento desse tipo? O que eu vejo é uma relação de poder muito bem disfarçada, isso sim.

Tendo isso em mente, não descarto em momento algum a complexidade da mensagem por trás das narrações, mas tudo me parece uma situação muito triste onde o protagonista já idoso acha numa criança a juventude e amabilidade que lhe faltou durante seus longos e vazios 90 anos de vida.

O máximo de "amor" que conseguiria enxergar entre os dois seria de pai e filha ou avô e neta, e isso me esforçando muito. A leitura é incômoda porque você percebe que em nenhum momento a pedofilia é usada como crítica ou algo absurdo e sim como um simples detalhe.

Change my mind.
Alexya 09/01/2021minha estante
Achei interessante o que disse sobre esse livro, vou buscar ler também. ?


Kieffer 09/01/2021minha estante
Opa, que daora isso! Se lembrar, dá um feedback que vou adorar ler e conversar sobre :)


Alexya 09/01/2021minha estante
Baixei, vou ler assim que der ??




Lais 26/05/2021

Nunca vou saber se gostei ou não
Eu fui muito animada ler este livro porque é um dos livros favoritos da minha mãe e a sinopse me intrigou bastante. A escrita me surpreendeu porque realmente é bonita.
Agora vamos lá, eu entendi como a história mostra um homem de 90 anos que depois de ter sido super irresponsável com as mulheres, tentar mais uma vez, agora com uma menina de 14 anos... pois é, eu entendo que era outra época mas é perturbador igual. Quando você vai lendo o coração fica mais calmo pelo fato de que ele só dorme ao lado dela e não faz nada. Depois a gente vê que ele se apaixona pela menina, na verdade ele se apaixona pela ilusão e a criação que fez dela em sua mente, como uma menina intocada e bela. Acho que por eu ter tanta coisa para falar o livro faz pensar, como é delicado o tema da vida amorosa e sexual na velhice, a pedofilia retratada... mas o que me deixou realmente incomodada foi o final, eu esperava ficar satisfeita, tinha imaginado mil formas de terminar e ele escolheu uma que me deixou apática e que não me agradou. Isso eu falo com minha opinião obviamente.
Eu gostaria muito de ter um relato do que o Gabriel queria mostrar com essa história para assim entender mais. Porque eu vejo essa história como uma romantização da pedofilia, diferente por exemplo de ?Lolita? que claramente sabemos que é algo totalmente problemático e o próprio personagem se chamar de pedófilo.
O livro de fato é inusitado mas vi pessoas resenhando e dizendo que esse amor é puro e lindo, isso eu me recuso a concordar. O amor dele estava mais para um capricho.
Enquanto escrevo essa ?resenha? percebi que gostei por muitos pontos mas odiei totalmente em outros, acho que essa ambiguidade de não saber o que a história realmente queria mostrar, que me dá nos nervos. Porém é aquela coisa, literatura é algo subjetivo e cada um tira suas próprias conclusões.
Eric Luiz 26/05/2021minha estante
Amo o Gabo, para mim o melhor escritor do mundo, mas esse livro não me desceu muito bem não rsrs


Wilderlane Oliveira 20/06/2021minha estante
Excelente colocação. O tempo da escrita não é tão longínqua. Precisamos pontuar essas questões para não naturalizarmos e romantizarmos questões referentes pedofilia.




Nathália 05/09/2022

condenado a morrer de bom amor na agonia feliz...
...de qualquer dia depois dos meus cem anos.

gostei muito de ler esse livro, porque tenho uma quedinha pelo gabo e não queria desistir dele apesar da dificuldade em ler "cem anos de solidão" (abandonado, porém desejo retomar).

é fato que o livro traz uma problemática complicada, que é o amor entre um senhor de 90 anos e uma adolescente de 14, mas no geral a leitura é bem fluida, engraçada e carregada de boas lições. quem curtiu lolita, provavelmente vai gostar desse tbm.

e fica aqui registrado que realmente o rolê da diferença de idade é tenso e eu achei pesado, mas como um todo o livro é uma obra incrível e que vale a pena ser lida.
#leiaamericalatina
DANILÃO1505 05/09/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




Jefferson Vianna 01/06/2020

Livro muito bem escrito e que vale a pena ser lido...
Recebi a indicação deste livro em 2015. “Memória de minhas putas tristes” do autor Gabriel García Marquez foi indicado por um professor à qual eu tenho muito carinho e que sempre me incentivou a buscar conhecimento através da literatura. Confesso que ao ler este livro tive outra percepção em relação ao autor, apesar de ter lido poucas obras dele, até o momento, esta foi a que mais me prendeu a atenção. O livro é narrado por um senhor de idade, que ao completar noventa, deseja nada mais do que uma noite de amor com uma adolescente virgem, tendo como cúmplice Rosa Cabarcas, proprietária de uma casa de prostituição. Tendo levado uma vida boêmia, o protagonista, vê-se muitas vezes sozinho, tendo como companhia os papéis, o tinteiro e uma pena de ganso, com a qual produzia suas crônicas semanais, publicadas aos domingos no “El Diario De La Paz” há quarenta anos consecutivos. Até que certo dia, o medo da solidão e a certeza da morte o desperta para uma árdua realidade, condenando-o a morrer de amor. Um livro muito bem escrito e que vale a pena ser lido. Leitura recomendada.
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Quote do livro: “desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte.” – pag. 12 e “A falta de sossego acabou com o rigor dos meus dias.” – pag. 92
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Mari 23/11/2010

Lindo livro, linguaguem clara, simples e cheia de poesia crua, mas esse foi um dos livros que fiquei com sensação que não o compreendi completamente, talvez com mais idade(talvez 90 ano!!)eu consiga entender toda a sua profundidade emocional.
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Ligia.Carvalho 18/04/2021

Solidão, impotência e amor
A história de um velho cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma jovem virgem.

Após uma visa medíocre, perambulando de bordel em bordel, dormindo com mulheres descartáveis, o personagem se apaixona por uma ninfeta e vai trazendo a tona suas memórias.

O livro fala muito sobre solidão, impotência (fisica e emocional) e sobre o amor e como ele transforma as nossas vidas.

Lido em uma sentada, leitura deliciosa.
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Fer Paimel 12/01/2021

Ok
Não é um livro maravilhoso e perfeito, mas dei boas risadas com a história... Acho que diante da grandeza com que se trata Gabriel García Márquez, essa obra realmente não seja tão relevante em seu repertório, mas ainda assim me proporcionou uma experiência agradável.
Daniel.Azevedo 12/01/2021minha estante
Você foi logo no mais fraco


Fer Paimel 13/01/2021minha estante
Kkkkk não faz mal! Quero conhecer o autor em todos os seus aspectos... acho que o próximo será Cem Anos de Solidão


Daniel.Azevedo 13/01/2021minha estante
Esse aí é meu livro favorito




Eric 31/05/2020

Descoberta do amor
A descoberta do amor por um homem que passou a vida se satisfazendo em bordéis ou amores passageiros. Aos noventa anos, nosso protagonista teve uma vida sem muitas grandiosidades, emprego mediano e pouco convívio social. Como presente de aniversário e prova de sua virilidade, ele se da ao luxo de desfrutar uma noite com uma garotinha de 14 anos que foi arrumada por uma amiga antiga, cafetina de um dos prostítulos mais frequentados da cidade.
Porém, ao se deparar uma adolescente nua e virgem deitada em sono profundo devido a uma bebida relaxante para aliviar a tensão, o idoso acaba descobrindo um sentimento que nunca lhe coubera antes e se apaixona pela rapariga ao apreciar sua inocência, beleza e companheirismo que lhe faz nessas noites adormecidas ao lado da solidão de um ancião.

Ler esse texto belíssimo é uma delícia, Gabo com sua escrita muito sensível nos faz vibrar com as reflexões de um idoso encontrando um novo sentindo para sua vida. Essa é a uma história que nos fazer perceber que a velhice é apenas uma condição física, e que nossa idade está relacionada no que a gente sente. Logo, percebemos um narrador que não se limita ao seu corpo e aos padrões imposto e luta para satisfazer seu estado de espírito.


O que traz grande incômodo nesse texto é o fato de a gente estar lendo uma paixão de um nonagenário por uma menina de 14 anos. Apesar da história transcender esse detalhe, isso não tira o fato de eu acreditar na pedofilia do protagonista e isso pesou muito durante a leitura

Esse é um tipo de história que lemos numa sentada só e vai ficar pensando por dias e mais dias. Tirando o detalhe acima, recomendo bastante a leitura
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Ricardo 28/05/2022

Refletir sobre a vida
Interessante como alguns autores tem a capacidade para tocar o mais profundo da nossa existência. Esse livro é muito profundo e intenso. Sentimentos de horror, amor, tristeza, paz foram meus companheiros nessa leitura. Li em poucas horas, pois o livro traz em si a simplicidade, qualidade de tudo que é profundo e intenso.
Juliane.Motta 29/05/2022minha estante
Quero ler!


Ricardo 30/05/2022minha estante
Livro dahora, mas se prepare para as crises existenciais kkkk


Juliane.Motta 01/06/2022minha estante
Hahaha assim que é bom




Nic 13/06/2020

Gabo sendo Gabo.
Um livro sobre velhice, solidão e amor. Numa leitura que flui, encanta e nos toca.
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Flávia 01/07/2014

Ainda estou tentando entender o título do livro. Aliás, ainda estou tentando entender o livro. E não me venham com esse “mimimi” de “ah, é Gabriel Garcia Márquez, é cult, é sei lá mais o quê”. O livro traz (algumas, poucas, soltas) memórias de um homem de noventa anos. E, no meio dessas memórias, ele se apaixona, um caso peculiar de amor platônico. Não que seja menos amor, longe disso. Mas, platônico.

O personagem principal é um senhor só e prático. Quando digo só, não entenda como solitário, apenas não se cerca de tantas pessoas quanto deveria (será que deveria?). E prático com o trabalho, com o amor e com as finanças. Mantém o mínimo para sobreviver e quando precisa de “amor” recorre às casas profissionais. E sempre foi assim, desde sua primeira vez, passou a pagar para ter os prazeres da carne e atenção. Uma vida tão vazia... Ou muito divertida e sem peso? Não sei, só vivendo.

Gostei da forma como a vida é retratada, mesmo em meio às tristezas, não há drama. Mostra a estranheza do comportamento humano. Embora tenha sentido certo ar depressivo. Não que seja intencional do livro, mas traz algumas sensações melancólicas. Não gosto quando me mostram o que o tempo faz com as pessoas. Espero ter sabedoria suficiente para compreender a velhice, não apenas as limitações que ela traz, mas como lidar com o mundo ao redor, repleto de pessoas mais novas.

“E me acostumei a despertar cada dia com uma dor diferente que ia mudando de lugar e forma, à medida que passavam os anos.” – pág 7 (ebook)

Não gostei da história no geral porque achei um pouco fraca, talvez eu imaginasse outra coisa, mas a impressão que tenho é que o livro quis falar sobre várias coisas e ficaram todas pela metade. Sinto que não há um desenvolvimento porque mesmo com o amor, diversas vezes tive a sensação de que o autor tinha encerrado esse tema e daria outro prosseguimento, e de repente, voltava para o mesmo ponto.

O que posso concluir com esse livro? O amor tem formas estranhas mesmo. Cada um se satisfaz com aquilo que considera merecer. Será válido descobrir o amor tão tarde? E não poder desfrutá-lo do modo e pelo tempo que quiser? Saber que tudo é urgente e limitador?

Entendi a falta de pretensão do livro ao impressionar, mas assim?

“Não se engane: os loucos mansos se antecipam ao porvir.” – pág 40 (ebook)
Jacy Coelho 01/07/2014minha estante
Concordo com você em tudo, até chegar da parte em que você explica porque não gostou ahahah

Quando eu li, eu acho que gostei justamente por todas essas sensações que o livro passou (melancolia, solidão). Não lembro ao certo, mas tem umas frases bem fortes. Hoje no entanto, acho que não seria capaz de ler, acho que ia me causar uma depressão profunda srsrsrssr

Essa resenha tá um nível acima das outras viu! ahhahah


Flávia 01/07/2014minha estante
Primeiro, muito obrigada pelo elogio! !!!!!

Eu senti falta de continuidade nas coisas, não sei ao certo. Mas gostei da forma crua de mostrar o comportamento.


Alma 27/03/2015minha estante
Esse livro é muito chato, um personagem vazio, uma história menos que medíocre. Não vi amor nenhum na vida do personagem. Uma história sem desenvolvimento, sem razão, uma desvalorização do sexo, do amor, e da vida.




Paloma 03/10/2021

Minha menina, estamos sozinhos no mundo
Como de praxe da escrita de Gabo, mais uma vez é o tempo o grande protagonista dessa história. Um livro curto que tem como narrador um cronista falido que não nos diz o seu nome. Ele já é velho, solitário e prestes a completar 90 anos, decide dar-se de presente uma noite de sexo com uma puta jovem que ainda fosse virgem. Nesse ponto, já fica difícil de simpatizar com esse senhor que deseja realizar o fetiche sexual com uma jovem de 14 anos. Ele é repugnante.

Com o avançar da história, o narrador vai nos apresentando sua vida, ele faz uma espécie de balanço dos quase 90 anos, contando suas experiências. Um homem medíocre, escritor de crônicas para um jornal há anos, nunca teve sucesso ou sequer ambição na vida. Escolheu ter uma vida pacata de obrigações, até fúteis. Sem família, nunca casou, optou por uma vida solitária e repleta de liberdades, especialmente a sexual. O cronista sem nome teve uma vida sexual muito ativa, genuíno frequentador de puteiro, teve muitas mulheres em sua vida.

Cada vez que ele ia adentrando em detalhes da sua vida, mais repugnante ia ficando. Eis que ele pede a sua antiga amiga, cafetina, que encontre uma garota virgem para que ele tivesse uma noite. Ela encontra a menina. Uma adolescente, pobre, que trabalha para ajudar a sustentar a família e os irmãos, e virgem. Nesse ponto se torna insustentável simpatizar com o protagonista. Ele vai ao puteiro encontrar a garota, que foi dopada por um calmante natural, e a encontra dormindo profundamente. A nomeia de Degaldina. Ele fica ali, admirando-a dormir e refletindo sobre a sua vida.

Os encontros com Degaldina se tornam constante e o cronista parece realmente se apaixonar. Não sei se por ela em si, que está sempre dopada e dormindo, ou se pelo acalanto de estar acompanhado de alguém, não mais sozinho. A narrativa deixa em suspenso se efetivamente o protagonista chegou a ter alguma relação com Degaldina ou se os encontros entre eles se deram sempre com a menina dormindo profundamente e sem relação. Fato é que, esse cronista narrador de vida medíocre nos conduz a reflexões profundas sobre a forma de conduzir o viver, o amor, a companhia, a solidão, a saudade e sobre o tempo.

A narrativa tem um tom nostálgico e melancólico do início ao fim, uma reflexão sobre a vida, ou melhor, a despedida da vida. As memórias e lembranças do protagonista dão o tom da leitura, o que a torna tão agradável e bonita, apesar dele ser uma pessoa não simpática. Me questionei qual teria sido a intenção do autor em propor um personagem como esse. Se a ideia era mostrar um homem velho e solitário que não almejou grandes coisas na vida e sempre teve amores comprados e se viu apaixonado por alguém e pelo prazer de não ser ser. Ou se a ideia era fazer uma espécie de denúncia a pedofilia, prostituição e trabalho infantil tendo em vista que Degaldina tinha um contexto de vida típico das jovens de periferia que são aliciadas ou obrigadas a entrarem na prostituição. De certo modo, ele parece ter conseguido abordar ambas as questões e ainda nos proporcionou uma escrita profunda, bela e instigante que só Gabo tem.

?Não há pior desgraça que morrer sozinho?
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