Sobrevidas

Sobrevidas Abdulrazak Gurnah




Resenhas - Afterlives


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edu basílio 17/08/2022

"[não tenho] uma história completa, só fragmentos entrecortados por uns buracos complicados (...)"

a julgar por este livro, o mais recente do autor e o 1° dele publicado no brasil, e também pelas sinopses que li de seus outros romances, fica bem evidente a mensagem de estocolmo ao outorgar o nobel de literatura de 2021 a abdulrazak gurnah: que se voltem os holofotes para sua obra e que ela contribua para o esclarecimento, via olhares "de dentro", dos impactos no neocolonialismo europeu na costa leste da áfrica durante a primeira metade do século XX (o que, de fato, não é de conhecimento amplo por aqui; pelo menos não em minha percepção).

acerca de "sobrevidas" especificamente, muito da cultura e dos dramas do leste africano invadido nos é revelado por meio dos caminhos entrecruzados de diferentes protagonistas: asha e afiya, mulheres tantas vezes tratadas como sub-gente, mas com uma impressionante resiliência e alguma justificada rabugice; ilyas, em choque cultural e religioso ao retornar à tanzânia em busca da irmã, sua única parente viva, mais de uma década depois de ter sido raptado e educado na alemanha; hamza, soldado que se viu obrigado a integrar as tropas alemãs para lutar contra seu próprio povo, recebendo em troca abusos, ingratidão e feridas...

a construção do romance é lenta, arrastada -- contrastando com um final ultra-acelerado --, além de contar com a inserção abundante de palavras, expressões e frases em alemão, árabe ou suaíli. de acordo com o que li em uma entrevista, a manutenção desses trechos nas línguas dos colonizadores e colonizados foi uma solicitação do autor, expressa por escrito nos contratos com editoras de outros países. ok, os trechos são repetidos logo depois traduzidos... mas essas inserções excessivas tornaram a leitura cansativa. e tudo isso acabou por ferir um pouco o meu prazer de ler (chamem-me de "hedonista literário" se desejarem, pois, sim, uma das minhas prioridades quando leio é ter prazer).

contudo, tentando superar minhas questões pessoais e encarar o livro de forma mais abrangente e objetiva, o que se tem nele é um painel vasto sobre páginas negligenciadas (abafadas?) da história do neocolonialismo europeu na áfrica oriental. a relevância desses fatos permanece atualíssima, não apenas porque os oprimidos de qualquer lugar e época merecem voz, mas também por fazer ecoar a questão maior, e muito grave, dos refugiados em todo o planeta hoje. o fato de o próprio gurnah ter sido nos anos 1960 um refugiado tanzaniano, e ter podido construir sua vida e uma sólida obra como professor universitário e escritor na inglaterra, adiciona mais camadas à mensagem: é preciso que o mundo construa estratégias para lidar com essas marés de refugiados de países que, após serem "libertados" e se tornarem "independentes", se acham agora em grave caos econômico e, ainda, não raro atolados em infindáveis guerras civis (o caos climático também já começou a se somar a essa equação sinistra).

que do 'huis clos' de estocolmo saia, daqui a menos de dois meses, mais um nobel de literatura que fuja da listinha-clichê de "nobelizáveis" -- que tem hoje amós oz (que até merecia, mas já morreu há uns 5 anos), hilary mantel (que não merecia, e de qualquer forma morreu também faz pouco) e até haruki murakami (que continuará não merecendo, nem vivo e nem depois que morrer) -- e enalteça a obra de mais alguém que, ou pela crítica social engajada (como aqui), ou pela imensa beleza artística, ou pela profundidade filosófica, "seja de real benefício para a humanidade", nas palavras do próprio instituidor do prêmio em seu testamento, às quais abdulrazak gurnah parece ter feito jus.

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Fabricio 17/08/2022minha estante
A tag mandou um livro dele para os associados em julho, À beira mar. Tô curioso pra ler mas não consegui um exemplar ainda


edu basílio 17/08/2022minha estante
parece que o mais fomosão é "paradise", e que a cia das letras teria adquirido os direitos de publicação de 4 aqui no brasil, incluindo esse ("by the sea").


Fabricio 18/08/2022minha estante
Os golpes da Tag. Fingem ser curadoria quando todo mundo já sabe que é parceria ehehe


edu basílio 19/08/2022minha estante
parceria na hipótese mais honesta. noto que muitos desses livros de "clubes" saem poucos meses depois por selos "tradicionais". talvez os clubes sejam um negócio das próprias editoras para vender mais caro algo com roupagem de "exclusivo" (nossa, será que estou me tornando psicótico por pensar nesse tipo de tramoia, ou o mundo não presta mesmo? rsrs).


Fabricio 19/08/2022minha estante
Mas é exatamente isso. Todos ganham a editora já mete um lote de quase 30 mil livros vendidos e ainda recebe um termômetro de aceitação (alguns mal avaliados, inclusive, nunca foram lançados comercialmente. Boa parte desses livros nunca venderiam nem 20% disso. A tag curadoria no início reeditada grandes obras, muitas esgotadas. Hoje, a maioria absoluta é de livros inéditos que já estão no forno das Editoras. Só da editora Dublinense eles já enviaram uns 7 livros esse ano. Pouquissimosnforam realmente curadoria de outros já lançados anos atrás. E eles nem se esforçam mais pra disfarçar kkk ano passado enviaram Sula da Toni Morrison, inédito no Brasil, dizendo que foi indicação da Conceição Evaristo. Ora, ela leu em inglês pra indicar? Haha aí teve uma live com participação dela e ela soltou, tadinha, que não tinha lido.


edu basílio 20/08/2022minha estante
em seu site, o recém-finado clube da intrínseca garantia que "os títulos só chegarão às livrarias depois de 45 dias ou mais e em outro formato" = 1 mês e meio de "exclusividade e sentimento de ser vip" pelo preço de 2 ou 3 livros. rsrs... ENFIM: seu "à beira mar" já já aparece aí pela cia das letras.




Leila de Carvalho e Gonçalves 01/04/2022

A História Da Grama
Todo ano, a Academia Real Sueca consegue surpreender ao anunciar o vencedor do Nobel de Literatura, e 2021 não foi exceção. Ignorando os nomes mais conhecidos, as listas especulativas e as apostas, no dia 7 de outubro, o premiado foi Abdulrazak Gurnah.

Uma decisão elogiada pois trata-se do primeiro tanzaniano e o segundo escritor negro africano a merecer tal láurea e, a despeito de uma certa afinidade temática entre sua obra e a nossa história, como o racismo e a colonização europeia, até então, ele era praticamente desconhecido, sem qualquer obra publicada no Brasil.

Entretanto, em menos de uma semana, a situação já era mais promissora. A Companhia das Letras anunciou que passara a ser a casa brasileira de Gurnah e quatro de seus livros já estavam programados, inclusive, um deles seria lançado no primeiro semestre de 2022.

Promessa cumprida: Afterlives ou Sobrevidas (2020), seu mais recente romance, acaba de chegar as livrarias. Uma escolha que me surpreendeu, pois esperava Paradise (1994), sua obra mais conhecida e aplaudida pela critica, que foi finalista do Booker Prize. Aliás, Sobrevidas começa onde Paradise termina e há uma interessante intersecção entre eles: a semelhança de Hamza e Yusuf, dois ?sobreviventes? de histórias sem heróis.

Resumidamente, Sobrevidas compreende um período de aproximadamente 80 anos e apresenta uma África cujas fronteiras ainda estavam sob disputa, isto é, desde a colonização alemã da Tanzania até 1963, dois anos depois da independência do país. Contudo, apesar dos grandes eventos forjarem o rumo dos acontecimentos, são as pessoas comuns que ocupam o centro da narrativa. Conforme explica David Pilling, editor do FT Afrika: ?Há um provérbio do leste africano que diz que quando os elefantes lutam é a grama que sofre. Abdulrazak Gurnah é um escritor sutil demais para recorrer a tal clichê. Mas Sobrevidas é uma história da grama?.

Com quase 400 páginas e cerca de 8 horas de leitura, o romance aborda um assunto relevante mas pouco explorado: o emprego de soldados africanos, comprados ou roubados, para defender os interesses do colonizador, no caso, a Alemanha. Eles são representados por Ilyas e Hamza que, vizinhos na infância, trilham distintos caminhos até um desfecho impactante mas abrupto, que é a principal crítica ao livro.

Curiosamente, Gurnah estrutura a narrativa tendo como arcabouço moral Khalifa. Pacifista e mal-humorado, ele é um guarda-livros que abre o romance e pouco a pouco, vai estabelecendo laços com as demais personagens, como a órfã Afia que, irmã de Ilyas, é criada por ele e a esposa. Por sinal, ?é através de Afia e Hamza que é aberta uma janela para o potencial restaurador da confiança e do amor em Sobrevidas?. (Maaza Mengiste, The Guardian)

Finalmente, o livro pode ser comparado a um fascinante e colorido mosaico. A Tanzania surge multiétnica e pluricultural, por exemplo, Khalifa é filho de um guzerate, Ilyas e Hamza são bilíngues, falam suaíli e alemão. Essa riqueza também aparece no texto que se distingue pelas inúmeras palavras em diferentes idiomas. O necessário para o entendimento do texto está traduzido, mas para quem é mais detalhista, sugiro manter um tradutor on-line a mão. Como comprei o e-book, essa tarefa ficou bem mais fácil. Fica a dica e até a próxima! ??
Dhewyd 01/04/2022minha estante
Sempre ótimas resenhas ... não conhecia nem o autor nem o livro... mas já me incutiu um interesse.


Ana Sá 01/04/2022minha estante
Estou muito curiosa desde o Nobel... Sua resenha foi a cereja na minha vontade de leitura, Leila!


GIPA_RJ 05/04/2022minha estante
O Prêmio Nobel sempre permite aos leitores brasileiros desfrutar de grandes autores : Pamuk , Alexievitch , Tokarczuk e agora Gurnah.. Foi por este livro que ele recebeu o Nobel ou outro?


Leila de Carvalho e Gonçalves 06/04/2022minha estante
GIPA_RJ, o Prêmio Nobel é concedido pelo conjunto da obra.


Racestari 20/04/2022minha estante
Gostei muito da resenha. Informativa e suculenta para que eu lesse o livro que adorei!


Lurdes 02/05/2022minha estante
Adoro tuas resenhas e considerações.




Bastos 25/07/2022

Foi uma grata surpresa essa leitura, com uma história envolvente e tragica sobre o colonialismo europeu na África, acompanhamos vários personagens e como a guerra afetou a vida de cada um deles.

O desenvolvimento dos personagens no decorrer da história é muito bom, nos apresentando suas virtudes e defeitos.

Achei o final um pouco corrido, como se não quisesse deixar uma ponta solta ai tentou resolver da maneira mais rápida, o final teria sido bem melhor se não tivesse sido acelerado.
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M. S. Rossetti 10/07/2022

Literatura mediana
Uma trama sobre nazismo praticado por um personagem negro nascido em território africano. Narrativa constante, desfecho com pretensa reviravolta, mas com pontas soltas ao longo da estória. Sabe-se que literatura não tem o compromisso de entreter, mas eu esperava mais. A meu ver, há uma trecho com teor homofóbico, o que me incomodou um pouco. Enfim, não atendeu às minhas expectativas.
M. S. Rossetti 20/08/2022minha estante
"Os nazistas queriam as colônias de volta, o tio Ilyas queria os alemães de volta, então ele aparecia nas passeatas carregando a bandeira da Schutztruppe e nos palanques cantando músicas nazistas."


M. S. Rossetti 20/08/2022minha estante
Segue o trecho do livro que mostra a trama nazista envolvendo o personagem do livro. Apaguei por engano o comentário do colega que escreveu "Nazismo?". Acredito que a citação esclareça a dúvida...




Higor 03/09/2022

"Lendo Nobel": sobre vidas refugiadas
A escolha da Academia Sueca para o ano de 2021 surpreendeu a todos. Fugindo de polêmicas desde a questionável escolha de Peter Handke em 2019, a escolha para 2021 foi, de modo geral, vista com bons olhos. O autor africano Abdulrazak Gurnah trouxe um frescor e respeito que o Prêmio Nobel busca, ainda mais quando o último autor do continente, Coetzee, foi laureado há quase 20 anos, em 2003.

Um ponto interessante em se analisar da obra de Gurnah é que, escolha sensata da academia, o autor traz à tona novos assuntos - e problemas sociais e regionais, como não poderia deixar de ser - que a África enfrenta. Os temas recorrentes em livros que abordam o continente focam em temas como escravidão e apartheid, porém, ao escolher um autor do lado oriental do continente, local onde fica localizado a Tanzânia, temos um novo debate a ser pautado, e que sequer passou em minha mente, por exemplo: como era a África entreguerras? Como foi sua participação nesses períodos tão conturbados no mundo inteiro?

A premissa de "Sobrevidas" é um tanto simplória, um quebra-cabeças fácil de montar: os quatro protagonistas, com alguns anos de diferença entre si, terão suas vidas entrelaçadas em determinado momento, mas não de maneira surpreendente.

Talvez este seja justamente o ponto mais positivo de Gurnah: o de ser franco com o leitor. Não há nada de mirabolante, fantasioso e nem de muito promissor. A vida não é fácil, logo, seus personagens não terão, necessariamente, um final feliz. Ou talvez o final feliz seja variável de leitor a leitor, assim como pode ser algo fraco para quem lê, enquanto o ideal de felicidade do personagem seja um tanto contido e satisfatório.

Por exemplo: Khalifa é filho de um indiano e uma africana, tenta a vida em uma cidade da Tanzânia, logo após a morte dos progenitores. Por saber ler e escrever, logo assume a contabilidade de um mercador, que se aproveita das circunstâncias e mexer vez ou outra com contrabando.

Paralelo a isso, Ilyas aparece na cidade em busca de trabalho. Raptado por um soldado nativo, um soldado alemão mudou o panorama de sua vida ao cuidar e proporcionar estudos a ele. Por saber ler e escrever, também tem suas facilidades em encontrar emprego. Logo se torna amigo de Khalifa e, juntos, procuram pelo paradeiro de sua família, onde descobre que possui uma irmã, Afiya, um pequeno bebê quando foi raptado.

Ainda temos Hamza, ex-voluntário da Schutztruppe (tropas alemãs nas colônias africanas do século XX), que retorna a cidade natal para tentar reorganizar a vida, mas ainda sofre dos traumas e mazelas dos intensos embates dos britânicos contra os alemães, que vai culminar na derrota alemã na Primeira Guerra Mundial.

É curioso observar que todos os personagens de "Sobrevidas" se sentem estrangeiros, ou são de fato, seja por mudarem com frequência de casa, de cidade ou até mesmo de país. A franqueza do livro está, justamente, em pincelar personagens que não têm sucesso no exterior após sua migração, mas procuram se adaptar ou aproveitar o que foi proposto no
momento, tirando o máximo possível. É um alívio diante de livros em que as pessoas tentam a vida em outras cidades ou países e, após um salto de anos na história, surgem como os mais renomados em suas áreas de atuação, mas aterrorizados por demônios da vida de outrora.

Com um início lento, porém lapidado, "Sobrevidas" chega a um final acelerado, como que feito às pressas, se não de maneira preguiçosa, ao menos prática o suficiente para encerrar o livro e responder a algumas questões, mas ainda assim, ou talvez por isso, a maneira como as coisas foram jogadas me deixou um tanto atordoado. Que final! Mesmo após a leitura, fiquei pensando no livro por uns três dias, assustado com a maneira como o autor amarrou os temas até nos mínimos detalhes.

Como bem pontuado pela Academia Sueca, "Sobrevidas" é um livro desconcertante sobre os problemas sociais enfrentados na África Oriental: o colonialismo e a condição de refugiados. Embora o mais recente e menos famoso, é um ótimo livro de entrada na literatura de Gurnah.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel".
edu basílio 03/09/2022minha estante
que resenha sóbria, justa e bem estruturada! ? adorei ?? (eu pensava que 2013 tinha sido o ano da alice munro... e, se não me falha a memória, lessing e le clezio são de origem africana...).


Higor 04/09/2022minha estante
Eduardo, primeiramente, eu peço desculpas pelos erros e confusões na resenha: Acabei trocando as datas para me referir a Coetzee e esquecer da maravilhosa Alice Munro.

Com relação às nacionalidades: Lessing nasceu na Ásia, o Irã, e foi para a África, especificamente o Zimbabué, com 6 anos de idade, partindo depois para o Reino Unido com 30 anos, quando começou a escrever, tanto que no ato de recebimento da láurea, é creditada como escritora britânica.

Já Le Clézio nasceu em Nice, França, e numa entrevista para a TLS, confessou nunca ter passado mais que poucos meses em Maurícia, apesar da dupla nacionalidade e da importância em ter o pai nascido lá.

Apesar de serem autores que vivenciaram, importaram-se e debruçaram sobre os problemas sociais que a África sempre sofreu, seja em livros incríveis que tive a oportunidade de ler, como "O sonho mais doce", de Lessing ou "A quarentena", de Le Clézio, eu optei por considerar seus locais de nascimento para minimizar confusões, o que não deu muito certo, hehe.

Feitas as justificativas, agradeço pelo comentário que muito agregou.


edu basílio 04/09/2022minha estante
boa tarde, higor :-) obrigado por todos esses esclarecimentos. um grande abraço!


Jacy.Antunes 05/09/2022minha estante
Ótima resenha. Gostaria de saber quais são os outros laureados que você já leu.


Higor 06/09/2022minha estante
Jacy, meu projeto ?Lendo Nobel? tem a intenção de, em anos decrescentes, ler as obras dos laureados, até porque a Academia não escolhe apenas um livro, mas o conjunto.

Atualmente estou no ano de 2003, com Coetzee, logo, já li algumas coisas posteriores a ele, como Elfriede Jelinek (2004), Harold Pinter (2005), Orhan Pamuk (2006), Doris Lessing (2007), Herta Müller (2009), Mario Vargas Llosa (2010), Alice Munro (2013), Bob Dylan (2016), Kazuo Ishiguro (2017) Olga Tokarczuk (2018), Peter Handke (2019) e Louise Gluck (2020); além disso, já li todos os livros disponíveis no Brasil de Le Clézio (2008), Tomas Tranströmer (2011), Mo Yan (2012), Patrick Modiano (2014), Svetlana Aleksievitch (2015) e Abdulrazak Gurnah (2021).

Lembrando que não me desdobro para procurar livros antigos, raros ou esgotados, mas me prendo ao que está em fácil acesso para compra. Além disso, alguns autores, como o Vargas Llosa, eu já li 16 livros, então consegui entender a justificativa da Academia para sua escolha, por isso passei para outro autor sem completar seus livros, mas volta e meia pego algo dele - tenho, inclusive, 4 livros na fila.


Jacy.Antunes 06/09/2022minha estante
Fantástico. Todas as resenhas estão aqui?


Higor 07/09/2022minha estante
Sim, Jacy, todos os livros lidos estão resenhados. Acontece que eu estou intercalando as leituras do projeto "Lendo Nobel" com um outro projeto, o "1001 livros para ler antes de morrer", então as leituras podem variar.




André Vedder 27/11/2022

Para um Nobel, esperava mais.
Iniciei o livro com uma expectativa enorme devido ao peso de um Nobel na obra do escritor, e talvez por isso tenha me decepcionado durante a leitura.
O autor usa como pano de fundo um período de guerras devido a colonização da África por parte dos alemães, e depois ingleses, nos apresentando vários personagens e as consequências da guerra em suas vidas.
A trama em si é interessante e os aspectos culturais também são um ponto alto na obra, mas a escrita do autor em geral não me cativou e sua narrativa, mesmo com toda tristeza que uma guerra carrega, não foi capaz de me comover.

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Leila 23/11/2023

Sobrevidas, situado em Deutsch-Ostafrika no início do século XX, é um retrato poderoso e multifacetado da vida durante o período colonial alemão na África. A narrativa segue as vidas interligadas de personagens como Khalifa e Asha, que buscam construir uma família, Ilyas, que retorna à cidade após anos de sequestro por tropas coloniais, e Hamza, que, após experiências traumática , luta como parte da Schutztruppe, ao lado dos colonizadores.

Gurnah, habilidosamente, coloca os personagens no centro de uma narrativa que não apenas descreve a violência e a imposição de regras e costumes pelos colonizadores, mas também mergulha nas complexidades das relações humanas sob essas circunstâncias. A tentativa de Khalifa e Asha de terem um filho, as descobertas de Ilyas sobre a tragédia de sua família, e o amor de Hamza por Afiya criam um panorama humano que transcende o contexto histórico.

Ao dar voz aos personagens, o autor destaca não apenas as consequências devastadoras da opressão e do colonialismo, mas também a resiliência e a capacidade de resistência daqueles que vivem sob essas condições. A presença constante do espectro da guerra e a possibilidade de novos conflitos permeiam a narrativa, acrescentando uma camada adicional de tensão e incerteza à história.

O enfoque no período colonial alemão oferece uma perspectiva única e muitas vezes negligenciada da história africana, desafiando as representações convencionais centradas nas potências coloniais mais proeminentes, como a Inglaterra e a França. Gurnah destaca as experiências específicas desse contexto, contribuindo para um entendimento mais completo e nuanciado do impacto do colonialismo no continente.

Enfim, Sobrevidas faz uma importante contribuição à literatura que explora os efeitos do colonialismo na África. Eu gostei bastante da leitura e acho que vale a pena o tempo investido. #ficaadica
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 11/06/2022

Abdulrazak Gurnah - Sobrevidas
Editora Companhia das Letras - 336 Páginas - Tradução de Caetano W. Galindo - Capa de Oga Mendonça - Lançamento: 2022.

Em 2021 o romancista Abdulrazak Gurnah da Tanzânia foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura "por sua compreensão intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes", na definição da Academia Sueca. Gurnah nasceu em 1948 e cresceu na ilha de Zanzibar, chegando na Inglaterra na década de 1960 como refugiado. Ele começou a escrever aos 21 anos de idade em inglês sobre o tema cada vez mais atual, infelizmente, dos refugiados. Entre seus dez romances publicados, os mais famosos são "Paradise" e "Desertion", ambos ainda sem edições em português.

Este seu mais recente lançamento, publicado originalmente em 2020, é o primeiro livro do autor traduzido no Brasil e tem como pano de fundo a história da colonização europeia ao longo do século XX na África Oriental: "Assim era essa parte do mundo na época. Cada pedacinho pertencia aos europeus, ao menos no mapa: British East Africa, Deutsch-Ostafrika, África Oriental Portuguesa, Congo Belge." Em Sobrevidas, o foco está nos efeitos da colonização alemã sobre a população local, sejam eles soldados africanos mercenários, voluntários ou sequestrados, lutando ao lado dos colonizadores ou simplesmente pessoas comuns tentando sobreviver.

A colonização alemã na região conhecida hoje como Tanzânia, Burundi e Ruanda, contou com o apoio da Schutztruppe, um exército de mercenários africanos conhecidos também como askaris, para levar a cabo a missão de "trazer ordem e civilização para este canto do mundo" e preservar a integridade da Deutsch-Ostafrika. Uma tarefa que os askaris cumpriram com extremo rigor, ferozes e impiedosos, aniquilando as populações rebeladas e incendiando seus vilarejos. Outros conflitos foram provocados devido ao início da Primeira Guerra Mundial na Europa, aumentando a tensão entre as tropas coloniais e resultando em maior destruição local.

"A firmeza com que aquelas pessoas se recusavam a se tornar súditos do império da Deutsch-Ostafrika tinha surpreendido os alemães, sobretudo depois do que estes fizeram aos wahehes no sul e aos wachagga e wameru nas montanhas do nordeste. A vitória sobre os maji-majis deixou centenas de milhares de mortos pela fome e muitas outras centenas por ferimentos recebidos em batalha ou por execução pública. Para alguns administradores da Deutsch-Ostafrika o resultado foi considerado inevitável. Essas mortes ocorreriam mais cedo ou mais tarde. Enquanto isso, o império tinha que fazer os africanos sentirem o punho cerrado do poderio alemão para aprenderem a se dobrar obedientes ao jugo da servidão. A cada dia que passava o poderio alemão ia firmando mais aquele jugo no pescoço de seus relutantes súditos. [...] Os alemães eram retardatários na corrida do imperialismo naqueles cantos do mundo mas faziam questão de se estabelecer por um longo tempo e queriam conforto enquanto estivessem por ali. Suas igrejas e seus escritórios com colunatas e fortalezas com ameias eram construídos tanto para possibilitar a vida civilizada quanto para aturdir seus novos súditos e impressionar seus rivais." (pp. 23-4)

A narrativa se divide entre alguns protagonistas, cada um afetado a seu modo pelas guerras coloniais. O fio condutor é Khalifa, um contador contratado pelo mercador Amur Biashara, que "tocava seus negócios como se fossem uma conspiração" em meio aos conflitos e rebeliões; Khalifa "escrevia as cartas, pagava as propinas e ia recolhendo as migalhas de informações que o mercador deixasse cair". Como prêmio por sua atuação, recebe como esposa a sobrinha de Biashara que havia se tornada orfã, Asha Fuadi. Khalifa e Asha se casam em 1907 e ele, desde então, "tentou fazer com que ela o desejasse como ele a desejava".

Já Ilyas, "de risada fácil e modos humildes", chega à cidade com uma carta de apresentação, indicado para trabalhar em uma grande fazenda alemã de sisal, ele fugiu de casa ainda criança e havia perdido totalmente o contato com a família. Ilyas logo se torna amigo de Khalifa e, aconselhado por ele, viaja até o interior somente para descobrir que os pais já haviam morrido há algum tempo e a irmã Afiya vivia em condições de escravidão, decide então trazê-la para a cidade para morar com ele. Tudo parece correr bem para os irmãos Ilya e Afiya, quando ele decide, para surpresa de todos, se alistar na Schutztruppe, por algum tipo de idealismo às avessas.

"Enquanto se vangloriavam com suas histórias e marchavam pelas planícies onde a grande montanha não deixava chover, eles não sabiam que passariam anos lutando em pântanos e montanhas e florestas e savanas, com chuva pesada e estiagens, matando e sendo mortos por exércitos de pessoas sobre as quais nada sabiam: punjabis e sikhs, fantes e acãs e hauçás e iorubás, congos e lubas, todos mercenários que lutavam nas guerras europeias pelos europeus, os alemães com sua Schutztruppe, os ingleses com seus King's African Rifles e Royal West African Frontier Force e batalhões indianos, os belgas com sua Force Publique. Além deles havia sul-africanos, belgas e uma multidão de voluntários de outras nações europeias que achavam que matar era uma aventura e que se sentiam felizes de estar a serviço da grande máquina de conquista do imperialismo. Era um espanto para os askaris ver a grande diversidade de povos de cuja existência nem suspeitavam. A magnitude do que viria não estava clara naqueles primeiros dias da guerra quando eles marchavam para a fronteira, seus oficiais alemães na frente, montados em mulas, suas esposas e filhos alegres atrás da coluna, e de algum modo todos encontravam maneiras de cantar e rir e de participar de demosntrações animadas." (pp. 107-8)

Um dos protagonistas mais interessantes na trama é Hamza, que chega à cidade com um segredo em seu passado, em busca de emprego e segurança, e lá acaba se apaixonando por Afiya que, após a partida do irmão Ilyas para a guerra, morava com o casal Khalifa e Asha. Hamza lembra de sua fase como combatente voluntário na Schutztruppe e sua estranha relação com um oficial alemão do qual era ordenança e que o ensinou a língua alemã para que pudesse ler Schiller, esse interesse e simpatia do oficial por Hamza despertou o ódio de outros oficiais alemães e o tornou alvo de perseguições dos colegas askaris: "Esses alemães, eles gostam de brincar com rapazinhos bonitos, especialmente com os bem-educados como você".

"Naquelas centenas de quilômetros de pesadelo que enfrentaram, Hamza executou toda e qualquer ordem que seu oficial achou possível dar nas circunstâncias limitadas em que viviam, e até onde pôde tentou atender às necessidades dele. Fazia o melhor para não chamar atenção para si próprio. Marchava com a tropa e corria agachado como foi treinado a fazer e disparava sua arma quando precisava mas nunca soube direito se alguma vez acertou alguém. Ele se abaixava e fazia zigue-zagues e berrava como os outros askaris mas disparava contra sombras, evitando os alvos. Por uma sorte milagrosa não teve que se envolver em combates corpo a corpo, e conseguiu não fuzilar nenhum habitante dos vilarejos que eles por vezes recebiam ordens de punir por traição ou por tentar enganá-los. Ele comia a comida roubada como qualquer um deles, via a destruição da terra e se afastava apressado como todos faziam. Vivia aterrorizado desde o momento em que abria os olhos até o nascer do sol, mas às vezes chegava a um estado de exaustão em que não sentia mais medo, e isso sem bravata, sem pose, desconectado do momento e aberto a tudo o que lhe pudesse acontecer. Às vezes caía em desepero." (pp.114-5)

"Sobrevidas" é, antes de mais nada, um romance em estilo clássico e muito bem escrito que vem ajudar a remediar uma das consequências mais tristes da violência do colonialismo, a falta de memória na perspectiva dos que foram colonizados ou dizimados pelo imperialismo.

Sobre o autor: Abdulrazak Gurnah nasceu em 1948, na atual Zanzibar, na costa da Tanzânia. Nos anos 1960, devido à perseguição a cidadãos árabes durante a Revolução de Zanzibar, refugiou-se no Reino Unido, onde vive atualmente. Autor de dez romances – incluindo Paradise (1994), finalista do Booker Prize e do Whitbread Award – e de um livro de contos, foi professor na Universidade de Kent até sua aposentadoria. Em 2021, recebeu o prêmio Nobel de literatura.
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Paulolins 02/11/2022

Uma leitura pra tirar a gente da zona de conforto
Nunca havia lido Abdulrazak, e todas as resenhas são unânimes - história lenta com final corrido.

Concordo e mantenho essa ?unanimidade? - mas talvez isso seja parte da escrita dele, em
um processo que o caminho e a própria caminhada é muito mais importante que o destino final.

Deixo aqui minha recomendação - ler pelo menos uma obra de um Nobel de Literatura segue sendo uma experiência sensacional!
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Valéria Cristina 28/05/2022

Excepcional
O Nobel de Literatura de 2021 relata, neste livro contundente, as consequências da colonização européia na África.

A história de passa na Tanzânia e mostra-nos, primeiro, a atuação alemã e, depois, a inglesa no país

Personagens maravilhosos, em especial o jovem Hamsa que, após uma guerra e muitas privações, procura se estabelecer na cidade de onde fugiu há anos.

Com uma escrita minuciosa e categórica, .Abdulrazak Gurnah nós presenteia com uma obra essencial da literatura africana.

Aguardo ansiosamente, a publicação de outros livros do autor.
Justi 29/05/2022minha estante
Quero ler


Valéria Cristina 29/05/2022minha estante
É ótimo ?




@buenos_livros 18/06/2022

Sobrevidas - Abdulrazak Gurnah ??
?Mas ouça o que eu estou te dizendo: a sorte nunca é permanente. Você nunca vai saber quanto tempo os bons momentos vão durar ou quando eles vão acontecer de novo. A vida é cheia de arrependimentos, e você precisa reconhecer os bons momentos e ser grato por eles e agir com convicção. Corra riscos.?
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. 48/2022
. Sobrevidas (2020)
. Abdulrazak Gurnah ??
. Tradução: Caetano W. Gallindo
. Romance | 333p. | Livro
. @companhiadasletras
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. Daqueles livros que abrem nossa cabeça para culturas e realidades que jamais poderíamos imaginar. Recriando a vida na Tanzânia enquanto ainda colônia alemã no leste africano e usando a Primeira Guerra e a transição para o poder britânico, a história se desenrola em diversas frentes mesclando experiências de uma cultura tribal, vivência de guerra, amizades e amores. Uma ótima leitura do autor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2021.
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Lili 20/08/2022

Romance ambientado na África Oriental Alemã, Deutsch-Ostafrika (Hoje Tanzânia, país de origem do autor, Ruanda e Burandi) durante o início do século XX, obra do último vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, expõe o rastro de sangue do imperialismo europeu, negligenciado nas narrativas do período que costumam nos ser apresentadas, fazendo um recorte do ponto de vista de uma família sobre os efeitos da ocupação alemã (posteriormente inglesa) e das guerras em território africano geradas por nações europeias.

“Depois esses acontecimentos seriam transformados em histórias de um heroísmo absurdo e desinteressado, um assunto secundário diante das grandes tragédias da Europa, mas para os que viveram tudo aquilo foi um tempo em que sua terra se encharcou de sangue e se cobriu de cadáveres.”

Essa família cheia de fissuras e rompimentos eternos pela guerra também é, em grande medida, formada por ela. Khalifa um contador que trabalha para o mercador Amur Biashara casa-se com sua sobrinha, Asha, por sugestão do patrão, os dois tentam, mas não conseguem ter filhos. Nesse tempo de casamento Khalifa conhece Ilyas, homem que após fugir de casa e ser sequestrado por um askari (soldado africano que compõe o exército dos colonizadores alemães), foi resgatado por um alemão que foi bondoso com ele e deu educação, o que o levaria a formar uma visão distorcida sobre como eram os alemães que dominavam sua terra.

Ilyas é convencido por Khalifa a agora liberto, retornar a casa de sua família, recordando da perda dos próprios pais e do tempo que passou longe deles, Ilyas descobre que todos estão mortos, mas sua irmã foi dada a pessoas para que fosse cuidada, mas na realidade Afiya vivia em péssimas condições, maltratada por seus tutores e os filhos deles, sendo resgatada por Ilyas. Entretanto com a primeira guerra chegando aquela visão formada na sua criação o faz se alistar para Schutztruppe e se tornar um askari, destino compartilhado por Hamza, cujo o papel irá gerar um estranhamento no início, mas se mostrará essencial na história.

“Você quer que eu te conte a minha vida como se eu tivesse uma história completa, mas eu tenho fragmentos entrecortados por uns buracos complicados”

Gurnah nos coloca dentro da guerra com Hamza, mas também nos coloca, e eu adoro histórias assim, dentro da vida das pessoas que não estão entre bombardeios, tiros, mas que sentem reflexos, seja em função da angústia sem notícias parentes que foram lutar nela, pelos boatos ou notícias aterrorizantes que chegam até eles ou pelo regime de escassez que se instala em função da guerra. Ele nos conta a vida de quem está tentando sobreviver nesse cotidiano modificado de um país em ruínas.

Outro aspecto que me fez ficar muito atraída pelo livro é como os personagens são construídos de um jeito sóbrio. Quem é majoritariamente bom tem lá suas maldades, até suas monstruosidades que tem as origens mais diversas, quem no geral é um monstro tem sentimentalismo ainda que por coisas muito particulares. Há os monstros puros também, porque sempre há, mas são mais raros assim como no mundo.

Ontem assisti uma entrevista da Andrea Abreu, autora de “Pança de Burro”: “Apesar das personagens não serem pessoas, eu gosto que se pareçam em certa medida com as pessoas […] As personagens, mesmo não sendo pessoas, precisam se parecer com pessoas. E não há nada mais humano que a ambiguidade.”. Definitivamente os personagens de Gurnah são humanos, o que, somado a riqueza histórica e a crítica, torna a leitura altamente recomendável.
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Val 03/11/2022

Obra imensamente humana descrevendo as Sobrevidas
Espontaneamente, seria difícil à maioria das pessoas escolher a leitura de um livro sobre a República Unida da Tanzânia, antigos países africanos Tanganica e Zanzibar, unidos em 1964. Havendo a motivação de um Prêmio Nobel de Literatura, como no meu caso, decidi ler Sobrevidas, do tanzaniano Abdulrazak Gurnah, laureado em 2021. E não me arrependi.
Com um início pesado, farto em nomes e parentescos, a obra vai desenrolando-se como um novelo e revelando a brutal história do retardatário colonialismo alemão na África Oriental nos primórdios do século XX. Numa construção de texto diferenciada, fugindo do óbvio, Gurnah não deixa de nos surpreender com fatos inesperados e que vão transformando agradavelmente os rumos do romance.
A utilização impiedosa dos jovens locais recrutados e treinados para compor batalhões violentos contra seu próprio povo e numa guerra colonial contra invasores ingleses, denuncia a opressora civilização colonialista visando a consolidação de impérios pelo mundo. E os países africanos - antes dos asiáticos - sem exceção, foram os que mais sofreram esse massacre humano e cultural brutal, mudando os destinos de grande parte de suas populações. Não sem antes exaurir suas riquezas e a força de seus povos.
Tudo isto está presente neste robusto enredo histórico muito bem trabalhado literariamente por Gurnah, tornando-se uma obra-denúncia de grande força. Em meio ao caos gerado pelos alemães às famílias tanzanianas à época, aspectos humanitários são mesclados aos abusos e à violência. Esta, também presente nos costumes educacionais familiares, marca forte presença na obra.
Em duas frases, no terço inicial do livro, Gurnah expõe a essência deste seu trabalho. Diz o general alemão a um serviçal nativo: “Por isso eu estou aqui — para tomar posse do que é nosso por direito, por sermos mais fortes. Nós estamos lidando com um povo atrasado e selvagem e a única forma de dominá-lo é incutir terror nas pessoas e em seus inúteis sultões e produzir obediência na base da pancada.”. E, nesse tom, os alemães perderam a colônia para os ingleses em violentas batalhas de conquista. A derrota valeu a queda do kaiser na Alemanha, na mesma época em que na Rússia o czar Nicolau Romanov II e sua família eram assassinados para a ascensão do proletariado ao poder.
Mas, a partir do término da guerra e sob a relativa paz do domínio inglês, os habitantes locais começam a retomar ou a reconstruir suas vidas e o autor volta a dar relevo aos personagens principais.
São basicamente quatro protagonistas que se revezam nos capítulos, criando um liame literário fundamental na estrutura do romance. E, na narração de suas vidas, Gurnah desabrocha seu escrito original, simples e objetivo, dando um ritmo muito agradável à leitura. Revela os traços culturais do povo tanzaniano, suas mazelas, costumes e sofrimento com as atrozes intervenções coloniais no cotidiano desse povo. Da história de cada personagem germina basicamente um livro, os quais vão constituir, no terço final da obra, mas um precioso livro, tamanha a riqueza de fatos e narrativas.
Apesar da violência entranhada no texto, trechos de história, lirismo, ingenuidade, força de vontade, coragem, amor e fidelidade tornam a obra imensamente humana a descrever um genocídio e todas as Sobrevidas.
Valdemir Martins
27.10.2022


site: https://contracapaladob.blogspot.com/
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afarialima 25/09/2022

Livro imperdível para quem é apaixonada por história, política internacional e ignorante sobre a trajetória dos países africanos. Nesse livro temos contato com a uma parte da história colonial da Tanzânia, inicialmente uma colônia alemã que passou para os britânicos, após a derrota da Alemanha na 1a GM.
É incrível aprender e revoltante ter contato com esse pedaço da história mundial, como os conflitos entre os grandes impérios da época se espalhavam nas colônias.
Um livro que traz com muita sensibilidade a manifestação da violência e terror da colonização europeia, guerra e violência são vivenciadas por aqueles que são donos de fato daquela terra.
Alê | @alexandrejjr 25/09/2022minha estante
Ainda não vi resenha ou comentário negativo sobre esse livro. Ele tem subido cada vez mais na minha lista de desejados e o teu comentário, Amanda, é mais um a impulsionar ele.




Carolina 03/08/2022

Uma história maravilhosa sobre a vida sob dominação colonial
Uma história bem escrita, envolvente e arrebatadora que acompanham famílias que se destróem e se constróem no período de dominação colonial na África
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