O céu para os bastardos

O céu para os bastardos Lilia Guerra




Resenhas - O céu para os bastardos


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claroviski 29/03/2024

Sá Narinha e minha vó
Já quero começar dizendo que esse é provavelmente o melhor livro nacional contemporâneo que já li.
Nele, acompanhamos a história de Sá Narinha, uma senhora que no bairro rico onde trabalha como empregada doméstica é apenas mais uma Maria, mas em seu bairro chamado de Fim do Mundo, é Sá Narinha, a conhecedora das plantas e ervas.
A história é muito bairrista, ela nos traz um sentimento de pertencimento ao bairro Fim do Mundo, já que passamos a conhecer todos os vizinhos de Sá Narinha.
Ele retrata muita coisa, é muito profundo de uma maneira delicada, como se viesse dos olhos daquela senhora. Ele passa por sua vida, por seus sentimentos que vão desde vergonha até orgulho de si mesma, ele passa pela vida de seu filho, e das pessoas que foram envolvidas ao longo do tempo.
É um livro maravilhoso que me faz pensar em minha avó.

site: https://www.tiktok.com/@claroviski/video/7315855792404581637?is_from_webapp=1&sender_device=pc&web_id=7351483268623926789
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 17/09/2023

Lilia Guerra - O céu para os bastardos
Editora Todavia - Capa de Paula Carvalho - Obra de capa: Leandro Junior - Lançamento: 2023.

Esta resenha poderia iniciar com a afirmação de que Lilia Guerra é a legítima herdeira da obra de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo no que se refere à dura realidade das comunidades carentes em nosso país, o que seria verdade, mas não me parece justo limitar a abrangência dos livros da autora apenas à categoria de denúncia social, originada pelo racismo estrutural, por mais importante que seja este tema. Ao escrever sobre a vida das mulheres negras na periferia dos centros urbanos brasileiros, a literatura de Lilia Guerra extrapola o caráter local e panfletário, tornando-se universal como representação da condição humana.

Neste mais recente romance, a narrativa é conduzida em sua maior parte por Sá Narinha, uma empregada doméstica que escreve suas memórias em velhos cadernos. Durante o velório do velho Genuíno, integrante da velha guarda da escola de samba da comunidade, os moradores do bairro que tem o sugestivo nome de Fim-do-Mundo se encontram e Sá Narinha descreve um cotidiano normalmente ignorado pela sociedade e políticos, no qual todos sofrem com a falta de segurança, problemas de transporte, saúde e moradia. Em meio a tantas dificuldades, a narradora enfrenta um drama pessoal devido à prisão do filho, Júlio César, por feminicídio.

"Montaram uma mesa com garrafas térmicas e biscoitinhos dentro do salão fúnebre. Pintassilgo foi buscar um pouco de chá para que seu Claudionor se revigorasse. Mesmo sendo domingo, a linha Centro/Fim-do-Mundo sai abarrotada. Poucos carros em serviço. Sempre. E os que rumam para Fim-do-Mundo não são confortáveis como os que circulam nos bairros onde moram os grã-finos. É uma contradição que ônibus tão compridos tenham só uma porta para desembarque. E, ainda por cima, no final do corredor. Tenho vontade de conhecer o engenheiro responsável pela proeza. A pessoa diz que é estudada, mestre nisso, doutor naquilo, e acaba projetando uma geringonça desajeitada e nada prática. O valor da tarifa condiz com o de um atendimento de luxo. Mas o que será que os mandachuvas consideram ser luxo para o pobre? A maior parte dos passageiros viaja em pé, num aperto dos infernos. E precisa atravessar o corredor inteirinho para conseguir desembarcar. O pai dos monstros de lata não deve ter tirado a prova. Não experimentou passear a bordo de sua invenção. Pelo menos, não com destino a Fim-do-Mundo. Não imaginou que o trambolho poderia lotar a ponto de nós, idiotas dependentes, não conseguirmos botar o pé no chão? Imaginou sim. Esses crias de satã se fazem de mortos." (pp. 11-12).

Por sinal, a violência contra a mulher é um dos fios condutores desta história, representada pela união de Julio César e Regina, uma relação que desde o início já apresentava sinais de que terminaria em tragédia, devido às frequentes crises de ciúme do rapaz. Sá Narinha, que criou o filho praticamente sozinha, apenas com a ajuda da irmã, se questiona como pode ter gerado um assassino: "Botei no mundo um indivíduo capaz de tamanha brutalidade. A anomalia saiu de dentro de mim. Formou as carnes em minhas entranhas, se fortaleceu à custa de meu sangue. Com meu suor. Sou cúmplice do crime que ele executou. Antes eu não tivesse parido."

"A esquina do bequinho fica perto do ponto final da linha Centro/Fim. Quem desce ali logo reconhece o cheiro típico. Os meninos queimam seus baseados, enquanto ganham o movimento. Não mexem com ninguém, são apenas guardiões. Funcionam como rádios. Avisam sobre qualquer presença suspeita. Repassam bobagens no varejo e indicam a quem deseja adquirir artigos em quantidade as tocas para a negociação. Conheço todos eles. Desde que eram pivetes de pé no chão e nariz escorrendo e imploravam para ficar com as pipas que caíam em meu quintal. Disputavam aos sopapos e xingamentos as balas que eu distribuía em dia de Cosme e Damião. Viraram marmanjos cheios de marra. Trocaram os tubos de linha por tacos de sinuca, os doces ordinários por latas de cerveja. Já não se atracam por figurinhas para os álbuns. São atraídos por cinturinhas. Ainda me cumprimentam com certa reverência. Fico tentada a me queixar, cobrar segurança em nosso pedaço. Dizer que os maiorais andam fazendo vista grossa para a covardia dos que apavoram os residentes." (pp. 22-23)

A inesperada amizade que surge entre Sá Narinha e Betinho, filho de sua preconceituosa patroa, demonstra como, apesar de tudo, ainda é possível a superação das barreiras históricas originadas pelo racismo. O romance é uma ótima oportunidade para reencontrar alguns inesquecíveis personagens de outros livros de Lilia Guerra ou para os iniciantes na sua obra conhecerem pela primeira vez a força e emoção do seu estilo, muito recomendado.

"– Acho que o seu bisavô, branco e muito, muito pobre nunca foi torturado, Betinho. Amarrado a um tronco. Surrado. Marcado com ferro quente. Nunca teve um dente arrancado à força nem recebeu sal e vinagre nas feridas abertas pelo chicote. O seu bisavô branco e pobre não foi separado da família. E, pelo que me consta, nunca trabalhou sem receber pagamento nem dormiu numa senzala. Um homem branco podia sim ser mal renumerado. Mas nunca escravizado. Podia ficar desempregado, sem ter uma colherada de farinha ou um gole d'água pra oferecer aos seus. Mas era livre. A seca e a miséria podiam alcançar um homem branco e pobre como o seu avô, que lamentaria a sua falta de sorte. Sem algemas nos pulsos ou grilhões no pescoço. Se a doença corroesse a carne de um homem branco, ele seria consumido livremente. A loucura podia tomar conta de um homem branco. Ele seria um homem louco. Mas livre. Ele sempre seria livre. Uma mulher branca podia ser muito, muito pobre. Nem por isso teria os filhos arrancados dos seus braços diretamente para as mãos dos compradores. Por miserável que fosse uma mulher branca, não seria obrigada a oferecer o leite do seu peito ao filho de outra, enquanto o seu próprio filho era privado de ser alimentado. [...]" (p. 89)

Sobre a autora: Lilia Guerra é paulistana e ariana, nascida em abril de 1976. É autora da coleção de contos Perifobia, finalista do Prêmio Rio de Literatura 2019, e do romance Rua do Larguinho. Seu primeiro livro, Amor Avenida, originalmente publicado em 2014, foi relançado pela editora Patuá em 2022 e, neste mesmo ano, a Patuá publicou também os primeiros três volumes da coleção Novelas que escrevi para o rádio e a compilação Crônicas para colorir a cidade. Atua na área da saúde como servidora do SUS e participa ativamente de projetos que fomentam o hábito da leitura em regiões periféricas de São Paulo, assim como o estímulo à escrita. O céu para os bastardos é o seu mais recente lançamento pela Editora Todavia.
Daniele 12/01/2024minha estante
Incrível resenha! Estou lendo o livro e gostando bastante.




biialobato 26/02/2024

Tocante e realista
O livro retrata a realidade e a vida das pessoas que moram nas periferias da cidade. Seus desejos, realizações e expectativas. O desafio de se viver de forma precária, que existe desde as mil horas em transporte público para chegar ao trabalho, até mesmo a falta de abastecimento de mercadorias no bairro porque os caminhões de entrega não chegam até lá. A história traz uma narrativa fictícia, mas que na verdade se repete diariamente para milhões de pessoas na vida real.
lorranyestev 26/02/2024minha estante
Fiquei curiosa, vou add nas minhas leituras




Gabriela1641 03/03/2024

Um texto ágil com uma narrativa sobre pessoas e os impasses da vida.

Uma leitura de fôlego além de impressionante, Sá Narinha conta como é seu cotidiano e o dos vizinhos, a realidade de morar em Fim- do- Mundo.

Os personagens e situações relatadas tem aquele tom autêntico, que remete a volatilidade da vida.

Um livro que vale muito a pena conhecer.
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Lysiane.Correa 09/01/2024

2/2024
O céu para os bastardos, Lilia Guerra
Todavia, 2023
176 páginas

AMORA LIVROS | JANEIRO
@amoralivros_brasil

Que livraço que chegou em minhas mãos! Me arrependo de não o ter comprado assim que a Todavia o lançou.

Dessa vez vou começar meus comentários a partir da autora: Lilia Guerra é auxiliar de enfermagem no SUS (Sistema Único de Saúde). Ela própria é uma mulher negra, moradora de um conjunto habitacional na Cidade de Tiradentes. Sendo assim, o termo "escrevivência", cunhado pela grandiosa Conceição Evaristo, cabe muito bem na descrição de "O céu para os bastardos" ? uma vez que Lilia narra suas vivências, memórias e conta a história de pessoas à sua volta.

Em uma entrevista para a revista Quatro Cinco Um, Lilia disse:
"Nas orelhas dos livros leio que as pessoas são especialistas, mestres, doutoras? Eu tenho um ensino médio técnico. Minha literatura é essa que você está vendo. Para mulher, já é diferente escrever, porque acumulamos mais funções. Num primeiro momento, as pessoas podem achar interessante, mas, depois, podem pensar que, sei lá, não é tão profundo."

E citando Clarice Lispector, eu digo: "que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho." O trabalho de Lilia foi viver em um Brasil desigual e ter a CORAGEM de expor essa população tão subalterna aos olhos da pseudo-elite nacional.
É de obras profundamente simples que necessitamos para dialogar com o maior número de pessoas possível. É nesses livros densos, mas deliciosos de ler, que se atinge mais leitores.

Vamos ao enredo, então.

A descrição que me foi dada desse livro foi de que "configura uma crônica da quebrada, a Macondo periférica". Eu concordo com essa descrição!
O cenário aqui é "Fim-do-mundo" e a narradora é Sá Narinha, uma empregada doméstica. E, é claro, retalho da vivência de familiares, vizinhos e amigos. Um emaranhado de narrativas que traduz, na ficção, a realidade da periferia brasileira.

Eu diria que o fio condutor desse romance seja o desenrolar na história de Júlio César e Regina. Apesar da trama trabalhar ciúme, violência doméstica e feminicídio, percebe-se que o foco maior ainda se detém nos sentimentos da mãe (Sá Narinha), que já não desenvolveu o amor maternal pela criança e se vê em meio aos caminhos que o filho decidiu seguir.

Esse livro deve ser lido pelos leitores de Conceição Evaristo, Maria Carolina de Jesus e muitas outras vozes negras. Mas, primordialmente, deve ser lido pelas pessoas que necessitam sair de sua bolha social e compreender a sociedade brasileira em sentido de totalidade.

"A gente já não tem nome, quase nunca. É a moça do café a tia da limpeza. a moça da merenda. Quero que as pessoas tenham nome, rosto,
história."
LILIA GUERRA, EM ENTREVISTA PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

"O céu para os bastardos" é uma necessidade nas estantes nacionais.
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Catarina 19/01/2024

O céu para os bastardos - Lilia Guerra ??
Um livro que conta a história de uma grande parte da população brasileira. Certeza que você passou ou conhece alguém que passou por situações descritas nesse livro.

Histórias profundas, intensas, tristes e extremamente reais. Em muitos momentos eu consegui sentir a dor dos personagens e lembrei de situações que já vivi ou ouvi.

Através da narrativa de Sá Narinha, uma empregada doméstica que vive na periferia chamada Fim-do-Mundo, conhecemos as histórias de vários personagens incríveis e também complicados.

Uma leitura necessária e arrebatadora. ??

Livro enviado pelo clube da @amoralivros_brasil em Janeiro/24

Nota: ??????????

Um grande abraço! ?

Sigam meu IG literário: https://instagram.com/vinho.livros.cultura
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@eleeoslivros 22/02/2024

Não me fisgou.
nem por isso deixa de ser um bom livro.
acho que o excesso de personagens me incomodou e o final insoso.
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cyassuko 31/03/2024

A Velhice
Nunca tinha lido histórias contadas apenas por pessoas velhas, achei a experiência muito diferente. É como estar ouvindo as histórias dos mais velhos. Tem muitas histórias que minha avó nunca vai poder me contar, porque já foi.

A narrativa aborda muitos aspectos da vida, muitas injustiças principalmente. Antigamente, filhos extraconjugais não podiam ser batizados nas igrejas cristãs. A criança era condenada por algo que não era sua culpa. Falando em culpa, acompanhamos a culpa carregada por uma senhora pela violência causada pelo seu filho. E de como as pessoas perpetuavam esse sentimento de culpa que ela sentia. Vemos como a sociedade pode ser injusta e cruel, como pessoas que batalharam a vida toda se veem desamparadas na velhice. Atualmente muito se fala sobre viver a velhice com plenitude, mas isso é só pra quem tem dinheiro.
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Ed Souza 26/03/2024

O céu para bastardos
Sa Narina vem nos levar a conhecer os moradores de "Fim de mundo":um pequeno povoado cheio de histórias.

Tudo começa em bom de um velório e vai se expandido.,
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Tim 23/01/2024

Comum, estranho e real.
É um lugar familiar. Sá Narinha é uma vizinha, talvez uma parente ou amiga da minha mãe. Através dessa personagem real, conhecemos seus desafios como mãe, trabalhadora, favelada.

Uma empregada doméstica cuja vida é atravessada pela preferência do filho de sua patroa. Embora esta situação seja real, não aprecio Bentinho, que rejeita o que possui. Sinto que o livro o retrata como merecedor de aplausos, o que não me agrada. A protagonista vivencia situações cotidianas, fofocas e a morte, enquanto lida com dilemas de culpa por ser mãe de um filho que não queria ser.

A escrita da autora não é agradável de ler, não por ser difícil, mas porque só são palavras contando uma história, quase como um catálogo de experiências. Isso é ruim? Em certo momento, para mim foi, mas a história tem substância e vontade. Acredito que com uma escolha narrativa diferente, teria mais impacto. Apesar disso, é um bom livro, especialmente para romper com a bolha.

Nota: 3/5
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C4nteiros 01/03/2024

Não sei o que rolou
Não sei o que rolou aqui!
O tema que mais gosto e a escrita que gosto, mas não rolou. Não me interessei de verdade por nenhum personagem, não fiquei preso por nenhuma história, não despertou meu interesse em nenhuma ocasião.
Uma pena, ouvi muitas críticas boas e indicações de pessoas/autores que admiro o gosto literário.
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carolmc_ 17/03/2024

Realidade
O livro descreve com muita riqueza de detalhes o dia a dia de moradores de uma comunidade, as dificuldades e preconceitos enfrentados, e a força para enfrentar tudo isso.
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Thaísa 31/12/2023

Relatos de tantas pessoas comuns
Encerrar 2023 com essa leitura é um grande feito, já que, desde a FLIMA (Festa Literária Internacional da Mantiqueira) em outubro estava me "coçando" para lê-lo. Assisti a uma palestra, em que a autora era uma das convidadas, para falar sobre sua obra e a importância da escrita de mulheres no mercado editorial brasileiro. Lília Guerra, na ocasião, falou da importância de se dar voz a personagens que, há tanto tempo, são tratados com secundários: os moradores das periferias, que tem tanto a dizer. O livro trata do cotidiano de várias pessoas em um bairro periférico, traz relatos sobre a vida corriqueira de tantas pessoas. Traz, ainda, a dor de uma mãe que se culpa pelo erro do filho e pela desgraça que se deu por conta das escolhas dele. Com escrita simples e fluida, o livro é uma boa experiência para refletir sobre o luto, a culpa e a vida em comunidade... sobre a importância da tão citada rede de apoio e do amor entre família e amigos.
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Renata.Mieko 23/01/2024

Wow!!
Muito bom.
Uma história sincera e uma crítica social certeira.
Mais uma vez o clube Amora se destaca na curadoria.
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Beatriz 26/01/2024

"No ribeirão, cuidava dos ítens pesados. A tina de madeira recebia tecidos delicados. Ela botava as peças de molho à noite e, pela manhã, encontrava um caldo turvo. As impurezas se desprendiam das roupas e se instalavam no fundo da tina. Ela se admirava do processo. Observava que seria bom se, com as pessoas, funcionasse tal e qual. As sujeiras de cada um se desgrudando da alma, somente com um molho de água e sabão. As vidas limpas. Sem manchas. Secando ao sol, na corda ou no cercado"
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