Paulo 26/12/2023
Para quem está acostumado com a leitura das peças de teatro de Oscar Wilde ou de seu Retrato de Dorian Grey, o Rojão Notável é, sem dúvida alguma uma leitura bem diferente. O conto é uma narrativa que se situa no estilo de contos de fadas. O que faz dele um conto de fadas é sua moral intrínseca ao texto que faz essa construção através de seu protagonista. A ideia é apresentar uma situação adversa (no caso a festa de casamento) e mostrar alguma característica reprovável do protagonista (seu egocentrismo). Ao se ver questionado pelos pares, ele precisa aprender a repensar seus valores a partir de uma lição que ataca justamente o seu problema. Outro aspecto que o coloca no gênero é que seus personagens são fogos de artifício que conversam entre si. O autor os personifica e fornece personalidades de acordo com o estilo de fogos. A roda é pessimista e reptetitiva, tem outro que é mais velho e austero. O rojão é envaidecido e deseja se mostrar a todos. Transformá-los em personagens sencientes fornece a desculpa que ele precisa para inserir seus temas no meio da narrativa.
A escrita de Wilde é bem veloz aqui. É diferente da melancolia vista em Dorian Grey onde ele procura fazer um estudo sobre um ser imortal. Aqui a ideia é fornecer o payoff, ou seja, a resolução das coisas de maneira bem rápido. O texto possui um caráter bem narrativo, com pouquíssimas descrições e um grande volume de diálogos. O leitor fica sabendo apenas do necessário para que ele possa compreender o que está acontecendo na cena: uma festa, um grande jardim, um casamento, o príncipe e os fogos. Através dos diálogos e de algumas pontuações, Wilde nos fornece as características dos personagens que não passam de estereótipos de virtudes e defeitos: o vaidoso, o ancião, a confusa, o perdido. É uma escrita eficiente para aquilo que ele busca trazer para a história. Não precisa ser nada elegante ou complexa demais. Basta que o leitor entenda aonde ele deseja chegar.
Wilde vai trabalhar com o egocentrismo do rojão. Ele destaca que o protagonista é uma pessoa intrometida e que fala mais sobre si mesmo do que deixa os outros falarem. É uma crítica a um nobre típico do século XIX, que usa sua posição para colocar as outras pessoas abaixo dele. Sua visão sobre si mesmo é como a de um Narciso que enxerga o universo girando sobre si mesmo. Chega a ser engraçado quando o rojão afirma que a festa não é para o príncipe, mas para mostrar que ele é que um rojão incrível e que sua explosão fará todos o perceberem. Quando pressionado, ele usa a justificativa das origens, mostrando o quanto sua mãe era uma roda incrível e que girou dezenas de vezes com chamas rosadas, deixando todos impressionados. Novamente uma crítica a uma nobreza que vai buscar em indivíduos ancestrais a justificativa para criar um abismo entre ele e seus semelhantes. Essa ideia de vaidade e de egocentrismo, Wilde vai trabalhar com mais calma e profundidade em Dorian Grey. Aqui a ideia é mais apresentar uma história curta e que possa ser lida por qualquer indivíduo.
Esta não é necessariamente uma narrativa que tenha me impressionado, até porque sei o quanto Wilde consegue entregar para o leitor. Mas, ela é eficiente no que se propõe a ser. Quero destacar o quanto o autor conseguiu aproveitar uma narrativa em um espaço pequeno para desenvolver contexto e personagens. Ele conseguiu usar diálogos para construir características, inserir descrições diretas em parágrafos de curtos a médios e mesmo assim o leitor consegue saber exatamente onde se encontra. Não é preciso ser complexo demais; basta que o leitor entenda aonde o autor deseja chegar.
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