Perdid numa página 11/05/2024
?Penso que não somos cegos, penso que estamos cegos?
Em um dia comum no trânsito, um homem, de repente, para de ver, em sua frente só há branco, branco como o leite. Assim se iniciou a epidemia do mal branco, houve o primeiro cego, depois o oftalmologista do primeiro cego, um paciente que estava na sala de espera do consultório em que o primeiro cego foi atendido e assim por diante.
A primeira alternativa do governo foi instalar uma quarentena, levaram os cegos e os possíveis contagiados para um antigo manicômio vigiado pelo exército. Os deixaram lá, a viverem cegos que eram, com comida de vez em quando e dignidade de vez em nunca.
Dentro do manicômio logo de início foi tudo virando sujeira, os cegos não sabiam se limpar, não sabiam se trocar, não tinham como ter vergonhas e delicadeza pois ninguém os via. Mas, na verdade, alguém os via. A mulher do médico, por um incrível milagre, acabou por não cegar, pelo contrário, fingiu estar cega para ficar com o marido e foi a única que pode testemunhar o que o mundo virou após a cegueira.
Instalou-se o caos, brigas por comida, por água, todos se perderam de suas casas, de suas famílias, o dinheiro não importa, os carros não importam, nada mais importa a não ser a sobrevivência. Os seres humanos acabam por viverem como animais, estariam todos cegos por não verem, ou por não quererem ver? Este, além de outros, é um questionamento que este livro traz, além de refletir uma mudança drástica como sociedade, também te faz sentir pânico, nojo, medo e ansiedade.
Está história contada sem nomes, sem pontuação convencional, só contada. Se lê meio que adivinhando quem está falando, quem está perguntando, quem está respondendo. Afinal, como mais poderia ser narrado um diálogo de cegos? Já pensou como seria ficar cego? E se o mundo todo cegasse, como seria?
Se não podemos viver como humanos, pelo menos que não vivamos como animais.