Sabrina758 11/11/2022
Indo além de um romance aquileano, "Fica entre nós" vai falar sobre a pressão e os podres da indústria musical, fandom e, claro, adolescência, autoconhecimento e sexualidade.
Ruben é um dos integrantes mais talentosos da Saturday, que foi formada em um tipo de acampamento musical. Mas, devido à narrativa que a empresa cria para a banda e os integrantes, ele precisa suprimir e abrir mão de muitas coisas, como lugar de destaque nos vocais e sua aparência. Além disso, é proibido de assumir que é gay, ainda que seja seguro da sua sexualidade há muitos anos. Tem uma relação muito complicada com os pais, especialmente sua mãe, que atua muito mais como crítica e algoz do que aliada e lugar de afeto.
Zach, melhor amigo de Ruben e integrante da Saturday, sempre sonhou em compor e cantar pop rock, mas como isso não se encaixa na agenda da banda, a empresa não permite que ele, nem os outros, participem do processo criativo, ainda que dêem esperanças. Zach passa por uma reviravolta quando começa a se sentir atraído por Ruben, engatando nesse romance proibido, podendo colocar toda a fama que construíram em risco.
A relação entre eles é bastante turbulenta, pois Zach está começando a se descobrir bissexual e, por sua autoestima baixa, ele não consegue tomar decisões por conta própria, sempre pensando no que a outra pessoa gostaria que ele dissesse/fizesse. Por conta disso, senti que muitos capítulos se tornaram repetitivos e cansativos, rodando em círculo na mesma temática e prejudicando o desenvolvimento da narrativa. Senti que as personagens mudavam de opinião várias vezes no mesmo capítulo, o que acaba deixando o leitor confuso e impaciente.
Jon e Angel, os outros dois integrantes da banda e amigos de Ruben e Zach, poderiam ter tido mais destaque nessa história. Apesar de terem um papel fundamental na vida dos protagonistas, senti que sabíamos muito pouco sobre a vida deles de fato. Angel, por exemplo, tem problemas com drogas e fica chapado diversas vezes, até chegando a sofrer um acidente muito grave.
Devido à grande pressão, não só da fama, mas por parte da empresa, que controla todos os passos dos meninos, ele acaba usando entorpecentes para fugir da realidade. Essa temática é muito séria e senti que não foi bem desenvolvida no livro. Após o acidente, ele vai para o hospital e passa um mês na reabilitação e é isso. Nada é falado sobre, a não ser os comentários de preocupação dos colegas.
Jon é ainda mais esquecido nessa narrativa. Filho do empresário, acaba sendo o que mais ganha destaque nas performances e solos. É forçado a se comportar de uma maneira que não representa nada quem ele é, assim como os outros. Vemos um racismo velado e estigmas sociais, que não foi muito explorado no livro. O jovem negro que precisa se comportar de forma sexualizada. No caso de Angel, o asiático que precisa aparentar inocente e fofo.
A cumplicidade, cuidado e amor que sentem um pelos outros torna a leitura um abraço quentinho em diversos momentos. O relacionamento de Zach e Ruben também, ainda que nem tudo seja flores, é bonito e puro como eles são lar um para o outro. Apesar de passarem por tantos perrengues e enfrentar o preconceito juntos, eles têm o apoio dos amigos, família e boa parte dos fãs, fazendo com que seja possível suportar e se rebelar em um momento crucial.
Definitivamente, não é o melhor livro LGBTQIAP+ que já li. Como relatei acima, a quantidade de páginas não foi bem aproveitada e eu gostaria que algumas coisinhas tivessem sido exploradas melhor, e as temáticas sensíveis poderiam ter sido tocadas com mais cautela.