Leitora Viciada 24/12/2011O livro é uma publicação independente, o primeiro da jovem Mare Soares, projeto que será uma trilogia, sendo os próximos: Copenhague e Champagne.
Conheci a autora na Bienal do Rio, e me interessei bastante pela sinopse do livro. Adquiri o livro diretamente com ela numa super promoção.
A qualidade do livro é boa, apesar de não possuir uma editora, o material é de qualidade, a fonte tem um tamanho bom, a capa é bonita e quase não há falha na diagramação e revisão.
Gostaria de ressaltar que notei uma enorme diferença na escrita entre o início/meio e o final. A impressão que tive é que a autora escreveu 2/3 do livro primeiro e depois de um tempo o finalizou. Isso porque a parte final está muito mais madura e bem escrita.
As trocas de ponto de vista e narradores ocorrem a todo momento, às vezes em relatos, ou através de trocas de cartas. Em outros momentos, em terceira pessoa, dando uma visão mais ampla. Isso deixa o livro interessante.
Toda a história possui uma ambientação e narrativa noir, direta e rápida. Até imaginava as cenas com uma fotografia em preto-e-branco, o mistério pairando no ar e os locais urbanos decadentes x locais luxuosos e chiques. As personagens também contribuem para isso: uma espiã fatal, um cientista depressivo, um alcoólatra perdido, uma mulher doente. Sendo que os dois últimos sofrem do grande problema que assolou Chantilly: não conseguem se lembrar de grande parte da vida.
O ponto fraco está no fato de que a ótima premissa não foi tão bem aproveitada como poderia. Os cenários poderiam ter sido mais explicados, como a cidade devastada. Não entendia se o lugar estava em parte abandonado, se estava depredado ou em escombros... As personagens são excelentes, mas a autora peca em não se aprofundar mais. Poderia ter aperfeiçoado suas personalidades e motivações e explorado mais o lado sombrio de cada um. Faltou um pouco de drama, não para fazer chorar, apenas para criar uma tensão e cativar.
Por ser uma trilogia, compreendo que mais fatos surgirão. Mas achei que corremos através das páginas e ao terminarmos, não chegamos a lugar algum em relação ao tema central, ou seja: o mistério da cidade de Chantilly, o porquê dos moradores de lá terem perdido suas memórias progressivamente.
Acredito que não importa quantos livros uma série terá, cada volume deve ter um início, meio e fim, e no caso de haver uma continuação, um gancho que os interligue. A autora não soube criar esse sistema, criando um vazio e não uma vontade de desejo de continuação no leitor.
Acredito que a história funcionaria muito melhor se fosse adaptada para uma minissérie, tanto em quadrinhos (estilo Sin City) quanto para a televisão. Para um livro, falta alguma coisa. Mais detalhes ou maturidade, talvez. A autora é jovem e iniciante e teve uma ideia brilhante, porém não a aproveitou 100%.
No entanto, no final do livro nota-se um desenvolvimento fantástico e a autora surpreende com uma evolução na sua narrativa. Por isso acho que antes de publicar o livro ela deveria ter reescrito todo o início e o meio. Se todo ele fosse no estilo do final, seria um livro muito melhor. Tenho certeza de que ela seguirá essa linha e o segundo volume será bastante superior.