MAY 18/02/2024
Estou apaixonada por Gwen & Art (que não estão apaixonados)
Depois de passar o ano inteiro de 2023 sem fazer praticamente nenhuma leitura boa de verdade, 2024 começou com o frescor de um livro que me tirou do eixo no melhor sentido da palavra.
Para ser sincera, não esperava que fosse amar tanto esse livro quando comecei. Claro, eu sabia que ia gostar, mas o resultado foi muito além do que eu esperava. Gwen & Art podem não estar apaixonados, mas eu, com certeza, me apaixonei por eles.
Eu nunca tinha lido nada de Lex Croucher antes (sinceramente, nunca nem tinha ouvido falar delu), e foi uma delícia conhecer a escrita maravilhosa de Croucher a cada página que passava. ?Gwen & Art não estão apaixonados? tem, na minha opinião, tudo o que um bom livro precisa ter: personagens cativantes, humor na dosagem certa, tramas bem amarradas e, principalmente, carisma! Combinando as pautas de uma comunidade atual com cenários referentes à Camelot do Rei Arthur, esse livro nos apresenta um romance medieval LGBTQIAPN+ que é, literalmente, impossível parar de ler (eu ia dormir às 3h e acordava às 9h todos os dias, com os olhos sempre grudados no próximo capítulo).
E autore explora bem temas como o processo de aceitação de pessoas queer, tanto do outro quanto de si mesmo, e nos entrega, com grande êxito, devo realçar, não apenas uma, mas duas histórias de romance de aquecer o coração. Além disso, a amizade improvável de duas pessoas que se odeiam, mas estão dentro de um casamento arranjado, era a cereja que faltava nesse bolo da antiquada monarquia.
Apesar de os personagens não serem tão profundos a ponto de acharmos que estamos lendo uma biografia, cada um deles é extremamente humano e carrega problemas reais dentro de si. A princesa que tem medo de tomar qualquer atitude ou decisão e se martiriza pela própria covardia; o príncipe que foi criado para ser rei e acredita que não pode ser quem é de verdade por conta disso, reprimindo qualquer emoção que vá contra os costumes do reino e aceitando o destino de uma vida em que, certamente, não será feliz; o nubente que foi usado pelo pai como moeda de troca antes mesmo de aprender a andar direito e cresceu ouvindo que a única coisa de útil que faria na vida seria se casar com a princesa; e a cavaleira que, por mais que seja formidável em tudo o que faz no campo de batalha, não é tratada com o devido respeito apenas por ser mulher em uma sociedade machista. Acompanhar as questões e as evoluções desses personagens ao longo de todo o livro foi como ver uma tartaruguinha sair de dentro do próprio casco. ?Gwen & Art não estão apaixonados? pode não ter os tempos modernos como cenário de fundo, mas posso garantir, com todas as letras, que é um livro atual.
Nem preciso dizer que a minha experiência de leitura foi incrível. Haviam anos que um livro não me deixava em completo estado de êxtase (desde que li ?Vermelho, branco e sangue azul? pela primeira vez, para ser mais exata), e revisitar esse sentimento depois de ter passado por leituras tão desanimadoras foi uma surpresa mais do que bem-vinda. Lex Croucher me conquistou do início ao fim, em cada palavra, e é com grande felicidade que digo que não vejo a hora de ler algo delu novamente. Entretanto, por hora, vou me contentar em revisitar as lembranças vívidas de um livro apaixonante.