Queria Estar Lendo 12/09/2022
Resenha: Para o Lobo
Para o Lobo é o primeiro livro da série de Hannah Whitten - que a Editora Suma cedeu em cortesia para a resenha. Com inspirações em contos de fadas como Chapeuzinho-Vermelho e A Bela e a Fera, é um início carismático e sombrio de uma história promissora.
A trama começa com a aproximação de uma cerimônia de sacrifício. O reino de Valleyda finalmente viu o nascimento de uma Segunda Filha, quando a rainha deu à luz às gêmeas. Agora, vinte anos depois do nascimento, chegou a hora de entregar Red, a segunda, para a floresta.
Existe um acordo antigo feito há centenas de anos. Wilderwood protege os reinos ao seu redor, contanto que esse acordo seja saciado com a entrega da Segunda Filha para o Lobo. Ninguém sabe o que o Lobo é, mas ele guarda a floresta. E a floresta os guarda dos terríveis monstros sombrios.
Red não quer ser entregue a esse lugar terrível, mas sabe que não tem escolha. Não apenas pelo dever, mas porque parece estar conectada a Wilderwood de maneiras que teme mais do que tudo. Há alguma coisa adormecida em Red, um poder selvagem que responde à magia sombria da floresta. Talvez, lá, ela encontre respostas. Ou pelo menos possa silenciar essa magia de uma vez por todas.
Relutante é sua irmã, Neve, que odeia o sacrifício e o dever da Segunda Filha a ponto de se dobrar a uma sombra maior do que ela, contanto que possa livrar Red do seu destino terrível. Duas irmãs conectadas a uma floresta macabra e selvagem de maneiras diferentes, e uma história de fantasia para guiá-las.
"Todas as Segundas Filhas, mais ícones do que indivíduos. Definidas pelo que eram em vez de quem."
Para o Lobo me surpreendeu muito. Eu não estava esperando nada da história, e gostei de quase tudo que encontrei. Diferente da minha terrível experiência com Enraizados, da Naomi Novik (que tem um plot bastante semelhante em questão de florestas vivas e macabras e sacrifícios mágicos), achei a história da Hannah Whitten muito mais centrada e organizada. Mais carismática, também.
A fantasia é uma espécie de slow burn. Leva tempo até entendermos completamente o que é a floresta de Wilderwood e como ela funciona. Essa entidade viva e faminta que, num acordo centenário, escondeu em suas entranhas cinco reis, e protege os reinos das sombras vivas que ganham forma nas Terras Sombrias.
"- Uma floresta em seus ossos, um cemitério sob seus pés. Não há heróis aqui."
Tem algumas reviravoltas bem interessantes dentro do contexto fantástico dessa floresta. Ela se desenvolve na história como um personagem muito importante; tememos Wilderwood, nos interessamos pelo que ela tem a oferecer. A magia entre as chamadas árvores-sentinelas é muito instigante, e é sombria ao extremo. Não é uma entidade má nem boa, ela só é.
Para o Lobo trabalha a questão do sacrifício de diferentes maneiras. O sacrifício da Segunda Filha, o da floresta, o do guardião, o da irmã que ficou para trás. Gostei de todas as conduções dos plots; foram vagarosas, mas aconteceram no seu tempo e entregaram finais satisfatórios para um primeiro livro de série.
Suas protagonistas, Red e Neve, foram ótimas. Frágeis, com falhas e receios. Bem humanas em um cenário pitoresco em que uma tem que ser entregue para um Lobo em uma floresta viva, e a outra fica para trás lidando com o peso dessa perda.
Red é uma jovem mulher determinada, que ama sua irmã mais do que tudo. E, por causa desse amor, ela teme o que tem dentro dela. Red já viu o que seu poder pode fazer, e foi terrível o suficiente para aceitar o exílio nas entranhas de Wilderwood a fim de escondê-lo. Lá, no entanto, ela encontra propósito. A floresta que tanto temia parece falar com ela.
Ela é um pouco tapada, às vezes, mas nada que fantasias do tipo já não tenham apresentado. Dentro do cenário, todas as decisões que a Red tomou me soaram compreensíveis. Ela está sozinha, tentando entender quem é, e o que existe dentro dela.
Quando conhece Lobo, a relação entre os dois é surpreendentemente madura. Lobo, aliás, foi um personagem maravilhoso! Esse homem misterioso para o qual a floresta também parece responder é o guardião do lugar; é ele quem controla as árvores, quem sacia a sede incontrolável delas por sua presença, e é quem ajuda Wilderwood a conter as sombras. Ele é quase um golden retriever de tão querido, atencioso e bobão.
"- A floresta é tão forte quanto permitimos que seja."
Red e Lobo começam a interagir de maneira errática, mas tem respeito entre os dois. Desconfiança, também. O slow burn que a fantasia apresenta também se desenvolve na relação entre eles. Enquanto entendemos a floresta, Red e Lobo se entendem. A relação simbiótica entre Lobo e Wilderwood parece falar com Red. E é aqui que a fantasia sombria ganha seu momento mais grandioso, e mais terrível.
Se você pegou Para o Lobo esperando romance, não vai encontrar. Acontece, sim, mas é muito vagoroso, muito tranquilo. Leva o tempo que os personagens precisam - e por isso eu amei tanto! Não tem ânsia e nem desespero em fazer os dois ficarem juntos. A narrativa se desenvolve e, devagar, o slow burn acontece. Como tem que ser.
Os pontos de vista da princesa Neve servem para mostrar o que está acontecendo além desse lugar isolado. Onde Red é determinação, Neve é desespero. Ela é movida por ele. Por essa necessidade de salvar a irmã, custe o que custar; e o preço, quando aparece, é terrível.
A edição da Suma ficou linda. Eu amo a capa original, então obrigada por manter! Também gostei bastante da tradução de Helen Pandolfi e Natalie Gerhardt. A diagramação ficou meio apertadinha, mas é pelo tamanho do livro. Nada que atrapalhe a leitura.
Para o Lobo tem um ritmo lento, mas compensa por ser uma fantasia cativante. Fala sobre sacrifício e explora ao extremo o potencial de "floresta viva e faminta" que contos de fadas tanto adoram criar. Tem toques de Chapeuzinho-Vermelho, de Branca de Neve, de A Bela e a Fera. É, sim, quase um conto de fada moderno, com um final que vai te deixar querendo mais.
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