spoiler visualizarSapere Aude 15/02/2021
O Manual do Imperador Marco Aurélio
Um manual de ordens universais para que se evitem os erros de julgamento, reflexões endereçadas a si mesmo. Imperador romano por 19 anos, responsável pela proteção das fronteiras contra os Partas e os Germanos. Faleceu numa expedição militar contra os Marcomanos, iniciando-se o declínio do Império Romano.
Manual por dispor de vários imperativos categóricos, imperativos de conduta a nortear a evolução pessoal. A Filosofia só quer de nós o que a natureza almeja, a ciência que trata das paixões e doenças, a arte dialética, o despertar para realizar a sua obra. Uma conduta em conformidade com a razão.
A prática das virtudes, a leitura com precisão, ser ilustre sem afetação, não aceitar tudo superficialmente nem se apressar em dar consentimento, harmonizar-se com todos, ser avesso à falsidade, gozar das facilidades da vida, a determinação inflexível de atribuir a cada um o que é de seu merecimento. Conservar a vida sem recorrer a violência. Observar atentamente o que a natureza própria busca.
Amar a família, a verdade e a justiça. Executar cada ação como se fosse a última. Preservar zelosamente os amigos. O uso do tempo na justa medida de que dispõe para honrares a ti mesmo. Tudo o que se tem é o presente. Buscar as coisas impossíveis é insano. Não se incomodar com os obtusos e os ingratos. Não perturbar a si mesmo, tornar-se simples. Lembra-se de Epíteto: ?és uma pequena alma que soergue um cadáver?.
Notória e excepcional é a sua definição de faculdade condutora, os princípios que regem e direcionam a prática filosófica, estóica, a bússola moral, impassível relativamente aos movimentos que perpassam a carne, brandos ou violentos. ?Ao que ponho a serviço minha alma? O que existe nesta parte de mim neste momento? De quem é a alma que possuo neste momento? Honra em ti o melhor e o mais poderoso?. Deve-se suprimir a imaginação, frear o impulso, extinguir o desejo, conservar o controle da faculdade condutora...
Para Marco Aurélio, há diante de nós, extremamente próximo, um vazio imenso e infinito do pretérito e do futuro que tudo desvanece. Observar o teu interior, a fonte do bem, capaz de jorrar sempre desde que se cave. Ser indiferente àquilo que se encontra a meio caminho entre a virtude e o vício. Nisto consiste a perfeição dos costumes: conduzir cada dia como se fosse o derradeiro, não se agitar nem se entorpecer, nem fingir.
Para encerrar, deixo o clamor existencial de Marco Aurélio: ?Oh alma, serás tu algum dia boa, simples, una e despojada, mais manifesta do que o corpo que te envolve? Serás algum dia capaz de saborear a disposição que leva a amar e afeiçoar-se com ternura? Serás algum dia plenamente satisfeito, carente de coisa alguma, destituída de desejo, indiferente a qualquer apetite, sem ter de extrair os prazeres do que é animado ou do que é inanimado? Te contentaras com a condição atual, rejubilaras com todas as coisas presentes? Corra bem para ti, tem os deuses como sua origem a conceder a preservação do ser vivo completo, bom, justo, nobre e belo?...