O túnel

O túnel Ernesto Sabato




Resenhas - O Túnel


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Arsenio Meira 16/09/2013

Sobre toda estrada/ sobre toda sala / Paira, monstruosa, a sombra do ciúme"

Magnífica essa novela de Ernesto Sábato, que nasceu em Rojas, província de Buenos Aires, em 1911. Militante da Juventude Comunista e Doutor em física, Sábato chegou a trabalhar no mítico Laboratório Curie, em Paris, antes de largar o mundo das ciências e se dedicar exclusivamente às letras, em meados da década de 40.

Em meio a uma crise familiar e pessoal, assistiu à corrida pela ruptura do átomo de urânio: “Pensé que era el comienzo del Apocalipsis”, afirmou certa vez. E pôs-se então a escrever.

O túnel foi lançado em 1948, treze anos antes de "Sobre Heróis e Tumbas", considerado a obra prima de Sábato. Mas não é propriamente um livro centralizado tão só no tema ciúme, como pensei inicialmente.

É, sobretudo, um livro sobre a solidão, sobre essa nossa incapacidade inerente de estendermos uma “ponte” ao outro, para que, a partir desse contato, fiquemos livres de nós mesmos. Uma coisa meio Fernando Pessoa, como num belíssimo poema do vate lusitano, que termina numa dolorosa prece de autopiedade e exílio afetivo: “Senhor, livra-me de mim”.

O livro, narrado em primeira pessoa, é angustiante; o desabafo incontido, insensato.

Juan Pablo Castel é um reconhecido pintor que, preso pelo assassinato de Maria Iribarne - crime cuja autoria é confessada já na primeira página - procura reconstruir os fatos e os sentimentos que o levaram ao crime.

De início, é possível pensar que Juan Pablo escreve em busca de perdão; mas ele se apressa em esclarecer que busca apenas fazer com que alguém, “ainda que uma só pessoa”, o entenda. A nota trágica, e que dá todo o tom da narrativa que a partir daí se desenrola, é que Pablo matou precisamente a “única pessoa” que o poderia entender, Maria.

Juan Pablo conta então como conheceu Maria, objeto de seu desejo e de sua obsessão, por acaso, em uma de suas exposições. Explica que Maria foi a única pessoa a notar uma pequena cena em um dos quadros: a cena de uma mulher em uma janela, alegoria que logo nos dá pistas sobre a verdade da busca do narrador.

E passa a descrever melancolicamente suas fantasias, sua busca por Maria, até, inevitavelmente, o processo de sua degradação por Maria, o que culminou com o crime.

É uma estória de incomunicabilidade, de isolamento, de incapacidade e impotência. Os ciúmes de Juan Pablo — do marido de Maria (cego – outra alegoria do autor), de seu parente, e de todas as outras pessoas, as “sombras” — são somente a tradução em raiva de sua impossibilidade de comunicação. É no seu desgaste, pelas ruas portenhas, que Juan Pablo deixa claro que não somos nunca o todo de nós mesmos.

E Sábato expõe essa solidão tão humana através da imagem memorável de dois túneis (esse túnel da vida que todos percorremos essencialmente sozinhos) que correm paralelos, sem jamais se tocar.

O túnel é a estória de um solitário que julgou ter encontrado em uma só pessoa a única possibilidade de intercessão.

Marcos.Azeredo 22/10/2019minha estante
Um dos melhores livros que ja li.


Marcos.Azeredo 05/03/2020minha estante
Um dos melhores livros que ja li!




Paty 11/04/2014

Uma história forte, desconcertante, e um protagonista que nos envolve talvez até mais do que gostaríamos. Um personagem que nos mostra o quanto estamos em um tipo de "flerte" constante com a loucura nos mais simples pensamentos e atitudes.

O Túnel é a arqueologia do ódio.

Fortemente recomendo!
Arsenio Meira 11/04/2014minha estante
Essa definição que imprimistes sobre a passionalidade (arqueologia do ódio) vale mais do que mil palavras. A concisão dá esse prêmio ao leitor: num átomo do instante, a compreensão de tudo. Tu és mestra, Paty!


Renata CCS 11/04/2014minha estante
Paty, já foi para a estante!


Jayme 07/07/2014minha estante
Suas resenhas são perfeitas. Você consegue colocar em poucas palavras suas preciosas impressões.




Renata CCS 14/07/2016

O amor, na cabeça de um insano, pode ser o sentimento mais errado do mundo.
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“O ciúme satisfez-se, mas o vingado estava louco”. (Machado de Assis)


O TÚNEL é uma leitura que eu diria ser, no mínimo, desconcertante. Afinal, não é todo dia que a gente encontra um narrador que, logo na primeira página, está disposto a contar como matou uma mulher casada por quem estava perdidamente apaixonado. É assim que começa O TÚNEL, de Ernesto Sabato, já nos prendendo a atenção nas primeiras linhas.

O protagonista narrador, Juan Pablo Castel, é um artista plástico na casa dos 40 anos, terrivelmente tímido e desesperado devido ao isolamento, que encontrou em María Iribarne a idealização obsessiva de ultrapassar a solidão. A narrativa de Juan é caracterizada por um estado constante de desorientação perante um mundo, para ele, sem lógica. Ele parece sempre envolto em uma nuvem de prostração, com bloqueio para exteriorizar seus sentimentos.

Mais do que uma confissão, o livro é uma espécie de desabafo, mas pela forma como organiza os fatos e relata os sentimentos, Castel não está se justificando ou buscando a simpatia do leitor: só precisa contar o que ocorreu. Ele assume que assassinou a única pessoa que o compreendeu, que poderia ouvi-lo, mas embora sua narrativa seja permeada de sentimentos, nem por isso vê-se em desespero pelo seu ato.

Juan Pablo conheceu María em uma de suas exposições. Conta-nos que Maria foi a única pessoa a notar uma minúscula cena em um de seus quadros: uma mulher em uma janela. Fica obcecado por ela, passa a persegui-la, declara seu amor. Seu ciúme é doentio, o amor o deixa angustiado, pois a mente desajustada de Castel transforma María na luz de sua vida para depois rapidamente rebaixá-la a um ser responsável por toda a sua dor. Por sua incapacidade de criar conexões com outras pessoas, isolado em seu próprio mundo, seus pensamentos tornaram-se seu maior inimigo, que acaba levando-o ao extremo da loucura. Como jamais poderia imaginar ser tomado por tamanho ciúme, ódio e angústia, a única ação que lhe pareceu objetiva foi dar fim a vida daquela que julgava ser a raiz de todo o seu infortúnio.

Gostei do livro e do estilo de Sabato. Na minha opinião, ele criou um dos romances psicológicos mais bem construídos e impactantes da história da literatura. O TÚNEL tem uma notável construção de personagens, é verdadeiro mergulho nas profundezas da alma humana, fazendo com que os leitores atestem seus próprios medos e fantasmas. Sabato tem um estilo furioso e angustiante, mas vale cada página.


“(…) havia um só túnel, escuro e solitário: o meu, o túnel em que transcorrera minha infância, minha juventude, toda a minha vida. E num desses trechos transparentes do muro de pedra eu tinha visto essa moça e tinha pensado ingenuamente que ela vinha por outro túnel paralelo ao meu, quando na realidade pertencia ao vasto mundo, ao mundo sem limites dos que não vivem em túneis; e talvez tenha se aproximado por curiosidade de uma de minhas estranhas janelas e entrevira o espetáculo de minha inescapável solidão, ou tenha ficado intrigada com a linguagem muda, a chave de meu quadro.”

O livro termina com uma frase (ou oração?) de Castel, que diz “Senhor, livra-me de mim”.

“Deus existe, mas às vezes dorme, seus pesadelos são nossa existência”. (Ernesto Sabato)
DIRCE 14/07/2016minha estante
Amei sua resenha. Despertou meu interesse.


Renata CCS 14/07/2016minha estante
Dirce, esse foi meu primeiro contato com Sabato. Impactante! Recomendo a leitura.




otxjunior 24/06/2021

O Túnel, Ernesto Sabato
Quem leu um romance existencialista, leu todos? Foi o que me perguntei do meio para o fim, quando a narrativa, até ali instigante, perde o palco central para a angústia da vida do narrador, sem sentido para além da própria existência. A violência prometida desde a frase de abertura quando é concretizada é de um exercício de misoginia indesculpável pelo leitor do século XXI, independente das intenções do autor.
Enquanto lia vinha em cabeça A Confissão, de Flávio Carneiro. Livro que não me lembro muita coisa, mas também tinha essa proposta desagradável de colocar o leitor na cabeça de um personagem insano e atormentado enquanto ele agride uma figura feminina. A sociopatia de Juan Pablo Castel aqui se desenvolve, por outro lado, a partir da relação complexa de uma admiradora e sua arte.
Ainda com a impressão de que poderia ser um conto, O Túnel apresenta personagens debatendo temas, como literatura russa ou policial, que não pude deixar de atribuir às opiniões do autor, já que ninguém ali realmente se comporta como um ser humano ou mais que meros recipientes de suas ideias.
Além de uma cena cômica e inusitada no correio envolvendo devolução de correspondência, o destaque vai para o momento de revelação do título do romance. O eco do túnel certamente pode ser ouvido na última frase, cujo significado é ainda mais revelador que a de seu início poderoso.
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Leila 31/10/2023

O Túnel do renomado autor argentino Ernesto Sábato, é uma obra que nos leva a uma jornada perturbadora e fascinante, adentrando a mente doentia do protagonista e narrador, Juan Pablo Castel, cujo amor exacerbado por Maria Iribarne é o motor que impulsiona a narrativa. Através de uma escrita intensa e sombria, Sábato nos apresenta uma visão complexa e profundamente inquietante do amor e da obsessão.

A experiência de estar dentro da mente de Juan Pablo Castel é, de fato, uma vivência perturbadora. O autor habilmente constrói um retrato vívido de um homem atormentado por sua paixão irracional por Maria, uma mulher enigmática e misteriosa. A narrativa em primeira pessoa nos permite acompanhar de perto o fluxo de pensamentos do protagonista, que oscila entre a admiração apaixonada e a paranoia doentia. Essa perspectiva nos mergulha em uma espiral descendente de obsessão e autodestruição, à medida que o protagonista se afasta cada vez mais da realidade.

A história é intensa e nos força a questionar os limites do amor e da sanidade. A medida que a trama se desenrola, somos levados a questionar as motivações de Juan Pablo e a profundidade de seu relacionamento com Maria. A atmosfera claustrofóbica criada pelo autor nos faz sentir como se estivéssemos presos em um túnel escuro e sinuoso, juntamente com o protagonista, sem nenhuma saída à vista.

A linguagem e a narrativa de Sábato são simplesmente excepcionais, o que contribui para a sensação de estranheza e inquietação que permeia todo o livro. A escrita é carregada de simbolismo e metáforas, e a escolha do ponto de vista em primeira pessoa nos coloca diretamente na mente estranhíssima de Juan Pablo. Isso nos faz questionar nossa própria compreensão do amor e da obsessão, bem como nos desafia a explorar as fronteiras tênues entre a paixão e a loucura.

Enfim, O Túnel é uma leitura que nos faz sair da nossa zona de conforto e que deixa uma marca duradoura no leitor, fazendo-nos refletir sobre as profundezas obscuras da mente e do coração. Mais que recomedado.
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Felipe 29/03/2014

Devo confessar que, embora não me julgue capaz de matar alguém (e embora também esteja de acordo em que isso não queira dizer muita coisa, pois a maior parte dos assassinos, segundo dizem, também se considerava incapaz desse crime antes de levá-lo a cabo), até hoje, na minha curta vida de leitor, nunca me identifiquei tanto com um personagem quanto com o assassino Castel, de O Túnel. Mas isso não me incomoda, ou incomoda pouco, pois sei que essa sensação se deve mais à habilidade do autor e, aliás, coincide com uma das principais propostas do romance, que não é a de justificar um assassinato, mas a de nos situar no mundo particular do assassino para, a partir daí sim, se quisermos, nos prestarmos à tarefa secundária de redimi-lo, ou condená-lo.
O protagonista de O Túnel não é o assassino impiedoso que habita o imaginário coletivo, apresentado quase sempre de maneira superficial nas histórias convencionais do gênero policial. A despeito do quadro psicológico instável, do temperamento hiper-ansioso e dos problemas de comunicação, Castel é um homem extremamente sensível. Assim como na obra principal de Dostoiévski, é praticamente impossível não nos familiarizarmos com o personagem central do romance em algum momento, e tal identificação se dá pelo que nele há de humano e visceral. Mas, diferentemente do que ocorre em Crime e Castigo, toda a tensão de O Túnel se concentra na fase anterior ao crime, além do que, se Raskólnikov comete seu crime com base em motivações chulas, ou pelo menos mais difíceis de serem justificadas do ponto de vista moral, na obra de Sabato o protagonista tem a sua escusa uma paixão fulminante por María, sua vítima, por quem desenvolve um ciúme doentio. Somos arremessados à torrente de especulações que conduz o personagem-narrador ao inevitável assassinato, anunciado desde a primeira página do romance.
Justamente por apresentar como núcleo a temática do ciúme, é praticamente inevitável que, durante a leitura de O Túnel, um leitor brasileiro não se lembre de um outro romance também bastante célebre. Em Dom Casmurro, Bento Santiago também é assolado pela desconfiança em sua amada, no entanto, na obra machadiana a desconfiança do protagonista se inicia de modo um tanto mais vago para, só bem depois, ganhar substância a partir da chegada de um indício contundente e isolado: a semelhança entre seu filho e Escobar (embora, é claro, nunca saibamos o quanto dessa semelhança se deve à ação deformadora da obsessão do protagonista), o que não ocorre em O túnel, onde acompanhamos a obstinação do protagonista sobre a natureza insidiosa de María se fortalecer gradativamente. Aliás, não só a dele, mas também a nossa. A cada página, a perfidez de María nos parece mais clara e, conseguintemente, sua sinceridade, vai se tornando mais distante.
Mas nada a respeito de María fica exatamente claro. Há sempre espaço para dúvidas. Para isso, assim como na obra machadiana, é essencial a estrutura narrativa em primeira pessoa. Sabemos tanto sobre María quanto Castel. O autor preserva, a todo momento, a obscuridade de tudo que de alguma forma se liga a ela, inclusive os motivos pelos quais se relaciona com Castel. O próprio pintor se atormenta o tempo todo com a improbabilidade de seu convívio amoroso. Sua leitura lúcida mas (ou talvez por isso mesmo) amarga da realidade dificulta ainda mais as coisas para o atormentado protagonista.
Não só as intenções de María são omitidas, mas também muitas circunstâncias determinantes dentro de toda a conjuntura que enseja o cometimento do assassínio permanecem incertas. O próprio evento que funciona como estopim para o crime, último ingrediente dentro do cenário circunstancial que desembocará no cometimento do assassinato propriamente, é um acontecimento sobre o qual paira um considerável grau de dúvida, (embora recebido pelo pintor como a confirmação final daquilo que já vinha definindo como verdade).
Nesse enredo aparentemente simples de uma história tipicamente policial estão embutidas uma série de questões existencialistas, tudo sob o tempero da prosa direta, enxuta e precisa de Sabato, que depois de O Túnel, viria a se consagrar como um dos maiores escritores latinos do século passado.
Renata CCS 12/09/2014minha estante
Acabei de adquirir este livro em uma troca aqui no Skoob. Não vejo a hora de ler!


Felipe 23/09/2014minha estante
Super recomendo Renata! Não vai se arrepender :)


vera 05/05/2015minha estante
OTIMA RESENHA!
Parabens!


Rosa Santana 20/09/2017minha estante
Muito boa a sua resenha! Apesar de discordar em alguns pontos, aplaudo a maneira como vc descreve a sua visão do que nos é dado parcamente por uma mente doentia como a de Castel!




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Peleteiro 28/07/2023

Ciúmes doentios e entediantes
Comecei o livro encantado com a narrativa e com as ácidas ponderações acerca da construção artística, mas logo me vi entediado em uma crise de ciúmes de um personagem insuportável que fez com que eu precisasse me esforçar para terminar o livro. Tudo bem, adoro monólogos e a prosa de Ernesto Sabato é fluida e boa, mas essa trama de homem obsessivo e ciumento com síndrome de 🤬 #$%!& é muito chata. Não recomendaria.
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Lays @la.livros 12/07/2023

O túnel- Ernesto Sábado

Juan Pablo Castel, começa o livro se apresentado e logo de cara ele conta que cometeu um crime e diz que vai não contar os detalhes.

Pois bem, ele passa o livro descrevendo tudo que aconteceu até o momento que ele comete do crime. Ah, ele cometeu um homicídio, calma não estou dando spoleir... isso ele conta no começo.

Ao final ele relata que se sentia em um túnel ao lado dão túnel da pessoa que ele mata.

Achei o livro cansativo, mas dentro da cabeça de um louco é difícil achar algo normal. Rsrsrs

Mas valeu a experiência.

Lido com o pessoal do @Hemingway
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GilbertoOrtegaJr 16/10/2013

O Túnel – Ernesto Sabato
O Túnel – Ernesto Sabato

O Túnel conta a história do pintor Juan Pablo, que confessa ter assassinado María, uma jovem pela qual desenvolveu grande obsessão, após perceber que ela passou alguns minutos fitando um detalhe em um dos seus quadros, ele começa a acreditar que ela seja a única pessoa que o compreende, pois até então ninguém que estava na exposição, demonstrou notar este detalhe. Mas logo o amor de Juan Pablo vai sofrendo “mutações” a cada gesto de María ele passa a desconfiar ou suspeitar ela possa o estar traindo, e aos poucos o que era amor começa a se transformar em ciúmes obsessivos, até chegar ao desfecho trágico.
A parte simples do Livro é que ele flui de forma rápida e a narrativa é quase toda linear, porém O Túnel oferece uma grande complexidade, parece que foi escrito em penumbra, nenhum olhar ou gesto que parte de María é factual, tudo ali é interpretado pelo olhar ciumento e desconfiado de Juan, não oferecendo assim ao leitor uma certeza sobre o fato de María ter traído ou não. E para contribuir com esta dúvida Sabato vai tecendo uma narrativa com um tênue equilíbrio, quando Juan conta que María visita constantemente um primo do marido dela, que Juan Pablo sabe ser um homem de má fama sobra espaço para o leitor achar que ela está o traindo, mas voltamos à estaca zero no momento em que ele reafirma ter ciúmes excessivos em relação a ela.
Esta forma do livro ser narrado foi o grande fator que me manteve interessado neste livro, e me fez ler lê-lo em dois fôlegos, queria fechar o livro somente no momento em que eu pudesse ter uma certeza se existiu uma traição ou não por parte da personagem, e esta constante tensão a cada novo gesto ou olhar me mantinha preso tentando analisar e formar uma opinião final.
Muito além de uma crônica sobre o amor e seu fim o livro deixa clara a grande prisão que é ser amado por alguém ciumento, sem usar algemas ou estar dentro de uma cela, a pessoa sempre estará presa a alguém que só consegue interpretar seus olhares e gestos sob o prisma da obsessão, não importa se María olhasse para o lado por se sentir ferida e incapaz de olhar para Juan após ela tê-lá ferido, o que ele sempre vai acreditar é que ela olhou para outro lado em busca de fitar outro homem.
Com este presente mais que querido, marco meu retorno, ao me interessar pelas literaturas espanhola e latina.
Nanci 13/10/2013minha estante
Ótima resenha, Gilberto. Um grande estímulo para conhecer Sabato.
Abraço, da Nanci.


Renata CCS 21/07/2014minha estante
Tive ótimas indicações deste livro aqui no Skoob. Sua resenha só veio confirmar que devo colocá-lo na lista de prioridades das futuras aquisições.


Rosa Santana 20/09/2017minha estante
E o tanto que Castel é chato?? Deus me livre de um doido desses no meu caminho...


GilbertoOrtegaJr 20/09/2017minha estante
Pois é ahaha, Mas ainda quero ler mais deste autor




Menezes 14/06/2010

"Que o mundo é horrível é uma verdade que não requer demonstração. Em todo caso bastaria um fato para prová-lo: num campo de concentração, um ex-pianista queixou-se de fome e foi obrigado a comer uma ratazana, só que viva."

Se o trecho acima fez algum sentido para você, comece a se preocupar pois você pode estar se identificando com um personagem realmente aterrorizante. Estranhamente foi o trecho que me fez engolir o livro em uma tacada ininterrupta. O túnel é uma das experiências mais perturbadoras que a literatura produziu, neste caso a literatura do hermano Ernesto Sabato.
A trama é simples, mas sua execução é que primorosa: O narrador da história Juan Pablo Castel está na prisão e por meio de sua prosa direta e analítica, ele pretende narrar o seu crime: O assassinato de Maria Iribarne Hunter, a única mulher que o compreendia e que ele amava.
Assim sendo volta ao passas à uma exposição de seus quadros para apresentar esta mulher que se alumbrou com um de seus quadros mais simples, o de uma mulher na janela, e intrigado com a figura misteriosa ele começa a procurá-la, quando a encontra começa a persegui-la até, por incrível que pareça desenvolver um caso adúltero com ela. Porém ele é um homem cheio de dúvidas, problemas, ciúmes e inquietações que consomem toda a narrativa sobre a natureza daquela relação, mais até do que os momentos bons com ela. Só existe a dor que a mulher produz nele, contudo esta é uma dor que não possui lógica, basicamente é um recorte da loucura do próprio personagem que progride até o derradeiro ato da qual ele não se sente culpado, mas fica intrigado com a palavra Insensatez que lhe proferem, motivo que ele ainda ao final do livro procura explicar, pois em seu relato ele procura demonstrar que a razão foi dele.

A genialidade da narração fica por conta dessa lógica do discurso de Juan Pablo, que pega o niilista moderno em nós e cria uma ponte de identificação com este leitor. depois te leva por esse túnel escuro da mente do personagem pelo mesmo timbre até Juan Pablo começar a fazer associações como esta:

“Fiz repetidos esforços para posicioná-los na ordem correta, até conseguir formular a ideia desta fórmula terrível: Maria e a prostituta tiveram uma expressão semelhante , a prostitua fingia prazer; portanto Maria fingia prazer. Maria é uma prostituta.

- Puta, puta, puta! – gritei saltando da banheira.”

Se isso fez algum sentido, vá ao hospício rapidamente. É um livro perturbador, pois até o último minuto nós queremos que ele se arrependa ou que os motivos do crime façam um sentido mais palpável em nossas cabeças. O que há é um túnel escuro em direção a loucura, em dado momento da leitura você toma conta da inevitabilidade desta direção mas não tem como parar. É um livro terrivelmente bom.
Helder 10/05/2012minha estante
Otima resenha. Deu vontade de ler o livro. Curto personagens assim.


vera 05/05/2015minha estante
recomendo fortemente




Geison 18/12/2018

Leitura frenética, avassaladora. O que me chama atenção em Castel é a sua capacidade de utilizar a razão como justificativa do seu ciúme e obsessão. Utliza métodos empíricos e sistemáticos para elaborar hipóteses que existe somente em sua cabeça. Sua inteligência é auto-aniquiladora e o amor pode-lhe ser um veneno.
Marcos.Azeredo 10/07/2019minha estante
Um dos melhores livros que já li!




Gustavo.Romero 13/12/2019

A fugaz realidade
Há justas comparações d' "O túnel" com "Memórias do subsolo", de Dostoiévski, no que se refere ao narrador que interfere ativamente na composição do enredo, tornando o relato uma projeção exclusiva de suas próprias perturbações (a "subjetividade total" do livro, como destaca o próprio Ernesto Sabato). Porem, apesar da tônica conduzida pela psicose de Juan Castel, tormentosa, sombria e perturbadora, e da existência de um "crime" que lhe teria servido de estopim, Sabato afasta Castel do tipo dostoievskiano (o exemplo mais marcante sendo Raskolnikov) ao conduzi-lo não a uma (tortuosa) tentativa de redenção, mas sim do mais completo cinismo do Bentinho (Dom Casmurro) de Machado de Assis.
Essa distinção é duplamente interessante, nao somente por ser o relato enviesado por Castel ou Bentinho, mas principalmente por se fundarem em julgamentos subjetivos e alheios àquelas que teriam sido as "responsáveis" pelas atitudes dos narradores, Maria ou Capitu. Aqui o livro justifica nao somente seu título, mas sugere como Sabato teria transitado da fisica para a literatura : as realidades são de tal forma'infinitas" que só existe, de fato, uma única "realidade", um único túnel, aquele transitado a base de nossa única e exclusiva vontade e experiência.
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Larissa.Albuquerque 16/01/2019

Afetos Sábatonados
Maria morreu.
Maria morre toda vez que encontra alguém que deposita nela todas as suas esperanças, toda vez que ela representa a moça da janela no túnel solitário que é a vida de cada um dos seres presentes nessa terra.
A solidão não se basta. A solidão exige. A solidão requer estratégias. Que corpo é capaz de sustentar o peso de algo tão simples como o apenas ser?
Eu não queria ser Maria. Eu não queria ser Castel. Mas, como evitar depender dos outros se eu só me constituo a partir deles?
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Fabiana 23/01/2013

Perturbador!
Não sei dizer apropriadamente o que achei desse livro. Muito bem escrito, fiel no seu tom obssessivo crescente, mas talvez tenha me perturbado demais a personagem María.

Ao longo da leitura eu não conseguia parar de pensar como uma mulher pode se envolver com um sujeito como Castel? Obviamente que esse raciocínio me impediu de me deixar levar pela trama.

A todo momento precisava dizer a mim mesma que o que sabíamos de María vinha do próprio Castel e que portanto eu a via sob a mente doentia de seu algoz. Ao mesmo tempo acreditava que ela era igualmente perturbada por deixar-se envolver com o pintor.

Diante inclusive de todos os indícios de desfaçatez e loucura de Castel, María envolve-se com ele e em sua indecisão entre a razão e o coração, entre deixá-lo de vez ou perdoá-lo nas diversas vezes em que reataram, ela parece negligenciar que sua morte poderia ser o desfecho para um caso de costumaz violência verbal e delírios.

Confesso que li esse livro com um profundo sentimento de curiosidade em saber como pode funcionar a mente de um psicótico, além de sentir uma perturbação muito grande com seus devaneios, certezas equivocadas, julgamentos doentios, mas também não posso omitir que também senti uma certa antipatia da personagem María.

Resta-me concluir que o mundo está cheio de "Castel's" e "Marias" e que é muito perturbador acompanhar a descrição em detalhes de um caso com essas nuances.
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