spoiler visualizarIngrid 28/12/2023
Deus é criativo e realmente não repetiu a história.
Eu penso que essa narrativa nas suas primeiras páginas não é fascinante. É um drama familiar que te prende por eventos pequenos: gêmeos chamados Caim e Abel; uma mãe muito religiosa que detesta sexo e ignora o marido;um marido nem bom, nem ruim, talvez insuficiente para tentar encontrar um rumo com a esposa e que bêbado só pensa na união carnal...
Com o tempo, a narrativa ganha uma força, um negócio difícil de explicar. Dramas familiares sempre têm partes complexas de serem lidas, porque são pesadas. É dolorido imaginar que Custódia lutou muito pela união dos irmãos, mas esqueceu que 2 pessoas diferentes não podem ser tratadas como iguais. O peso de sempre tentar diminuir Caim para que ele coubesse em Abel- sem planos, sem desejo pela vida, sem ímpeto. Essa parte é complicada de ser lida porque eu acho sempre tudo muito injusto com Caim e muito "pano passado" pra Abel.
Quando entram as moças e Caim passa a se destacar mais ainda, ali na metadinha do livro... A narrativa começa a pesar muito. Abel é nojento, é mau, é invejoso e é violento. Ver tudo que acontece por causa do temperamento de merda dele, da obsessão doentia por Veneza... Mds, como é dolorido. É forte demais ler esse pedaço, mas você devora pq o drama te convida.
O presente... O presente é agonia do começo do livro ao final. Ver todo o desenrolar do passado é essencial pra entender o presente, e a Vedina só sofreu. Uma mulher maculada pela existência de um marido torpe. A vida de Vedina, a maternidade, o filho sequestrado por um ato de loucura que não durou uma hora... Vedina foi dilacerada pela vivência com Abel. Mas a gente percebe ao final que toda essa família teve uma culpa e, os culpados, na realidade, não são tão castigados quanto deveriam. Todo mundo deu sua contribuição para que no final Augusto fosse abandonado, o inocente que paga, mas é fato que ser filho de um pai cuja obsessão é traço de personalidade e uma mãe desgastada numa ralação que é pura chaga não tem como ser positivo.
Realmente, o acontecimento, o momento exato teve uma véspera que, na adolescência de Caim, Abel, Veneza e Vedina teve seu ponto áureo. Mas é difícil definir esse ponto áureo, porque a vida é tortuosa e tem coisas que são irreversíveis e bem piores que chamar dois filhos de Abel e Caim.