pussyuyu 14/05/2024
"que maravilha seria isso se não estivéssemos mortos."
Demorei dias para terminar esse livro, mas não por que ele era ruim, mas a leitura dele simplesmente requeria tempo. para refletir, para processar tudo aquilo que estava escrito. eu, como uma pessoa que não busca nada na vida além da morte, me questionei a todo momento o porquê daquilo tudo. por que eles tentavam a tudo custo viver? não me entenda mal. eu recebi a mensagem do livro. mas quero destacar como a luta deles para continuarem vivos me impactou ao se comparar com a minha luta inexistente, já que de tudo que mais quero, não viver é uma delas. ao longo da leitura me vi me perguntando que tipo de pessoa eu seria na cordilheira. "nunca fomos homens melhores do que quando estávamos na montanha." será que há uma salvação para mim? será que em uma situação extrema como essa, eu poderia de fato ser uma boa pessoa, uma pessoa útil, ou uma pessoa amável? "Quando se diz por aí: ?Veja os sobreviventes, como eles foram solidários na montanha?, eu retruco que não, que éramos pessoas normais, porque todos levávamos dentro de nós essa solidariedade. Bem no fundo do coração. Quando se perde tudo, você acaba chegando ao coração nu, onde o ser humano é capaz de entregar a si mesmo pelo outro. Quando vi a morte se aproxima das chapas metálicas da fuselagem, as camadas superficiais se desfazem e pessoas comuns são capazes de realizar os gestos mais extraordinários." há alguma solidariedade desse tipo dentro de mim? esse livro é inconsolável. não tem outra definição para ele. acho que o pico dessa sensação inconsolável foi a avalanche. a verdadeira tragédia não foi quando o avião se chocou contra a montanha, não foi quando eles precisaram se alimentar dos seus amigos. foi quando eles perderam algo quando achavam que não poderiam perder mais nada além da própria vida. me doeu ler cada relato da avalanche como se um parente próximo tivesse estado lá também. "e então vem aquela avalanche e nos mata de forma tão cruel. pois a avalanche arrancou pedaços até mesmo de nós, os que sobrevivemos a ela." a personalidade de numa foi algo que me marcou bastante também. "numa é o último que morre e o primeiro que se sacrifica." você não tem noção do peso disso. quando nando fala "por que voltei, e ainda volto, tantas vezes? ali estão minha mãe e minha irmã. e ali está a cicatriz que trago na testa." é algo que também me fez refletir por dias. o ambiente de amor e a conexão que se criou na fuselagem é algo que sempre vai estar em algum lugar da minha mente. é algo irreal. de outro mundo. os humanos são mesmos capazes disso? sei que são, pois eles estarem vivos é a prova disso, mas ainda é algo que me faz pensar. quando nando disse "se o inferno existe, ele não é feito de fogo: é escuro e feito de gelo." eu pude entender a intensidade da monstruosidade daquilo tudo, o que me deixa mais emocionada quando penso no laço que se desenvolveu em meio a tudo isso.
"fomos vítimas ou heróis? abençoados ou desgraçados? por que isso aconteceu conosco? significa alguma coisa?" não há nenhum dia em que eu não faça essa mesma pergunta a mim mesma. por que ainda estou vivendo essa vida? por que isso aconteceu? significa alguma coisa?