arilopes 22/06/2022
Pássaro e Serpente
Inicialmente, eu gostaria de dizer que o início da trama desse livro tem um tom de fanfic ? embora eu não seja leitor de fanfic ?, assim, acredito que era esse "empecilho" que estava me incomodando quando iniciei a leitura. Além disso, percebi que a primeira parte do livro é muito corrida, os acontecimentos não tem uma forma cadenciada, é como se a autora tivesse atropelado os capítulos iniciais para culminar no "pontapé" inicial da trama. Da mesma maneira, as cenas, na sua maioria, também seguem esse ritmo mais acelerado, o que converge para que o leitor ? no caso, eu ? não se prenda muito à trama que está se desenvolvendo naquele momento. E isso me incomoda de certa forma, porque faz com que eu não consiga me conectar com os personagens ou ao ambiente, acredito que tais pontos foram os responsáveis pela minha demora em imergir na narrativa.
Assim, não direi que a escrita de Mahurin é ruim ou falha em algum ponto, ela apenas segue um fluxo de ideias diferentes do que estou habituado. É mais acelerada, direta e sucinta. Logo no início, me lembrou muito a escrita de Holly Black ? autora do box O povo do ar e co-autora de As Crônicas de Spiderwick. Todavia, achei incrível a forma como Mahurin trabalhou os pontos de vista dos personagens principais, Lou e Reid, e ainda mais em 1ª pessoa, não me recordo de já ter lido algo nesse viés. Mahurin, você foi inédita nesse quesito! Outro ponto que não posso deixar de mencionar, é como alguns personagens são um pouco genéricos, por exemplo, percebi isso quando a personagem Morgane entra na trama, não existe nada de atrativo ou que evoque emoções nas falas dela, é tão comum que chega a ser previsível. E o fato dela chamar Lou de "amada", torna ainda mais enfadonho.
Ao que cabe aos personagens principais, gostei da pegada enemies to lovers e de como os caminhos deles se encontraram: através do matrimônio! Lou é uma personagem que ganha o leitor rapidamente sem muitos esforços, pois ela é engraçada, altruísta, destemida, empática, ousada, obstinada e, sem nenhuma ofensa, meio amalucada. Lou possui a personalidade de protagonistas que comumente vemos em outros livros de ficção do gênero. Porém, quero chamar atenção para o Reid, que é bem diferente do mocinho que estamos acostumados, é inegável que ele é uma pessoa agressiva e que tenta lidar com esse seu lado durante toda a trama, embora isso me deixa apreensivo, é um dos personagens que mais vejo potencial para desenvolvimento ? torcendo que Mahurin trabalhe isso muito bem ?, pois Reid é aquele personagem que foi alienado, que só conhece uma verdade absoluta e que devido a tantos anos de mentiras suplantou qualquer sentimento empático. É fato que sua devoção e sua fé inabalável, faz com que ele despreze, julgue e não entenda as semelhantes de Lou, porém isso começa a ser mudado, com pequenos tratamentos, dúvidas internas e pensamentos dele ? só o fato de ele parar de usar termos como "coisa" e "criatura" para fazer menção às bruxas já demonstra avanços! Além disso, gostei da dicotomia entre Lou e Reid e a inversão de papéis ao longo da trama ? quando e se você ler, vai entender ?, alimenta ainda mais a ideia de ambos entenderem os dois lados da moeda! Por fim, só gostaria de dizer que sempre achava engraçado e genuíno a forma como Lou recorria ao deus de Reid para fazer pedidos. E eu amo o apelido que Reid deu a Lou: "minha pequena herege"!
Dessarte, quero ressaltar que fiquei surpreendido com o ódio que eu encontrei logo no início dessa história, principalmente, contra as mulheres. A narrativa elucida as barbaridades que a Igreja fez durante a Inquisição e de como o governo de homens tiranos e ignorantes podem dizimar milhares. A história de Lou e Reid, tirando toda a magia da ficção, pode ter sido verossímil em tempos não tão distantes do nosso. Por isso, quero concluir com o seguinte pensamento de Nelson Mandela ? que, coincidentemente, ilustra a relação de Lou e Reid ?, "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar".
p.s.: depois de Lou, o Ansel é o melhor personagem!
"A natureza demanda equilíbrio."
"Há coisas que não podem ser mudadas com palavras. Algumas coisas têm que ser vistas. Têm que ser sentidas."
"Há tempo de sofrer e ficar de luto, e tempo de seguir adiante."