Fabio451 03/06/2023
Dando continuidade às resenhas atrasadas de 2022, hoje falo de “A cidade de vapor – Contos reunidos”, a última obra lançada pelo premiado escritor espanhol Carlos Ruiz Zafon. Na verdade, o livro foi publicado após o falecimento do autor e foi divulgado como sendo uma verdadeira homenagem ao legado de sua carreira, contemplando todos os 11 contos escritos pelo autor em vida. Não há muito detalhamento a respeito do período em que cada um destes contos foi escrito, portanto podemos presumir que podem ter sido escritos por um Zafon ainda adolescente ou mesmo pelo autor já consagrado pouco antes de sua morte. Claro que com as ferramentas de hoje é possível se levantar todas estas informações, mas eu prefiro encarar este livro com uma aura de mistério e reverência que a última obra do autor de meu livro favorito merece.
Por essa razão eu me sinto verdadeiramente desconfortável em colocar em palavras as minhas reflexões a respeito da obra. Sinto – com verdadeira convicção – que não sou digno de tecer qualquer crítica a respeito de uma obra sequer de Zafon, mas ainda assim, preciso ser fiel às minhas convicções e trazer as minhas impressões sinceras a respeito dessa obra. Não achei o livro ruim, longe disso, simplesmente não é o meu formato favorito de leitura. Gosto de uma conexão mais aprofundada com cada personagem e cenário descrito, gosto de saber maiores detalhes a seu respeito, sua forma de pensar o mundo e entender o que o envolve e motiva, por essa razão esse compilado de vários contos curtos jamais irá me cativar verdadeira e profundamente. Ainda que proporcione uma leitura leve e bela, com o pincelar característico do estilo único de Zafon em diversos momentos.
Há uns contos melhores que outros, obviamente, o que me leva a crer que, por se tratar de um compilado de contos de uma vida toda, se relacionam a diversos momentos da obra do autor. Alguns me parecem firmemente ancorados na estética de “A Sombra do Vento”, sua maior obra – e meu livro favorito da vida. Poderiam facilmente compor um capitulo adicional dentro da trama do livro supracitado sem nenhuma dificuldade de integração, tamanha a similaridade da escrita. Outros, por vez, se parecem bem diferentes com este estilo, o que me leva a crer que se tratam de contos escritos em outro momento, talvez por um Zafon ainda em formação como o célebre escritor que viria a se tornar.
Nada disso, porém, desabona o livro. Ainda que não me pareça algo que o autor talvez tivesse publicado integralmente – ou pelo menos não sem uma revisão ou reescrita de alguns trechos – a sensação de ter em mãos um livro inédito de Zafon mesmo após a triste partida do autor é tão avassalador que tudo é colocado em perspectiva. O que importa é ter mais um volume desse autor maravilhoso, que me proporcionou e proporciona constantemente momentos deliciosos durante alguma releitura. O livro é proposto como homenagem e deve ser saboreado dessa forma, como homenagem. É uma celebração da vida e da obra desse autor tão especial, que pode ter deixado o plano terreno, mas que viverá eternamente em suas páginas transbordando emoção, mística, humor e, acima de tudo, um amor imensurável pela palavra escrita.
Obrigado, Zafon. Você despertou em mim um leitor melhor, um leitor ainda mais apaixonado por livros e bibliotecas, profundamente reverente à sublime e mais bela de todas as formas de arte. Transformar palavras em sentimentos, memórias e paixões, requer uma alquimia complexa que somente os maiores gênios são capazes de executar. E você, meu amigo, certamente hoje repousa tranquilamente no olimpo entre outros de sua espécie. Um abraço de seu singelo fã.
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