Vitoria.Milliole 08/02/2022
Um pesadelo não é nada além de um sonho que ficou doente.
Esse é mais um caso de um livro que resenhei na empolgação do momento, pela expectativa que coloquei, mas, depois que passou, me senti na obrigação de reavaliar.
Ler Amigo Imaginário foi uma experiência única. Terror é um gênero que eu amo nas telas, mas, na literatura, as experiências que tive foram meio decepcionantes. Mas persisti, talvez eu só estivesse lendo os livros errados, né? Foram tão poucos! Pois bem, desde que vi pela primeira vez a capa, o título e a sinopse desse livro ele me despertou a atenção. Quando finalmente pude comprar, passou na frente dos meus 1927172288 livros não lidos.
Então, comecei. E que começo! Cristopher, um menininho de oito anos muito bonzinho, e sua mãe, Kate, se mudam para Mill Grove para fugir de Jerry, o ex marido abusivo de Kate. Lá, Cristopher entra num bosque e desaparece por seis dias. Depois, volta sem lembrar de nada do que aconteceu nesse tempo. Mas ele volta... diferente. Antes disléxico, agora devora livros. Antes com dificuldade em matemática, agora é o melhor aluno. Mas, é claro, essa é só a ponta do iceberg. Ele também começa a construir uma casa na árvore até o natal, porque alguém disse que, caso contrário, todos irão morrer no natal.
Bom, até aí eu não disse nada muito além da sinopse. Mas é que é difícil fugir disso sem dar spoilers. É um livro beeeeem denso.
O terror dele é bem original, mas, como eu disse, amo o gênero. Estou habituada. Não me assustou. Mas estaria mentindo se dissesse que não me surpreendeu. O suspense, o sobrenatural como foi inserido, essa forma de explorar o real e o "imaginário". E o que o imaginário significava... Cara, realmente não consigo passar um centésimo da essência do livro.
Tudo foi feito com maestria. Começa com um desaparecimento. Um menino virando um gênio. Então ele ouve e fala com alguém que só ele vê. O moço bonzinho. A sorte da sua mãe vira. Ele constrói uma casa na árvore. Seu desenho animado preferido começa a falar com ele. Ele começa a contaminar as pessoas ao seu redor. A cidade inteira enlouquece. Religião e atmosfera apocalíptica são inseridas, mas foge de todos os clichês.
Stephen Chbosky mescla o suspense psicológico com a fantasia de uma forma que o resultado é um terror psicológico incrível. A primeira parte é deliciosamente fluida, te mantém preso na leitura, mas é só a construção dos personagens. Lá pra página 100 o negócio começa a ficar frenético. E dá uma acalmada. E fica frenético de novo. E... bom, é aí que começa o problema. O livro tinha tudo pra ser perfeito. Ou melhor, quase tudo. Exceto pelas longas 770 páginas, das quais pelo menos umas 200 não haviam necessidade. Os fatos muitas vezes pareciam se repetir, se tornava monótono. Então, uma reviravolta e eu novamente não conseguia desgrudar. Mas então... monótono novamente. Parece que qualquer volta ou reviravolta terminava no mesmo lugar.
É um livro bom. É uma história complexa. O final surpreende e fica martelando na cabeça. É incrível a forma como o autor escreveu um terror que não é sobre assustar, mas sobre amar e perdoar. Se tivesse menos páginas e umas voltas a menos, seria perfeito.
Não deixo de recomendar a leitura, ainda vale muito a experiência. E lembre-se: "um pesadelo não é nada além de um sonho que ficou doente."