Silvania.Vilela 20/05/2024
Véspera - Carla Madeira
Este foi o primeiro livro que li da autora, embora tanto já tenha ouvido falar e inclusive tenho Tudo é rio. Penso que há livros que nos convidam a lê-los, cada livro tem seu momento para cada pessoa em particular.
É um livro narrado em terceira pessoa, o narrador conhece cada sentimento, bom ou mal no coração de cada personagem, nos mostra gentilmente toda a beleza capturada de pequenos momentos na lembrança, e também toda a perversidade que cresce feito erva daninha, virando um acumulado de sensações opressoras e causadores de consequências irreparáveis.
O início do livro tem uma cena chocante, que é o acumulado de tudo o que ocorre na história. Uma mãe exausta de um casamento que é sinônimo de repulsa, abandono> Em um momento de estresse que ocupa seu auge, como nunca visto, essa mãe abandona seu único filho de 5 anos e 7 meses em uma calçada movimentada. Ao se dar conta do que fez, volta imediatamente, mas tudo favorece para que chegue em um tempo tardio, seu pequeno e inocente filho não está mais lá.
Depois dessa cena, o livro é dividido em dois tempos, o atual após Vedina não encontrar seu filho, que se segue nessa cena e com lembranças do passado internalizadas. E a outra parte, intercalada com o tempo atual, tem sua contagem regredindo, contando a história de uma mãe, a Custódia e seus filhos gêmeos, Abel e Caim. A todo momento, você imagina como essas famílias vão estar conectadas, eu pensei inúmeras possibilidades, e no decorrer da história os personagens vão suavemente se conectando, sem que você quase perceba. Dois tempos indo de encontro até se chocarem.
Há uma pequena parte do livro narrada em primeira pessoa, com objetivos claros. Uma história muito bem estruturada, muito bem escrita, e com grande maestria, nos causa sentimentos diversos.
Esse sentimento de caos, estresse, limite, é vivido por todas as mães em algum momento de suas vidas, ler essas páginas causa uma dor aguda nos ossos de uma mãe, ao mesmo tempo que nos faz pensar sempre mais, respirar, e ter calma, e lembrar desse livro pelo resto da vida.
A forma como o narrador conta das diferentes fases da vida dos personagens, acontece de forma tão reflexiva, nos causa espanto, como as coisas que nos ocorrem na infância nos moldam para sempre. Somos um acumulado das coisas que nos ocorrem. É um verdadeiro convite à nossa própria autoanálise, como filhos, pais, irmãos, seres humanos.
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