Paulo 31/07/2022
Nossa capacidade de atenção está menor que a do peixinho dourado...
O livro, escrito pelo ambientalista francês Michel Desmurget, é leitura obrigatória para os pais nos tempos atuais. É uma obra que deveria ser considerada de utilidade pública pelo alerta que faz quanto ao uso excessivo de eletrônicos pelas crianças e adolescentes.
É dividido em 3 partes, a primeira delas intitulada “Nativos digitais”. Sabe aquele chavão de que as crianças de hoje já nascem sabendo usar os tablets e smartphones, mexendo os dedinhos? E aquele outro de que as novas gerações já nascem dominando a tecnologia?
Com base em diversos estudos, o autor desmistifica o senso comum: na verdade, as crianças sabem somente acessar programas básicos pouco instrutivos para recreação, tais como aplicativos de streaming, redes sociais, videogames e sites comerciais.
Elas desconhecem, por outro lado, funções básicas de informática como configurar um software de proteção, estabelecer uma conexão remota ou escrever um programa simples em qualquer linguagem computacional. E o que é pior: não sabem analisar criticamente as informações que recebem indiscriminadamente na internet. Não são, de forma alguma, experts em informática como propagado geralmente, mas apenas usuários comuns de programas extremamente simples e intuitivos.
Um dos grandes problemas do uso das telas é que as crianças e adolescentes estão trocando grande parte do tempo de interação real por meio de brincadeiras, esportes e leituras para acessarem os dispositivos eletrônicos. Esse tempo não voltará jamais e poderá ser tarde demais para aprender posteriormente a pensar, socializar, desenvolver o corpo e dominar a língua.
Na segunda parte do livro, denominada “Utilizações”, o autor apresenta dicas práticas, apoiadas em estudos científicos, sobre como reduzir o tempo de utilização das telas pelas crianças e adolescentes, tais como retirar as telas dos quartos de dormir e retardar ao máximo possível o momento em que terão seus gadgets pessoais.
É fundamental ainda estabelecer regras persuasivas sobre o tempo de uso dos eletrônicos, explicando às crianças porque a exposição de telas faz mal, ao invés de simplesmente impor comandos autoritários.
O autor recomenda a completa abstenção do uso de telas até os 6 anos de idade. Dos 6 aos 18, ele sugere o máximo de 1h por dia, computando-se aí todas as telas (tv, internet, celular e videogame).
A terceira parte da obra, intitulada “Impactos”, é a mais extensa e surpreendente.
Amparado em diversos estudos científicos recentes, o autor demonstra que há íntima relação entre o tempo consumido pelas crianças nas telas digitais e a redução das notas escolares. Ademais, revela que a adoção de tecnologias da informação e comunicação pelas escolas (o uso de computadores e mídias diversas na sala de aula) também ocasiona a queda no desempenho dos alunos.
O conceito de “vídeo déficit” é bastante interessante: o cérebro humano é bem mais sensível à presença humana efetiva do que a uma representação em vídeo.
Os estudos científicos atuais comprovam as consequências negativas do uso da tecnologia pelas crianças. Quanto mais telas, menos interação intrafamiliar. As crianças aprendem muito mais palavras novas, enriquecendo o vocabulário, por meio de livros do que por meio de telas. Outro mito desmascarado diz respeito a jogar videogames: eles não aumentam a concentração, mas sim a dispersão e irritabilidade das crianças e adolescentes.
O autor apresenta diversos estudos que demonstram que o uso indiscriminado das telas pelas crianças e adolescentes afeta negativamente a saúde, em especial a qualidade e quantidade do sono, o aumento do sedentarismo e da obesidade.
Outrossim, a exposição das crianças e adolescentes a contéudo relacionado ao tabaco, álcool, sexo e violência é uma constante nas diversas mídias eletrônicas e contribuí para desvios no comportamento dos jovens.
Dentre os vários exemplos e pesquisas mencionadas pelo autor, destaca-se a que conclui que as capacidades de atenção da humanidade estão no mais baixo nível nos últimos quinze anos e seriam inferiores à do peixinho dourado.
Uma boa obra fundamentada em estudos científicos, escrita em tom alarmista, fundamental para entendermos os tempos atuais.