Weiiirdo 01/04/2023
Leia por sua conta e risco
Esta é uma trilogia confusa. O único fio em que posso pensar para ligar todos os três enredos é o escapismo, então diria que esse é o tema das histórias. Primeiro, vemos como a ficção pode ser sedutora, depois assistimos os personagens deixarem-se levar por essa sedução, mas, enfim, acompanhamos como descobrem que há negatividade em qualquer mundo, até nos inventados. Fica a interessante mensagem de que toda realidade é fantástica e ambígua, estamos apenas acostumados demais com a nossa para notar e viciados na tendência de querer o que não temos enquanto subestimamos o que já temos.
Logo se vê que é um livro que desperta muitas reflexões, mas não está livre de defeitos. Apesar de a história ter um significado e acontecimentos interessantes, falta lógica e o "plot armor" prejudica demais o impacto do que se lê, provocando apatia, como na milésima morte de um guerreiro em Dragon Ball.
Os personagens são cheios de características bastante humanas e até os vilões ficaram mais palpáveis. Os protagonistas inclusive tiveram quase todos desenvolvimento notável e foram ativos em suas histórias. Pena que esses mesmos protagonistas não têm nenhum carisma; alguns chegam até a fazer coisas repugnantes, que precisariam de uma consequência e de uma sinalização bem vermelha da narrativa, mas a narrativa deixa passar batido, como se fosse normal e aceitável, como se não houvesse prejuízo causado em pessoas e relacionamentos por uma atitude X, Y... E isso leva ao fato curioso de que todo secundário é mil vezes mais cativante do que qualquer um dos protagonistas, algo bem triste para o leitor e para qualquer autor que se desse conta do fato, porque mostra que existe a capacidade de escrever bons personagens, só não se soube escrever justamente os que mais precisavam; o mesmo ocorre com os relacionamentos. Aliás, um dos protagonistas é completamente desnecessário na trilogia inteira, um desperdício de palavras, paciência e neurônios que tinham de ser usados em várias lacunas.
O ritmo é bom, fluido, não tive preguiça para ler no meu tempo, pelo menos não por culpa do livro. Mas (sempre mas!) a autora não devia ter feito um mundo baseado na Idade Média se não pretendia respeitar algumas de suas "regras" mais básicas, criando cenas ridículas, apressadas e prejudiciais à nota na resenha.
A narração, como no segundo livro da trilogia, é o pior aspecto, e nem sei se é culpa da autora ou da editora/tradução. A experiência aqui só é boa dependendo do momento. Por um lado, há aspectos emocionantes, empolgantes, intensos, inesperados, originais e viciantes, mas o que encontrei em maioria foram erros de tradução, formatação, gramática, revisão, amadorismo na escrita, repetitividade, sintaxe atroz, pobreza vocabular e até uma questão essencial não resolvida no enredo, algo que não podia ter ficado aberto.
Entretanto, o que subiu a nota deste livro foi, como sempre, o talento da autora com a ambientação. Os cenários são belos e vivos, têm uma nitidez cativante e inspiradora, e a autora deixa pistas sutis para seu enredo em vários cantos discretos.