NazaSicil 01/06/2024Relato autobiográfico dessa escritora húngara que eu não conhecia e adorei ter a oportunidade de conhecer agora.
A autora nos conta sobre a sua infância, sua ligação com seus dois irmãos e com o avô, já numa Hungria empobrecida no meio de um conflito mundial.
Quando a Hungria é ocupada pela Rússia, Ágota foge com seu marido e sua filhinha de quatro meses, inicialmente para a Áustria e de lá para a Suíça, em 1956.
Embora ela lesse desde os seus quatro anos, em húngaro, sua língua materna, ao chegar na Suíça, precisou aprender o idioma francês, sentiu-se como uma analfabeta, com enorme dificuldade numa lingua que lhe fora imposta. Que tipo de identidade é possível sem idioma ?
É um livro intenso que mostra o sentimento de despertencimento dos refugiados, da perda dos laços com o país de origem, com a língua natal, com suas famílias, mas sinto que nesse relato a violência maior está na linguagem, como se tivessem arrancado as raízes da autora com tamanha brutalidade, violando as suas palavras. Um desafio voltar a ter voz compreensível.
O veículo anestésico para a dor da autora era a possibilidade de voltar a escrever. E ela conseguiu, sorte a nossa !
? "Cinco anos depois de ter chegado à Suíça, falo francês, mas continuo sem saber lê-lo. Voltei a ser analfabeta. Eu, que já lia com quatro anos de idade."
? "Essa língua, o francês, não fui eu quem a escolheu. Ela me foi imposta pelo destino, pelo acaso, pelas circunstâncias. Escrever em francês é uma necessidade. É um desafio. O desafio de uma analfabeta."
? "Eu não podia imaginar que pudesse existir uma outra lingua, que um ser humano pudesse pronunciar algo que eu não compreendesse."