Valéria Cristina 10/04/2024
Autobiografia
Nesta pequena, mas muito boa, autobiografia, Ágota Kristóf conta episódios de sua jornada. Sua infância na Hungria junto aos pais em uma pequena aldeia. Seu amor, desde muito cedo, pela leitura. A ida para o internato e o despertar da necessidade pela escrita. A necessidade de adaptar aos ditames do invasor, a obrigatoriedade de aprender o idioma russo, que tentou deletar a sua língua natal.
Com o cenário da Segunda Guerra e depois da Revolução Húngara, vamos acompanhando essa trajetória que relata a busca por um lugar para viver em paz, sem medo de represálias.
A ida para a Suíça, passando pela Áustria, a chegada ao novo país e o encontro com uma vida insatisfatória são partes dessa marcha. O que mais chama a atenção nessa narrativa são as dificuldades enfrentadas pelos refugiados.
A sensação de perda da nacionalidade, a falta da família, dos amigos e de tudo aquilo que era conhecido causa uma dor imensa que nem todos conseguem suportar. Ágota conta a desmedida luta para se adaptar a uma nova vida, novas paisagens, novos hábitos e o que me pareceu mais impactante, uma nova língua.
Novamente o confronto com o desconhecimento do idioma, a incapacidade de se comunicar, de falar, ler e de escrever, no dizer na autora, a torna analfabeta até que o aprendizado se conclua, a escrita se estabeleça.
Ágota Kristóf foi uma escritora de origem Húngara, natural de Csikvánd, Hungria e residente em Neuchâtel, Suíça, desde 1956 até à sua morte. Escrevia em francês, a sua língua de adoção.