Nem sinal de asas

Nem sinal de asas Marcela Dantés




Resenhas - Nem sinal de asas


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 16/01/2021

Marcela Dantés - Nem sinal de asas
Editora Patuá - 232 Páginas - Capa de Leonardo Lott - Lançamento: 2020.

O romance de estreia de Marcela Dantés tem como eixo central a morte de Anja Santiago, uma personagem rara que passou pela vida com uma "imensa vontade de ser invisível" no apartamento novecentos e dois do Edifício Hotel Lucas. Foram anos marcados por "uma eterna sucessão de solidões" e tendo como único companheiro o gato Rinoceronte, lento e desastrado, com quem ela compartilhava da mesma aversão por gente, "preferia o silêncio de uma noite escura". Morreu sozinha em um prédio com dezenas de pessoas e continuou sozinha até o seu corpo ser descoberto, cinco anos depois.

Pode parecer um argumento improvável, contudo, como ocorre tantas vezes, a realidade é mais surpreendente do que a ficção, uma vez que o romance foi inspirado em um caso real de uma mulher encontrada mumificada no próprio apartamento, cinco anos após sua morte, notícia do jornal “El País”, em 14 de julho de 2017, sobre fato acontecido na cidade de Culleredo (Espanha). Maria del Rosario Otero Vieites morreu solitária como sempre viveu e, o mais espantoso, ninguém notou a sua falta.

Em Nem sinal de asas, Anja Santiago, é a filha única de Dulce e Francisco. A mãe "branca como a neve enquanto cai" e o pai, "preto como chocolate amargo". Dulce esperava que a mistura dos dois resultasse em uma cor parda, um tom até bonito que não deixaria dúvidas de se tratar de uma pessoa branca, ainda que constantemente bronzeada. Era isso que ela esperava, mas idealizava mesmo uma criança branquíssima como ela" e, no entanto, "nasceu Anja, pretinha feito o pai." Dulce tentou remediar esta frustração passando algodão embebido em suco de limão no pequeno corpo da filha o que provocou queimaduras no bebê e manchas que acompanharam Anja por toda a vida, claro que ninguém nunca soube a origem da dermatose em uma pele que, obviamente, nunca embranqueceu.

"Já na própria iminente morte, Anja não se importa com nada disso. Ela simplesmente vai deixar de ser Anja Santiago, uma mulher um tanto calada que odeia o próprio nome. Fora Dulce que o escolhera, antes mesmo de ela nascer. Na verdade, tinha acontecido antes que se soubesse grávida: ela sempre desejara uma filha, uma menina que chamaria Anja. Dizia, orgulhosa da sua sagacidade e certa da inveja alheia, que era o feminino de anjo, uma história tão espalhafatosa quanto ridícula, todo mundo sabe que anjos não têm sexo. E é justamente por isso, porque odeia o seu nome e suas razões, que nas raras ocasiões em que alguém lhe pergunta, Anja diz que se chama Ângela." (p. 14)

Marcela Dantés demonstra muita segurança e criatividade com as soluções narrativas voltadas para um tema tão pesado. Com uma técnica que destaca aquilo que é absolutamente essencial para o entendimento da história, ela alterna parágrafos curtos em terceira pessoa com trechos narrados em primeira pessoa pelo porteiro Ramiro, uma espécie de vilão "humanizado" neste romance. O resultado é uma extraordinária sensação de intimidade e transparência com a história que está sendo contada e a protagonista, mesmo nas situações mais tristes o leitor fica encantado com a beleza do texto.

"Ela tinha poucos anos quando as brincadeiras começaram, as pessoas que diziam que seu nome era esquisito, que seu nome era engraçado, as pessoas que riam muito quando o seu nome era dito logo em primeiro lugar na chamada da escola e, depois, quando não havia escola, no jardim do prédio quando um amigo qualquer quisesse gritar por ela sempre tão bem escondida na hora do esconde-esconde e depois e todas as vezes que ela aparecia nos desenhos infantis com asas sendo que ninguém mais tinha asas e ela também não tinha, ela já tinha olhado as costas no espelho muitas e muitas vezes e não havia nem sinal de asas, crescidas ou em broto. E um dia uma versão adolescente dessa menina escutou Ângela e achou que fosse com ela, mas depois viu que não, que Ângela era uma mulher tão bonita e sorridente, uma adulta real de cabelos vermelhos e batom vermelho e dentes bonitos e caminhava como se soubesse aonde ia (e ia pra dentro do prédio em que ela morava) e desde então, pra quem era novo em sua vida e não sabia da história estúpida das asas, ela dizia – sorridente e como se soubesse aonde ia ­ – que o seu nome era Ângela" (pp. 75 e 76)

Um livro sobre solidão que incomoda e faz pensar, principalmente nesta época de pandemia em que forçosamente precisamos enfrentar nossos próprios fantasmas. Anja Santiago está morta, mas nós precisamos continuar.
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Aelita Lear 26/01/2022

Voa, Anja
Nem sinal de asas é um muito sensível e bem escrito, não é a toa que ficou entre os finalistas do Jabuti. É difícil falar da história em si, pois ela inteira é marcante em diversos pontos, mas tenho que salientar alguns que mexeram bastante comigo. A forma com que a personagem se desfaz das coisas, sabendo seu destino, é muito triste e me deixou emocionada demais. Super recomendo!
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MãeLiteratura 13/06/2023

Belo livro!
Um livro muito bem escrito e diferente.

A história é melancólica e original. A escrita da Marcela é otima e tem um humor sutil e delicado, que muito me agradou.

Anja, que não gosta do seu nome e prefere ser chamada de Ângela tem uma história de vida singular. Filha de um negro com uma branca, ainda bebê, sua mãe passa em seu corpo limão, na esperança de clareá-la. Desencadeia uma reação com muitas bolhas e uma aversão a este fruto, por toda vida.

O pai morre de repente, quando Anja é bem criança ainda e gera um grande trauma na mãe. Ela sempre repete que é perigoso se apegar.

Não quero dar spoilers, mas fiquei muito surpresa ao constatar (depois da leitura) que o livro foi inspirador num fato real, embora este pareça completamente surreal.

Temos a narração feita pela portagonista e por Ramiro, porteiro do prédio, onde Anja viveu por muitos anos. Predio este que originalmente foi um hotel.

Os personagens secundários são interessantes e bem construídos: Adriano, o vizinho amigo desde criança. Afonso, o menino vizinho. Helena a amiga da faculdade. Destaque para Rinoceronte, o gato!

Os capítulos curtos dão um respiro à trama densa. Capa linda, edição bonita e caprichada da Patuá.

No final fica a reflexão do quanto poderíamos viver com plenitude e deslumbramento se assim fosse permitido e autorizado, desde a infância. Quando temos asas para sonhar e voar...

Recomendo muito!

site: https://www.maeliteratura.com/2023/06/12livrospara2023-junho-nem-sinal-de-asas.html
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Dani Pontes 06/01/2023

Anja
A Anja me angustiou... ao mesmo tempo q queria dar colo e carinho tive vontade de chacoalhar a personagem e gritar com ela!!
Um livro difícil de ler, pesado e sofrido mas, ao mesmo tempo, tão fácil, q não dá vontade de largar!!
Só leiam!!
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Talita | @gosteilogoindico 09/01/2023

Minhas impressões sobre a leitura
- Primeiro contato com a escrita de Marcela e pude perceber a genialidade e a potência em sua escrita;
- Anja me deixou com uma dor no peito, as suas palavras no meu pensamento, uma protagonista marcante, os seus anseios serão difíceis de esquecer;
- Uma leitura pesada, com gat!lh0s, e que me deixou sem palavras;
- Um livro para aqueles que apreciam uma leitura de tirar o fôlego e marcante (devorei esse livro em menos de 48 horas... suas palavras foram digeridas aos poucos).
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Luiza 20/01/2021

Recomendo
A história de Anja é triste, mas contada de uma forma bonita e gostosa de ler. Me fez refletir sobre o que deixamos de viver por medo de sofrer.
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Sol Belchior 12/04/2023

Recomendo!
"Anja gosta de gente que fala sem parar, sem tomar ar entre uma frase e outra, gente que se comporta como se não tivesse pulmões. Perto de gente assim, como esse porteiro Ramiro, ela não precisa se preocupar em falar, em sorrir, em explicar nada, já que essas pessoas só têm tempo e fôlego para prestar atenção em si próprias."

Livro devorado em quatro dias. Ainda em choque com a potência dessa narrativa.
Vale muito a leitura!
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Agnes.Camargo 26/11/2021

Anja Santiago está morta
Mas não só por 5 anos, mumificada, morta, mortinha.
Anja Santiago passou a vida morrendo, não como morremos todos nós, morrendo de fato, esperando pela morte. A dela e de quem a cercava.
Anja Santiago trabalhava com a morte, conhecia o cheiro da morte, a cor, sentia a presença e quando a morte começa a ser a de Anja até o gosto da morte ela pôde sentir.

E por incrível que pareça, ?Nem sinal de asas? está longe de ser um terror ou suspense. É um livro forte, sim, mas de fácil e gostosa leitura que pode te levar - como me levou - a inúmeras reflexões.

Sim, estamos todos morrendo desde o primeiro dia, o que difere é a forma como vamos usar nosso tempo enquanto isso. Não quero diagnosticar a protagonista, mas, sim, lhe faltou vida.
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Myla 10/04/2022

Já chorei com filme, série, comercial... Mas com um livro foi a primeira vez. Um nó na garganta me acompanhou das primeiras páginas até a última.

A história foi inspirada em Maria del Rosário Otero Vieites, que faleceu sozinha no apartamento em que morava, em Culleredo, na Espanha. Seu corpo, mumificado, só foi descoberto cinco anos depois.

A vida, às vezes, tem ares de ficção.

Anja vai morrer, ?se não for hoje, amanhã sem dúvidas?. A morte não é spoiler do livro nem da vida. É um fato que sabemos desde o início, do livro e da vida. O que importa é o que acontece entre o começo e o fim, os detalhes, sentidos e significados.
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luizhenrique.dourado.1 23/05/2022

Romance literário com a força do incômodo. Estilo simples de potência e provocação.
Um livro de cinco estrelas, cujo brilho já começa pelo título e pela capa forte, impactantes. O romance parte de uma premissa bem interessante, a personagem principal é encontrada morta em seu apartamento após incríveis e surreais cinco anos do seu último suspiro, sem que ninguém notasse. O desenrolar da trama, por sua vez, não possui grandes altos e baixos, o que poderia implicar numa narrativa pesada, lenta. Mas é exatamente o oposto, pois a autora trabalha para que cada página seja provocativa, reveladora. Uma das coisas que mais gosto na arte e, principalmente na literatura, é a capacidade do incômodo, de nos tirar do conforto, o que "Nem sinal de Asas" faz praticamente a todo momento. Conta-se quem foi Anja, a protagonista morta, seu passado de vida, suas dores, mas sem que se tente justificar didaticamente o seu destino infeliz. A vida dela embora triste, é muito interessante do ponto de vista do leitor. Tudo tem um peso que puxa a pessoa à frente do livro, não há nada em excesso. Anja é o que é, e o destino também. Os personagens que gravitam Anja todos muito bem construídos, com uma funcionalidade própria e importantes para o desenvolvimento da história, mesmo que, por vezes, cruéis, se mostram com refinadas camadas, demasiadamente humanos. A grande força do romance, porém, está no estilo. A escrita não precisa ser rebuscada, pomposa, para ser linda. Há diversas passagens que dá vontade de iluminar a folha, Marcela nos brinda com a escolha de belíssimas figuras de linguagem. Cada frase, percebe-se que foi minuciosamente esculpida. E há um flerte, bem singelo mesmo, com o surreal, que produz no leitor um sentimento de ironia, perspicácia, um sorrisinho de canto de boca, dando ainda mais cores, mesmo que sombrias, ao livro. A história de Anja é pesada, ela, por muitas vezes, não responde, como deveria se esperar de uma protagonista clássica dos manuais de escrita, mas sua defesa é exatamente se manter em inércia, um movimento sempre constante e uniforme de fuga, sem se lamentar, sem brigar com o destino que ela vê se aproximando. E quando não se evita nem o pior dos destinos, a própria morte, descobre-se uma protagonista forte e marcante, que ficará por muito tempo na cabeça do leitor. Uma das melhores leituras de 2022, um romance com aquela estampa literária que a alçou com grande justiça à finalista do Prêmio Jabuti e Prêmio São Paulo.
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Thais 26/06/2022

Uma leitura rápida, sensível, clara, sobre as várias solidões possíveis que podem caber em uma vida. Gostei muito.
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Tim 16/09/2022

Um livro dubio e real
Como desejei que tivesse um final diferente, e que tudo fosse um pensamento intrusivo consciente, um delírio.

Foi difícil terminar essa leitura, e mesmo assim não sei se terminei de verdade. O que aconteceu com Anja é o maior dos meus pesadelos, solidão, quase como um desejo profundo de chamar a atenção.

Uma escrita rápida, sem a necessidade de esconder o futuro que todo mundo já sabe, vamos mesmo pincelar a vida de Anja e entender a verdade?

Uma vida sofrida, e assim como eu, ela conheceu o racismo em casa, vindo daqueles que deviam a amar.

Anja tentou se fazer presente, mas parecia que uma força maior lhe fazia não ser lembrada, mesmo quando ela tentava ser a novidade, que todos esqueceram e ninguém esforçava para lembrar.

A escrita me incomodou um pouco com o fato de enfatizar que ela era uma mulher negra, “o tempo todo”, como se isso aumentasse o sofrimento, aumentava.

Mas é mais uma história, em que somos mortos, onde não temos amor, carinho? Nem mesmo na ficção.

A história é baseada em um caso real, vale lembrar.

Marcela, parece gosta de animais, eles sempre têm um papel importante em suas estórias. Sua escrita possui cuidado e consistência. Queria saber mais de outros personagens, a menina que visita o apartamento de Anja para uma entrevista, do seu amigo Adriano, mais sobre Helena.

Queria saber ainda menos do porteiro.

Anja é uma mulher negra, que se muda para um apartamento. Seu passado é sombrio e triste, sua vida apesar de parecer muitas vezes comum, é carregada de cor e feridas.

Não falarei mais sobre estória: Ela possui spoilers até mesmo em uma única frase, e a experiência só é completa com o mistério pré-leitura.

Marcela Dantes é minha professora na pós-graduação e me sinto honrado de conhecê-la.
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Mih 29/11/2022

Sozinha na vida, sozinha na morte.
Anja, desde de muito cedo conheceu a solidão. Cresceu esperando por algo que nunca chegava, se acomodou na dor de ser quem era. Alguma felicidade ela conheceu, mas pouco durou pra longa jornada que poderia ter tido. A solidão te abraça, mas se você não afrouxar os braços, ela nunca mais te solta.
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Jess.Goulart 17/12/2022

Quando você se apega, eles morrem
Solidão em sua mais pura forma. O que leva alguém a se excluir completamente do mundo? Alguém assim, tão sozinho, é capaz de desfrutrar da vida?

Anja é uma personagem profunda, é incapaz acompanhar sua história sem se sentir simpatizado com a personagem. Ela é complexa, simples, humana, real, tão única quanto comum. E sua vida é isso: sua vida. Uma série de acontecimentos seguidos, de um dia ao outro.

Marcela Dantés constrói um cotidiano envolvente em sua simplicidade, permeado de uma solidão sofrida e poética, onde cada pequeno detalhe faz a diferença no final.

Não quero falar muito da história para não estragar a surpresa, mas é basicamente isso: acompanhamos a história dessa mulher e nos compadecemos de suas dores, sentimos o coração apertado com as escolhas difíceis que ela faz, nos perguntamos como alguém é capaz de ser tão independente e solitário... mesmo sabendo a resposta. Mesmo que seja difícil. Mesmo que seja a duras penas. Mesmo com um preço alto a pagar.

Anja é aquela senhora da porta ao lado, todo mundo conhece uma. Marcela Dantés é cirúrgica em sua personagem. Ao mesmo tempo, Anja é única, apaixonante, empática, do tipo de personagem que queremos guardar num potinho e proteger.
E os outros personagens são igualmente incríveis, embora igualmente críveis, reais.

Leiam, apenas leiam.
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footsal 05/01/2023

?em paz, você vai, a gente segue?
aquela avaliação da amazon que diz ?um romance que chega a doer de tão bonito, e que aperta o coração de tão triste? é verdade.

marcela dantés foi gigante.
Luu 05/01/2023minha estante
NO AGUARDO




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