spoiler visualizarLari 29/05/2024
Esperado inesperado
Nem acredito que finalmente coloquei minhas mãos em O Legado de Chandler. Depois de uma espera de quase um mês e meio na minha biblioteca virtual favorita (BibliOn, para os curiosos) chegou a minha vez de emprestá-lo e confesso que o livro não foi exatamente como eu esperava.
Cheguei sem muitas expectativas, só sabia que o livro tinha found family (minha tag favorita de todos os tempos) e que se passava entre 1999 e 2000 (que é uma janela temporal que eu particularmente não consumo muito, então me parecia interessante). Felizmente, no início do livro tem um alerta de gatilhos, que tentou me preparar para o que viria a seguir.
Basicamente, O Legado de Chandler trata do surgimento deste grupo de amigos a partir de uma atividade extracurricular super seleta de escrita, o Círculo, dentro do internato a qual todos residente (professora Douglas, responsável pelo Círculo, inclusa). Ela, que é a única professora lésbica assumida do colégio tem esta pequena família com seus alunos a muito tempo, podendo enfim unir suas duas paixões: escrita e lecionar. Os encontros vão fazendo que os alunos vão se conhecendo, desvendando seus segredos, abrasando mágoas e raivas, além de tomarem uma decisão poderosa relacionada ao tema da escola: a verdade nos libertará.
O grupo é composto por cinco integrantes: Spence é a garota popular e legado, mas que tem questões com ser perfeita e em ser uma menina e indiana num colégio majoritariamente branco e masculino; Freddy é o atleta muito bem quisto mas que não se sente parte do lugar, seja pelas amizades babacas, pais que o apoiam mas não o compreendem e pela bissexualidade e medo de entrar novamente num relacionamento; Brunson é a garota faz-tudo (no sentido acadêmico da coisa) e amiga de todos mas que ao mesmo tempo não é amiga de ninguém e que tem muitos segredos; Ramin é o imigrante iraniano e gay que foi pros Estados Unidos na esperança de segurança e recebeu veteranos de dormitório extremamente criminosos (estou falando de homofobia, xenofobia, violência de gênero verbal e física e, se eles puderem, mais); e Beth, que é a garota lésbica invisível do colégio com ansiedade pesada e uma leve vontade de vingança de sua ex-colega de quarto. Esse grupo é especialmente carismático e cheio de desenvolvimento pessoal. Descobrir os segredos de cada um, conhecer os personagens secundários BONS E LEGAIS e também ver como eles aprendem com a Douglas tanto quanto ela aprende com eles é extremamente satisfatório.
Apesar das cenas de violência verbal e física poderem ser bastante... intensas (acredito que não seja extremamente gráfico, mas particularmente fique surpresa com o quão profundo a cena que o Ramin presencia literalmente na metade do livro me atingiu), o autor buscou ser responsável com elas, não diminuindo nenhum dos personagens e suas vivências, muito menos os colocando numa posição degradante por serem vítimas (além, é claro, das reflexões em grupo e pessoais sobre estes traumas e também na nota do autor com menção a métodos de prevenção da vida).
Enfim, a narrativa é viciante e os personagens te deixam tão envolvida que é fácil ler ele numa sentada. Acredito que possa conquistar bons espaços no coração de alguns leitores.