Henrique DM 17/03/2024
Ficção científica com grandes paralelos ao mundo real
Hoje falaremos de Água e Sangue. Ficção científica distópica, com disputas geopolíticas e conspirações palacianas. E, de brinde, intrigas causadas por cultos religiosos, cada vez mais influentes entre os líderes.
No planeta árido chamado Typhon, grandes cidades móveis precisam se deslocar até os recursos naturais, sobretudo a preciosa água. Acho estonteante imaginar esses monstros de metal arrastando-se pelas areias e rochedos. Ainda mais interessante é uma batalha entre as duas maiores metrópoles. Como sempre, nobres discutem e jovens pobres é quem morrem. Apesar da tecnologia futurista que permite a existência de naves capazes de ir além do planeta, as características desérticas do planeta forçam os combates a se tornarem próximos, por vezes corpo-a-corpo, viscerais.
Pessoalmente, como estudante de história com foco em história militar, poderia ter lido muito mais páginas descrevendo a dinâmica dos combates e estratégias aplicadas pelos capitães e generais, além de mais descrições da tecnologia utilizada. Entretanto, sei que nem todo mundo é aficionado por tática e estratégia nesse ponto que sou — quase patológico. Pensando no público em geral, está no ponto certo, não se perde o foco.
Lucas consegue introduzir mitos e tradições, além de elementos tecnológicos próprios em sua história, se afastando de obras que compartilham características parecidas e facilmente vem à mente ao se ler essa resenha, como Duna e Máquinas Mortais. Conheço todas e garanto que Água e Sangue não vai parecer uma fanfic ou apenas um derivado. Não, possui originalidade e vida própria, e vale a pena ser lido.
RITMO:
O livro tem um núcleo na cidade de Darak e outro na rival, Anckara.
A narrativa alterna entre ambos os ambientes palacianos, nos dando um, vislumbre privilegiado do desenrolar da trama geopolítica, conhecimento este privado dos tomadores de decisões em ambas as potências, que justamente faz o conflito escalar. Ao contrário do pouco fluxo de água no planeta, a narrativa do livro é fluída e ágil.
DESENVOLVIMENTO DOS PERSONAGENS:
Um jovem governante sedento por provar seu valor de um lado e o extremo oposto do outro, um velho monarca cansado dos conflitos e ansioso por soluções conciliatórias.
Esse é o contraste inicial que Lucas constrói, e para aprofundar mais, insere um jovem príncipe ansioso perfeito para romper com o pacifismo de seu pai cuja irmã que se esforça para evitar o pior.
São personagens plausíveis e com motivos coerentes.
AMBIENTAÇÃO:
Assim como acontece no mundo real, a disputa por recursos move a trama. Literalmente, pois as grandes cidades errantes efetivamente migram pelo planeta desértico rumo aos mananciais de água.
O planeta Typhon impõe todo tipo de dificuldade aos que insistem em habitá-lo, inclusive a necessidade de mover suas grandes cidades rumo às escassas fontes de água.
CONFLITOS:
Os conflitos se conectam muito ao que vemos em nossa própria história humana.
Basicamente, a ganância é a causa da guerra. O grande reservatório de água, descoberto quase simultaneamente pelas duas grandes cidades móveis, seria suficiente para abastecer ambas as populações, mas a inclinação dos governantes, assim como os nossos, é mais disputar que colaborar.
Além disso, intrigas palacianas e fanatismo religioso só fazem as animosidades se agravarem.